Governo pediu à Valérius para apresentar proposta de última hora para Dielmar
Depois de caírem as últimas duas propostas, o Ministério da Economia contactou o grupo de Barcelos para avançar com uma proposta para salvar a Dielmar, que deve ser aprovada pelos bancos.
A proposta de 250 mil euros apresentada pelo grupo Valérius para ficar com a marca Dielmar e com as máquinas e os inventários da empresa de vestuário – além de assegurar duas centenas de postos de trabalho – foi feita a pedido do Governo na última semana, apurou o ECO junto de fontes envolvidas no processo negocial.
Após perceber que a proposta de dez milhões de euros feita por um empresário de Viseu não seria concretizada e que outra de 410 mil euros (acrescido de um valor para pagar os salários de outubro) da leiriense Outfit 21 iria cair por ter sido recusado o empréstimo bancário de que dependia, o Ministério da Economia foi novamente a jogo, “convidando” a empresa de Barcelos a avançar com uma solução.
A proposta da empresa liderada por José Manuel Vilas Boas Ferreira acabou por chegar apenas esta terça-feira às mãos do administrador de insolvência, João Gonçalves. Na véspera da assembleia, realizada esta tarde no Tribunal do Fundão e que votou por unanimidade pelo encerramento definitivo do estabelecimento, dando um prazo de cinco dias aos credores para se pronunciarem sobre a nova solução. A única que pode evitar a liquidação pura e simples.
Recusando falar em “pressão”, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, reconheceu esta quinta-feira, em declarações aos jornalistas à margem de um evento em Albufeira, que “obviamente o Governo empenhou-se em encontrar um futuro para a unidade industrial da Dielmar”, que “tinha uma dívida que era impagável”.
“Contactámos ativamente vários investidores privados no sentido de encontrar as melhores condições e o melhor destino para a empresa. O maior valor que a Valérius tem é a qualidade dos recursos humanos. Não cabe ao Estado assegurar a gestão de empresas industriais, mas deve empenhar-se em encontrar soluções”, completou.
Fruto de vários apoios públicos concedidos nos últimos anos, o Estado detinha cerca de 30% do capital da empresa de confeções fundada em 1965, que até ao final de julho era liderada por Ana Paula Rafael.
Esta decisão atira, no imediato, os cerca de 240 trabalhadores para o desemprego. Porém, através de uma nova empresa, a Valérius compromete-se a ir buscar 200 de uma forma faseada e após uma formação teórica com a duração de um mês e outra em contexto de trabalho, resultante de uma parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). E a manter operação industrial em Alcains, arrendando o edifício que pertence ao estatal Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas (FIEAE).
Na reunião, citado pelo JN, o representante da empresa minhota, Nuno Marques, garantiu que este “será um processo de curto prazo”, contando avançar nos primeiros meses do próximo ano. A maior parte dos trabalhadores já se manifestaram a favor, tal como fará o Estado através do Banco Português de Fomento e da Garval. O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, acredita que os bancos darão igualmente “luz verde”, por escrito, nos cinco dias dados pelo gestor judicial.
Às vezes é melhor assegurar que os ativos empresariais encontram melhores mãos para poderem prosseguir a atividade com maior valor, do que propriamente estar a tentar manter situações que às vezes são ineficientes.
O ECO contactou o grupo Valérius, que recusou, para já, prestar mais esclarecimentos sobre os planos que tem para a Dielmar, que era uma das maiores empregadoras da região da Beira Baixa e deixa dívidas no valor de 18 milhões de euros: oito milhões ao Estado, cerca de seis milhões à banca e ainda 2,5 milhões a fornecedores e 1,7 milhões à Segurança Social.
Siza vê “lição” e sindicato fala em eleitoralismo
Logo após a apresentação da empresa à insolvência, a 2 de agosto, Pedro Siza Vieira avisou que “o dinheiro público não serve para salvar empresários” e reconheceu, que “se calhar” o Estado não [iria] recuperar o montante que tinha concedido à empresa. Volvidos três meses, o ministro declara que este desfecho “é uma lição”. “Às vezes é melhor assegurar que os ativos empresariais encontram melhores mãos para poderem prosseguir a atividade com maior valor, do que propriamente estar a tentar manter situações que às vezes são ineficientes”, concluiu.
Menos satisfeita saiu a presidente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa (STBB), Marisa Tavares, lembrando que “os trabalhadores estão prejudicados com o salário do mês de outubro e andaram neste impasse e a dar tempo para que as coisas chegassem à assembleia de credores e houvesse alguém que viabilizasse a empresa no seu todo e a salvaguarda dos postos de trabalho e, chegados aqui, isso não se verificou”.
Em declarações à Lusa, a sindicalista realçou que há responsáveis por esta situação e aponta o dedo ao Executivo socialista. “Como é óbvio, há responsáveis por esta situação. O Ministério da Economia, num primeiro momento, mostrou-se envolvido e até tomou algumas medidas positivas, nomeadamente a salvaguarda dos [salários] de agosto e setembro. Passado o dia 26 [de setembro, data das eleições autárquicas], infelizmente, vimos as coisas esfriar por parte do Ministério da Economia”, criticou.
(Notícia atualizada às 11:08 com declarações do ministro a confirmar os contactos com investidores)
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