Resultado das eleições deixa Alemanha num impasse

Resultados dão vitória aos sociais-democratas, com uma curta vantagem sobre a CDU/CSU, que regista o pior resultado de sempre. Verdes passam a terceira maior força política

Os resultados oficiais preliminares dão ao SPD a vitória nas eleições parlamentares alemãs, com 25,7% dos votos e 206 deputados eleitos. O partido liderado por Olaf Scholz consegue assim interromper o ciclo de quatro escrutínios seguidos em que a união entre a CDU e a CSU foi sempre a mais votada. Com 24,1%, os democratas-cristãos registam o pior resultado de sempre e ficam-se pelos 196 deputados. Mas podem, mesmo assim, vir a formar governo.

A noite também sorriu aos Verdes, embora não tanto quanto desejavam, com o partido liderado por Annalena Baerbock a saltar para o terceiro lugar, passando de 8,9% em 2007 para 14,8% nestas eleições, que lhe dão 118 deputados. Quem também consegue um excelente resultado são os liberais do FDP, que aumentam a votação de 10,7% para 11,5%, elegendo 92 parlamentares para o Bundestag.

As sondagens à boca das urnas mostram que foi sobretudo entre os jovens e os novos votantes que estes dois partidos mais conquistaram terreno, enquanto as gerações mais velhas preferiram as forças tradicionais. São também eles que têm a chave do próximo governo, que terá forçosamente de reunir o apoio de três partidos para formar uma maioria parlamentar. A última vez que isso aconteceu na Alemanha foi logo após a Segunda Guerra Mundial.

O resultado eleitoral deixa o país num impasse, com SPD e CDU/CSU a quererem governar e a disputarem nas próximas semanas e meses o apoio de Verdes e FDP.

Após serem conhecidos as primeiras projeções e os líderes terem falado nas respetivas sedes de campanha, reuniram-se no domingo à noite para um debate transmitido pela ZDF e a ARD, onde todos disseram querer um acordo rápido, de preferência até ao Natal, mas sem que as duas forças políticas que vão decidir para que lado cai a liderança do Governo — Verdes de FDP — tenham tornado claro com quem se pretendem juntar, apesar de cobiçadas por Olaf Scholz (SPD) e Armin Laschet (CDU).

Os moderadores bem insistiram, mas nem Christian Lindner (FDP) nem Annalena Baerbock (Verdes) quiseram abrir o jogo. “Não vou começar as negociações num debate televisivo”, atirou o líder dos liberais, embora reconhecendo que as políticas que defende estão mais próximas da CDU. Os dois aproveitaram para deixar clara a sua importância e as suas prioridades nas conversações que se vão seguir.

Esta noite mostrou de forma muito clara que os eleitores querem os Verdes e a sua política no governo”, sublinhou Baerbock, que antes tinha assumido responsabilidade por o partido não ter alcançado um resultado mais robusto, apesar do significativo crescimento face aos 8,9% conseguidos há quatro anos. A líder dos Verdes voltou a defender a necessidade de um forte programa de investimento público, sem os constrangimentos do travão orçamental, que determina que o défice estrutural não pode ser superior a 0,35% do PIB. E, claro, uma agenda ambiciosa de digitalização e neutralidade carbónica.

Aqueles dois últimos pontos são a única consonância relevante com o FDP. O líder dos liberais não quer aumentos de impostos, nem um alívio nas restrições orçamentais ou um gigantesco pacote de investimento público. Pelo contrário, quer menor carga fiscal e medidas amigas das empresas.

Ficou evidente que o mais difícil será talvez conciliar as posições destes dois partidos, que serão decisivos para haver coligação, já que sociais-democratas e democratas-cristões não querem repetir a fórmula dos últimos anos. O líder dos liberais, Christian Lindner, sugeriu mesmo que as primeiras conversações fossem entre o seu partido e os Verdes.

Mesmo ficando em segundo, Armin Lashet quer suceder a Angela Merkel. “Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para formar um governo federal sob a liderança da CDU/CSU”, garantiu no debate. Daí que tenha defendido que uma coligação entre a CDU/CSU, os Verdes e a FDP seria mais natural do que uma combinação destes últimos com o SPD. Ficar no executivo é também crucial para Markus Söder, o líder da CSU, que no próximo ano vai a eleições na “sua” Baviera.

Olaf Sholz, atual ministro das Finanças e líder do SPD, afirmou que “os resultados dão um mandato muito claro ao SPD” para formar governo. Mas como o que conta são as negociações, fez questão de salientar o que aproxima os sociais-democartas dos Verdes em matéria ambiental — “as metas são as mesmas, é uma questão de discutir como lá chegar” — e no investimento público.

O candidato tem ainda a seu favor o facto de as sondagens apontarem-no como o preferido para ocupar a cadeira de Angela Merkel. Segundo um inquérito do Forschungsgruppe Wahlen para a estação de televisão ZDF Olaf Scholz é o preferido para suceder a Merkel, com 48% contra 24% de Armin Laschet. O SPD é também o preferido para liderar o próximo governo (55%), muito acima da União (CDU/CSU) com 36%.

Aquilo em que todos os líderes dos quatro partidos mais votados concordam é na necessidade de chegar rapidamente a um acordo. Olaf Sholz garantiu que “vai tudo fazer para que as negociações terminem antes do Natal” e Angela Merkel não tenha de voltar a fazer a mensagem de Ano Novo ao país. Mas com a necessidade de uma coligação a três, tudo pode acontecer.

Em cima da mesa estão sobretudo duas combinações de partidos. A coligação semáforo, que junta SPD, Verdes e FDP, que conseguiria 416 lugares no Bundestag, ou a coligação Jamaica, com os cristãos-democratas no lugar dos sociais-democratas, que teria 416 deputados.

Além da hecatombe da CDU/CSU, que caiu 8,8 pontos, dos 32,9% para os 24,1%, a terceira maior de sempre na história eleitoral do país, os outros derrotados da noite foram os partidos da extrema-direita e extrema-esquerda. A Alternativa para a Alemanha (AfD) viu a votação recuar de 12,6% para 10,3%, embora alargando a influência no Leste da Alemanha, ficando com 83 deputados num hemiciclo que terá 735.

Pior resultado teve a esquerda do Die Linke, com um trambolhão de 9,2% para 4,9%. Apesar de não ter chegado aos 5% nas listas nacionais do partido, o mínimo para ter representação no Bundestag, o facto de terem eleito três deputados pelos círculos locais permite-lhes assegurar essa representação, ficando com 39.

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