Os portugueses mostram grande preocupação com a pobreza ou os problemas ambientais, como as alterações climáticas, sobreuso dos recursos naturais ou poluição da água.
Pela primeira vez, em 2021 Portugal foi incluído num inquérito mundial de sustentabilidade que revelará as perceções e atitudes dos consumidores dos portugueses.
“Em relação aos efeitos negativos da pandemia os portugueses declaram-se abaixo da média mundial, ou seja, são menos os portugueses que consideram ter sido afetados ou muito afetados pela pandemia. Por outro lado, têm uma grande preocupação com a pobreza ou com os problemas ambientais, como as alterações climáticas, o sobreuso dos recursos naturais e a poluição da água”, revela Luís Rochartre Álvares, Partner da NBI, em antecipação da apresentação do estudo e do que pode ser esperado do lado português.
Os dados estão compilados no inquérito ‘Healthy & Sustainable Living’ (H&SL), que reúne a opinião de consumidores em 30 países nos diferentes continentes, e que serão divulgados esta terça-feira em Lisboa pela consultora portuguesa NBI – Natural Business Intelligence e a multinacional GlobeScan.
Ao todo foram inquiridos 1.000 cidadãos portugueses para este survey até agora inédito no nosso país, contando o H&SL nesta sua edição de 2021 com o patrocínio da AGEAS, da EDP e da Abreu Advogados e com o apoio da Associação Portuguesa de Management e da Sair da Casca.
Entre vários outros temas abordados pelo inquérito, o ‘Health & Sustainable Living’ inclui diagnósticos referentes a temas como o efeito da pandemia da Covid-19, o grau de preocupação face aos diferentes desafios globais, a confiança face ao governo, media e empresas, os comportamentos e estilos de vida face ao consumo sustentável e as preocupações e perceções dos portugueses no que respeita à alimentação.
Este inquérito é o mais extensivo a nível mundial na aferição das perceções e comportamentos dos cidadãos no que toca às preocupações ambientais, económicas e sociais – como a escolha de produtos locais, ou de empresas certificadas – e barreiras respeitantes à adoção de uma vida mais saudável e sustentável – como o preço ou a acessibilidade, tendo sido concebido para ajudar as diferentes organizações (ONG’s, governos, marcas, etc.) a compreenderem melhor as mentalidades e comportamentos dos cidadãos.
O que levou a NBI – Natural Business Intelligence a estabelecer parceria com a multinacional GlobeScan?
Estabelecemos esta parceria com a GlobeScan por acreditarmos que o estudo Health & Living Sustainable Report aportará valor para as empresas e outras instituições portuguesas. A GlobeScan é a empresa líder mundial no que se refere à produção de conteúdos no que diz respeito à sustentabilidade. Tem um prestígio firmado pelo seu trabalho em torno da relação com stakeholders com as grandes empresas multinacionais, organizações não governamentais e agências multilaterais. Quando a escolhemos para esta parceria entendemos que seria a mais vantajosa para os resultados que pretendíamos obter.
A parceria é apenas para este estudo ou estende-se a outras iniciativas?
Por enquanto o acordo foi firmado para este estudo, que terá um caráter anual. Assim, a partir da edição de 2022 já poderemos começar a aferir a evolução dos consumidores portugueses em relação a todas as vertentes e dimensões identificadas por este survey, e que são muitas.
Em breve vamos ficar a saber pela primeira vez como os consumidores portugueses percecionam os temas associados a um modelo de vida sustentável e saudável. Qual a importância deste retrato, para o país e para as empresas?
Será fundamental para entender quais são as perceções, aspirações e sobretudo quais as barreiras à concretização das escolhas por parte dos consumidores. Estes resultados poderão ser utilizados para orientar as políticas públicas, bem como para direcionar a estratégia das empresas.
Ter estas informações ajudará na tomada de decisão por parte das empresas em vários setores de atividade? De que forma?
Sim, acredito que os resultados deste estudo podem ajudar na tomada de decisão em empresas de vários setores, como na agricultura e indústrias transformadoras, para mencionar alguns, e especialmente em produtos de grande consumo (FMCG). Temos assistido a um aumento substancial da procura dos consumidores por produtos e serviços sustentáveis e saudáveis, bem como a um aumento da oferta por parte das empresas. Acredito que, para lá das tendências gerais, a questão da oferta das empresas se tem baseado em conhecimento específico da procura dos seus produtos e serviços. A característica única deste estudo é que, pela primeira vez, se foi ouvir diretamente uma amostra nacional, sem o enviesamento de um produto ou serviço em especial. Assim, as empresas vão poder desenvolver estratégias mais alinhadas com as aspirações dos consumidores e sobretudo estratégias que tentam ultrapassar ou minimizar as barreiras que são apontadas como constrangimentos ao cumprimento da vontade dos portugueses.
