São as pessoas, estúpido
Quatro dias a discutir tecnologia e inovação para no último da Web Summit falarmos do que está na base de tudo isto: as pessoas.
Depois de dias a discutir Facebook e recados da Apple à Comissão Europeia, no fim da cimeira tecnológica, voltamos ao essencial: as pessoas. Porque é de pessoas que se trata a Web Summit, lembrou – e bem – Marcelo Rebelo de Sousa.
Chegou ao palco da Altice Arena – à qual tinha prometido regressar fosse qual fosse o resultado das Presidenciais – e lembrou aquilo que, no meio de tanta tecnologia e “unicórnios”, por vezes tendemos a esquecer: “A Web Summit é sobre as pessoas, não é sobre tecnologia.” E nem Paddy Cosgrave conseguiu fugir daquele ‘abraço’ do Presidente dos afetos – e das selfies. Os microfones ainda apanharem um estupefacto “unbelievable” do fundador da Web Summit enleado nos braços do Presidente.
“É tempo para a esperança”, disse Marcelo. “Estamos a construir o novo ciclo: há o antes e depois da pandemia.” E para 2022 traçou logo uma meta: “No próximo ano temos de ser mais. Temos de ser 100 mil [participantes].”
A ver vamos se o “transformar o sonho em realidade” a que o Presidente se referia na cerimónia de encerramento se vai concretizar. É que, para atingir os 100 mil visitantes, é necessário que a duplicação do espaço da FIL finalmente avance. E esse tem sido um dossiê onde a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Fundação AIP – os donos da FIL – têm tido um diferendo. Um imbróglio que Carlos Moedas, o recém-empossado presidente da CML, prometeu na cimeira resolver.
Com 43 mil ou 100 mil no próximo ano a rumarem a Lisboa – a casa da Web Summit, pelo menos até 2028 -, a cimeira tecnológica será sempre um espaço onde se encontram pessoas, com os mesmos objetivos e desejos. E depois de um interregno digital – que “não é bem a mesma coisa”, admitiu Marcelo – o regresso ao contacto humano foi celebrado.
“Foi bom ver todo o ecossistema reunido. Foi evidente a vontade redobrada, não só de startups como de outras organizações, em investir em Portugal e no talento instalado no nosso país”, disse ao ECO Miguel Fontes, presidente da Startup Lisboa. Por isso, todos toleraram a greve do Metro de Lisboa que transformou num caos o percurso até ao Parque das Nações. Mais as longas filas para entrar “a passo de caracol” no recinto, para junto dos ‘seus’ terem “o networking que tanto nos faz falta depois de quase dois anos privados dessa interação”, confidenciou Manuel Nina, cofundador da GoParity.
Nada em tecnologia se faz sem pessoas. E, sem pessoas, a verdade é que a tecnologia não tem qualquer sentido. A caixa negra de algoritmos obscuros de que tanto falou a comissária europeia dos Valores e Transparência – aproveitando para anunciar um novo pacote legislativo visando agora a publicidade política digital -, saiu da imaginação de humanos. Mas basta ouvir com atenção Frances Haugen -, a denunciante do Facebook, a ‘estrela’ desta edição da Web Summit – para ficarmos (se ainda não estávamos) verdadeiramente assustados.
Daniela Braga desvalorizou o ‘meta plano maléfico’ para controlar o mundo. “Diria que não houve más intenções. Podem dizer o contrário, mas quando se está numa equipa de milhares de pessoas a desenvolverem um motor de personalização, fica-se mesmo entusiasmado com o desenvolvimento e quer-se que os utilizadores gostem das funcionalidades”, defendeu. E não há perigo de um momento Skynet. Mais do que inteligência artificial (IA) que ganha autoconsciência, a especialista e fundadora da DefinedCrowd (agora Defined.ai) teme é a ação humana. “O que me preocupa somos nós, os humanos. Como usamos a tecnologia, como cuidamos do planeta, como ensinamos os nossos robôs”, disse.
Mas da cimeira surgem também sinais de esperança. O quinto ano em Lisboa foi o primeiro em que o número de mulheres participantes superou o dos homens. A diferença é pouca, mas num setor onde a diversidade de género é tópico de conversa há décadas, não deixa de ser motivo de celebração. Tanto quanto a vitória da Smartex.ai, startup cofundada pelo português António Rocha, no Pitch da Web Summit 2021, a competição anual de startups da conferência de tecnologia.
Sinal, talvez, da saúde do ecossistema de startups nacional que, até setembro, levantou no mercado mil milhões de dólares. Tanto quanto vale um “unicórnio”. E, acredita André de Aragão Azevedo, secretário de Estado para a Transição Digital, não irão faltar mais desses ‘bichos’ míticos a nascer com cores nacionais. “Temos um pipeline muito grande de potenciais unicórnios que ao longo dos próximos meses vão chegar a esse patamar“, disse com otimismo. Portugal já tem cinco. Mais per capita do que a França ou a Alemanha e mais do que Espanha, Grécia e Itália… juntos.
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