Vacinas da Covid-19 injetam milhões nas contas das farmacêuticas
As empresas responsáveis pelas quatro vacinas aprovadas na UE melhoraram todas os seus resultados no primeiro semestre. Para algumas, a vacina foi mesmo a principal fonte de receita.
As primeiras vacinas contra a Covid-19 surgiram mais rápido do que seria de esperar à luz do passado. Para bem da Humanidade, em vez de uma década de desenvolvimento, várias empresas farmacêuticas foram capazes de produzir, aprovar e fabricar em massa diversas vacinas no espaço de poucos meses desde a sequenciação genética do vírus descoberto em Whuan, China.
Na União Europeia, a vacinação arrancou em simultâneo nos 27 Estados-membros no final de dezembro de 2020. E existem quatro vacinas já aprovadas de emergência pela Agência Europeia do Medicamento: Comirnaty (do consórcio BioNTech/Pfizer), Vaxzevria (da AstraZeneca), Spikevax (da Moderna) e a vacina de dose única da Janssen, subsidiária do grupo Johnson&Johnson. Menos de um ano depois, Portugal já injetou pelo menos uma dose destas vacinas em mais de 7,3 milhões de pessoas, 71% da população.
Agora, as cinco farmacêuticas envolvidas nessas quatro vacinas começam a colher os lucros de um ano de trabalho. A análise aos resultados do primeiro semestre de 2021 põe a descoberto melhorias significativas no desempenho financeiro que apresentaram aos investidores. O escrutínio é possível porque as cinco empresas estão cotadas em bolsa, pelo que são obrigadas a publicar trimestralmente esta informação.
De prejuízos a lucros no semestre
A última a apresentar publicamente os resultados foi a alemã BioNTech. O relatório mostra que a empresa passou de um prejuízo de 141,7 milhões de euros nos primeiros seis meses de 2020 para um lucro de 3,9 mil milhões de euros até junho de 2021. As receitas totais da companhia passaram de 69,4 milhões para cerca de 7,36 mil milhões no semestre, de acordo com a informação não auditada apresentada pela companhia. Nem tudo se deve a esta vacina. Porém, a empresa admite que ela foi a grande impulsionadora das suas contas.
Em conjunto com a norte-americana Pfizer, as duas empresas já forneceram a mais de 100 países um total de mil milhões de doses de vacina anti-Covid. Planeiam fornecer um total de 2,2 mil milhões de doses no ano completo de 2021 e têm contratos para mais de mil milhões de doses adicionais para 2022 em diante. Neste contexto, os resultados da Pfizer também registaram melhorias expressivas.
Recentemente, a empresa reportou um lucro de 10,4 mil milhões de dólares nos primeiros seis meses de 2021, um crescimento de 53% face ao semestre homólogo do ano passado. O negócio das vacinas superou largamente aquele que era, até então, a principal rubrica de receita da empresa: os tratamentos oncológicos.
Desta feita, no semestre, a Pfizer gerou receitas de 9,2 mil milhões de dólares com a vacina da Covid-19, o que compara com as receitas de 1,2 mil milhões registadas no mesmo semestre de 2020, altura em que ainda não havia esta vacina. Deste montante, a vacina em concreto contribuiu com 7,8 mil milhões em vendas diretas e indiretas. O desempenho positivo levou mesmo a Pfizer a rever em alta a estimativa de receitas com a vacina para o ano de 2021: 33,5 mil milhões, ao invés dos 26 mil milhões que previa anteriormente.
A vacina da Covid-19 também amparou as contas da norte-americana Moderna. Nos primeiros seis meses de 2020, a empresa tinha perdido 241 milhões de dólares. No primeiro semestre de 2021, contudo, obteve um resultado líquido positivo de 4 mil milhões. No campo das receitas, se, até aqui, a Moderna não tinha gerado qualquer rendimento com vendas de produtos, acabou por obter 5,93 mil milhões de dólares com a venda da vacina entre 1 de janeiro e 30 de junho de 2021.
Uma gota no oceano
Dos EUA para o Reino Unido, a britânica AstraZeneca desenvolveu uma vacina contra a Covid-19 em conjunto com a Universidade de Oxford. É uma vacina que tem sido alvo de algumas restrições, incluindo em Portugal, depois das preocupações suscitadas por casos extremamente raros de coágulos sanguíneos.
Os lucros da AstraZeneca na primeira metade do ano subiram quase 38%, para 2,49 mil milhões de dólares, assumindo um lucro por ação de 1,61 dólares reportado pela companhia, multiplicado por quase 1,55 mil milhões de ações, que compara com o lucro por ação de 1,17 dólares reportado no primeiro semestre de 2020. Mas a vacina da Covid-19 teve pouco peso nas contas da empresa, a avaliar pelas declarações financeiras do grupo: contribuiu com 1,17 mil milhões de dólares para as receitas totais de 15,54 mil milhões.
Quanto à Johnson&Johnson, que produziu a única vacina que só exige uma dose, e que foi distribuída pela subsidiária Janssen, os lucros semestrais da empresa cresceram 32,4%, para 12,5 mil milhões de dólares. Mas a vacina da Covid-19 também foi uma gota no oceano do grupo. No conjunto do semestre, a empresa registou vendas de 264 milhões de dólares com a vacina.
Estes resultados surgem numa altura em que se discute a administração de uma terceira dose em alguns países, incluindo em Portugal (ou uma segunda dose, no caso da vacina da Janssen). Além disso, no início deste mês, o jornal Financial Times noticiou que a Pfizer e a Moderna aumentaram o preço das suas vacinas contra a Covid-19. O preço de uma dose de vacina da Pfizer terá aumentado de 15,50 euros para 19,50 euros, enquanto o preço de uma dose da vacina da Moderna terá subido para 21,48 euros, face aos anteriores 19 euros.
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