Qual o contributo de Portugal para a COP26? Governo, BCSD Portugal e Ikea respondem

  • Capital Verde
  • 29 Outubro 2021

"O meu desejo para esta COP26 é que comecemos explicar que ser suficiente não é ter menos qualidade de vida. Se não o fizermos, não iremos lá chegar", disse a secretária de Estado do Ambiente.

Qual o contributo de Portugal para a COP26? Perante esta pergunta, a marca sueca Ikea decidiu sentar à mesma mesa Inês Santos Costa, secretária de Estado do Ambiente, João Wengorovius Meneses, secretário-Geral da BCSD, e Ana Barbosa, responsável de sustentabilidade da IKEA Portugal, para tentarem encontrar uma resposta.

Numa antecipação da COP26, Inês dos Santos Silva, secretária de Estado do Ambiente, começou logo por dizer que Portugal tem estado a trabalhar na redução do peso dos combustíveis fósseis na produção de energia, bem como na retirada dos subsídios a esses combustíveis.

No entanto, a secretária de Estado referiu, ainda, outro ponto que deveria estar a ser melhor trabalhado: “Para nós cumprirmos os objetivos do acordo de Paris, nós temos de ter consciência de que precisamos de reduzir o consumo de matérias-primas e de energia. Não haverá cumprimento dos objetivos do acordo de Paris pondo a nossa fé unicamente em tecnologias ou na eficiência”.

“Quanto mais eficientes nós somos, criamos as condições para se produzir mais e mais, portanto, nós temos que estar conscientes destes efeitos indiretos associados à progressão de eficiência e da tecnologia. Por isso é que eu digo que não basta mudar o hardware, nós temos que mudar o software. E o software diz respeito a instrumentos políticos que permitem mudar o seu ADN e perceber que investir em modelos de negócio e de produção e consumo que sejam muito mais eficazes na utilização dos recursos é garantia de competitividade no longo prazo”, acrescentou.

João Wengorovius Meneses, secretário-geral da Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal, um dos parceiros presentes no evento, concordou com a secretária de Estado, mas afirmou: “Mudar mentalidades leva tempos geológicos e nós não temos tempos geológicos”.

Ainda neste âmbito, e para melhor elucidar o público sobre a dificuldade de superar o problema das alterações climáticas, o responsável do BCSD deu o exemplo da pandemia, mais precisamente do período de confinamento, durante o qual foi possível reduzir as emissões a nível global em 5.8%. O problema é que até 2030 temos de reduzir 50%, disse.

E reforçou: para se conseguir atingir os objetivos do acordo de Paris, o mundo teria de conseguir uma redução de 7% ao ano, todos os anos, até 2030, a começar já a partir deste ano.

“Como é que nós, pergunto eu, sem confinarmos as nossas vidas e a economia, vamos conseguir reduzir mais as emissões do que reduzimos em 2020, quando estávamos confinados? A magnitude do desafio é enorme e a urgência não podia ser maior também”, alertou João Wengorovius Meneses.

Ana Barbosa, responsável de sustentabilidade da Ikea Portugal, também esteve presente na conversa, e afirmou que, apesar de a Ikea ter vindo a tomar medidas para conseguir cumprir o acordo de Paris e poupar o planeta, a verdade é que “apenas 4% a 5% dos retalhistas mundiais têm metas para cumprir esses objetivos”. Este ainda é um número baixo, tendo em conta a urgência do tema, mas a responsável da Ikea ainda advertiu para outra tendência, que tem de ser contrariada e que está relacionada com a inflação de preços em produtos/serviços sustentáveis.

“Há muitas pessoas em Portugal que não podem pagar mais pela sustentabilidade. E a verdade é que hábitos mais sustentáveis trazem poupança, não só ao planeta, mas ao orçamento, por isso eu acho que temos aqui um papel em oferecer produtos que são feitos de materiais mais sustentáveis ou que permitem poupar água em casa, por exemplo, mas esses produtos não serem mais caros. Esses produtos têm de ser acessíveis para que as pessoas possam comprá-los e dar o seu primeiro passo”, afirmou.

Ainda neste âmbito, o secretário-geral da BCSD, voltou a reforçar que é necessário acelerar este processo, já que, de acordo com o mesmo, enquanto o planeta estiver em falência, vão continuar a acontecer mais desastres e o ser humano sairá cada vez mais lesado desta situação.

“Se não respondermos às crises de perda de biodiversidade e das alterações climáticas, que são sistémicas e estruturais, vamos ter cada vez mais pandemias e cada vez mais crises socio-económicas, não tenhamos dúvidas disso”, rematou.

Inês Santos Costa concordou com o responsável da BCSD e, ainda, acrescentou que as crises são como desculpas, “devem evitar-se”: “As crises que estamos a passar agora podem e devem ser evitadas. E o evitar, muitas vezes, implica tomar decisões que, num primeiro momento, podem ser complicadas de aceitar, mas que têm um objetivo de longo prazo”.

Neste ponto, a secretária de Estado referiu a dificuldade que é fazer as empresas entenderem a necessidade de mudar o seu sistema de produção e consumo, sem a interpretarem como um ataque à sua competitividade.

“Precisamos de reduzir o consumo de matérias-primas e resíduos. E não esperar apenas pelos resultados das tecnologias. As empresas, têm de mudar o seu ADN, e perceber que têm de investir em modelos de negócio que sejam mais eficazes na utilização do seu recurso. Quando começarmos a discutir abertamente e a explicar que quando falamos em suficiência, não falamos de ter menos qualidade de vida, eu acho que aí sim, estamos a começar a falar a sério sobre ser neutros em carbono e, eventualmente, sermos carbono negativos. Por isso, o meu desejo para esta COP26 é que comecemos a ter esta discussão porque, enquanto não a tivermos, eu receio que não iremos lá chegar, pelo menos com a rapidez e com o impulso que é necessário”, concluiu.

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