É possível antecipar já algumas das conclusões do survey ‘Healthy & Sustainable Living’ que pela primeira vez incluirá o nosso país num inquérito global que integra 30 outros países?
As leituras dos resultados são múltiplas, a riqueza das questões e o detalhe que se pode extrair dos dados, levam a que não se consigam isolar conclusões de uma forma imediata. Posso, contudo, adiantar que os portugueses estão alinhados com as tendências mundiais em muitas questões, mas não deixam também de ter uma posição singular em relação a outras.
Apesar da pandemia, a vontade de ser mais sustentável persistiu, concluiu o relatório do ano passado. Mas os consumidores precisam de ajuda na hora de fazer escolhas. Estas mesmas conclusões são esperadas este ano?
Sem dúvida. Temos assistido a um crescimento da ação em prol da sustentabilidade, ao contrário do que se poderia esperar. Os governos, as empresas e os consumidores ativaram de uma forma substancial as estratégias para a sustentabilidade. Os planos de recuperação pós pandemia da União Europeia são uma das evidências de que os decisores já sabem que não existem opções alternativas, que não seja prosseguir o caminho da sustentabilidade. O mesmo se verifica com as empresas e com as opções dos consumidores. Tudo leva a crer que vivemos um momento de viragem em relação à necessária transição ecológica e climática.
Como foi feita a operacionalização deste inquérito em Portugal, a 1000 pessoas?
A GlobeScan assegurou a operacionalização direta através de um seu parceiro global para todos estes estudos. Os respondentes foram inquiridos entre junho e julho de 2021, através de um painel online devidamente estratificado para constituir uma amostra adequada e significativa da realidade portuguesa.
Que mensagens transmitiram estes inquiridos portugueses?
É muito relevante conhecer efetivamente o que pensam os portugueses, a partir de uma sondagem dirigida especificamente a estas questões. Por exemplo, em relação aos efeitos negativos da pandemia os portugueses declaram-se abaixo da média mundial, ou seja, são menos os portugueses que consideram ter sido afetados ou muito afetados pela pandemia. Por outro lado, têm uma grande preocupação com a pobreza ou com os problemas ambientais, como as alterações climáticas, o sobreuso dos recursos naturais e a poluição da água.
O que destaca nas iniciativas que a NBI tem vindo a desenvolver em 2021 e quais os planos que tem para 2022?
No decorrer de 2021 têm sido muitos os projetos que a NBI tem desenvolvido com os seus clientes e parceiros, especialmente nas áreas de agroecologia – que alia o conhecimento prático dos agricultores ao conhecimento científico – e na área do capital natural e serviços dos ecossistemas. Em agroecologia destacamos os projetos com a Sogrape, Grupo Esporão e Quinta de Ventozelo, no setor dos vinhos, o projeto com a Nogam (produção de nozes) e com o Grupo José Pedro Barreira (cortiça e gado). Na área do capital natural destacamos os projetos com a Câmara Municipal de Alvaiázere, com quem desenvolvemos uma estratégia de base natural para o desenvolvimento socioeconómico do município, que levou à publicação de um artigo na revista científica de referência Landscape and Urban Planning. Ou com a Câmara Municipal de Arouca, onde desenvolvemos um modelo inovador de apoio à decisão territorial e ao desenvolvimento local, com base na gestão de serviços dos ecossistemas. No âmbito deste projeto, alcançaram um marco histórico com a obtenção do primeiro certificado de serviços dos ecossistemas florestais reconhecido pela norma internacional FSC em Portugal.
Para 2022 estamos a desenvolver uma metodologia na área da integração do capital natural e dos serviços dos ecossistemas na contabilidade das empresas, como forma de incluir o desempenho social e ambiental no reporte financeiro. A partir do momento em que o valor da natureza “entrar nas contas” vai passar a ser tida em conta em mais (se não todas) as decisões de gestão. Além desta abordagem, também estamos atualmente a desenvolver um projeto na área dos bancos de créditos – de carbono e capital natural. Contamos apresentá-lo ao mercado no próximo ano.
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