Purificar hidrogénio ou isolar edifícios com cascas de limão. Estas ideias valeram prémios a duas startups portuguesas

  • Capital Verde
  • 6 Outubro 2021

As startups portuguesas ALBEDO e Amnis Pura ganharam o primeiro e o terceiro prémio, respetivamente, do Cleantech Camp 2021. Os criadores dos projetos explicam como é que surgiram estas ideias.

Foram mais de 90 as ideias de negócio que, este ano, se candidataram para fazer parte da sexta edição do Cleantech Camp, um programa de empreendedorismo ibérico dedicado a tecnologias na área da energia limpa.
Entre todos os candidatos, apenas 15 projetos vindos de Espanha, Portugal, França, Suécia, Itália, Finlândia e Ucrânia foram selecionados para seguirem a formação disponibilizada pelo programa, entre abril e julho deste ano. Desses, apenas três conseguiram um lugar no pódio dos vencedores, no qual se destacaram duas start-ups portuguesas – a ALBEDO e a Amnis Pura.

A ALBEDO foi a vencedora do primeiro prémio, no valor de 20 mil euros, depois de apresentar um projeto que visa combater a ineficiência energética dos edifícios através da utilização de resíduos cítricos para material de isolamento de base biológica no setor da construção. Laura Lorenzo, criadora da ALBEDO, contou ao Capital Verde que a ideia para esta invenção surgiu durante o confinamento e depois disso pôs mãos à obra.

“Durante o confinamento, passei muitas horas à frente de uma janela virada para o quintal da minha casa e vi os limões a crescer. Foi esta observação que me fez perceber que, apesar das temperaturas altas, exposição solar e falta de irrigação, os limões eram perfeitos e a casca de limão poderia funcionar como um material de isolamento natural”, disse.

A startup pode recolher resíduos cítricos de várias fontes, como “municípios, cooperativas de produção de citrinos, da indústria do sumo de fruta, do desperdício de citrinos e das cascas de máquinas de sumo de laranja de supermercados, hotéis, aeroportos e restaurantes

Já a Amnis Pura, fundada como spinoff na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, desenvolveu uma tecnologia de purificação de gases, entre os quais o hidrogénio, para uma vasta gama de indústrias. “[O projeto] com base na tecnologia de Pressure Swing Adsorption, pode ser visto como um conjunto de colunas ligadas entre si através de um sistema de válvulas. As colunas têm um material adsorvente e é este que faz a separação seletiva de determinados gases, atuando como um filtro”, explicou Frederico Relvas, empreendedor da ideia.

No entanto, foi a melhoria do material adsorvente e a criação de um sistema de controlo de processo inovador que, quando combinados, permitiram que a performance da Amnis Pura fosse 15% superior à das empresas concorrentes, o que lhe garantiu o terceiro lugar no Cleantech Camp 2021 e um prémio de cinco mil euros.
Miguel Carreiro, responsável pelo Cleantech Camp Portugal acrescentou que o objetivo deste programa é “capacitar os empreendedores a desenvolverem as suas ideias de negócio e projetos, para que sejam futuras start-ups de referência no setor da energia”.

As vantagens da passagem pelo Cleantech Camp

O Cleantech Camp oferece às start-ups selecionadas três semanas de aulas online e duas semanas para o desenvolvimento dos seus projetos. A formação é dada por especialistas da indústria no campo das energias limpas e empreendedorismo, e conta, ainda, com mentores que, além de ajudarem as equipas participantes ao longo do programa, também as deixam com um modelo de negócio sólido.

“As formações ajudaram-nos bastante a estruturar melhor o nosso plano de negócios de acordo com aquilo que realmente pretendemos fazer. Agora temos uma base sólida e uma estratégia bem definida e isso é muito importante”, disse Frederico Relvas.

Além do que ganhou com as formações, a Amnis Pura recebeu, ainda, a oportunidade de desenvolver um piloto com três parceiros do programa – a PRIO, Naturgy e Enagás. “Isso mostra que há muito interesse de mercado na solução que apresentam”, acrescentou Miguel Carreiro.

Laura Lorenzo chegou mesmo a enumerar duas mais valias que a ALBEDO conseguiu retirar da experiência: “A primeira coisa é que somos mais sólidos como startup do que antes porque aprendemos muito. A segunda é que esta viagem não termina aqui: construí várias ligações com mentores e professores e, como vencedora, continuarei a receber o apoio do CleanTech Camp”.

O responsável pelo programa em Portugal revelou, ainda, que o projeto de Laura Lorenzo também vai desenvolver um piloto: “Um dos aspetos mais interessantes neste projeto da Laura é a originalidade da ideia. É uma ideia inovadora que levou a que a CRH, uma das parceiras do programa, quisesse desenvolver um piloto com a ALBEDO”.

Quando questionado sobre o destino do prémio que recebeu, o empreendedor da Amnis Pura confessou que os cinco mil euros que receberam lhes dão “mais alguma folga” e permitem antecipar algumas compras. “Quem sabe antecipar uma nova contratação, veremos!”, lançou.

Já os 20 mil euros recebidos pela ALBEDO terão um destino diferente, com vista a uma nova ideia de Laura Lorenzo: “O valor será totalmente investido para cobrir parte dos custos de desenvolvimento da segunda geração de ALBEDO, à base de espuma”.

“Esperamos que este prémio ajude nesta fase inicial dos projetos e sirva como validação do potencial das soluções desenvolvidas. Estes vencedores também terão contribuições em géneros dos nossos knowledge partners, onde poderão optar por ter apoio em temas legais, propriedade legal ou captação de fundos públicos. Esperamos que estas ferramentas os ajudem a avançar com o projeto e com os desafios iniciais que encontrarão”, concluiu Miguel Carreiro.

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