FMI alerta que “permanece uma incerteza considerável” sobre a inflação
Disrupções prolongadas na oferta, choques nos preços do imobiliário e das matérias-primas, compromissos de despesa de longo prazo e um desancorar das expectativas de inflação são a base da incerteza.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou esta quarta-feira que “permanece uma incerteza considerável” acerca da inflação, dada a natureza desconhecida da recuperação económica face à pandemia de Covid-19, de acordo com um artigo publicado esta quarta-feira.
“Dada a natureza desconhecida da recuperação, permanece uma incerteza considerável, particularmente relacionada com a avaliação do abrandamento económico“, pode ler-se no segundo capítulo analítico das Perspetivas Económicas Mundiais do FMI, divulgado esta quarta-feira, cujo título é “Receios na inflação”.
Segundo o FMI, “disrupções prolongadas na oferta, choques nos preços do imobiliário e das matérias-primas, compromissos de despesa de longo prazo e um desancorar das expectativas de inflação podem levar a uma inflação significativamente maior do que o projetado“.
No entanto, apesar dos alertas, o FMI mantém que “as expectativas de longo prazo para a inflação permaneceram relativamente ancoradas até agora, com poucas provas de que as recentes medidas de política excecionais tenham desancorado essas expectativas“.
“Olhando para a frente, a inflação deverá ter o seu pico nos últimos meses de 2021, esperando-se que volte a níveis pré-pandémicos a meio de 2022, tanto para economias avançadas como mercados emergentes, e com os riscos ascendentes“, pode ler-se no texto publicado esta quarta-feira pelo FMI.
O cenário base do FMI estabelece que, após o pico no final de 2021, de 3,6%, a inflação nas economias avançadas “irá baixar para 2% em meados de 2022”.
No texto, a instituição liderada por Kristalina Georgieva refere vários fatores que podem influenciar o comportamento da inflação, como por exemplo a libertação das poupanças acumuladas durante a pandemia de covid-19.
“A libertação das poupanças em excesso acumuladas durante a pandemia pode fomentar ainda mais o consumo privado“, lê-se no texto, que também alerta que, “de uma perspetiva macroeconómica, um crescimento sustentado da inflação nas economias avançadas que leve a uma retirada não antecipada da acomodação monetária poderia perturbar os mercados financeiros”.
O FMI alerta ainda que “a inflação alta tenderia também a prejudicar aqueles que dependem primariamente de rendimentos do trabalho (geralmente indivíduos de baixos rendimentos), mas também poderia beneficiar devedores, prejudicando credores“.
Para a instituição sediada em Washington, os decisores políticos devem “estar prontos para agir e, mais importante, assegurar que os modelos monetários estão implementados, incluindo para gatilhos que requeiram ação”.
O FMI defende que uma comunicação “clara e contingente” por parte dos bancos centrais das economias avançadas “é chave durante períodos de normalização de políticas”, tal como um “plano bem comunicado para uma saída gradual da política monetária excecional e do apoio à liquidez”.
Os decisores políticos devem ainda estar entre “atuar pacientemente para apoiar a recuperação e, ao mesmo tempo, estar prontos para atuar rapidamente caso as expectativas de inflação deem sinais de desancorar”.
O fundo alerta ainda para a heterogeneidade entre países face à inflação, devendo as políticas ser implementadas “à medida das vulnerabilidades particulares e fases do ciclo económico”.
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