Abraão ou Mourão? Socialistas da UGT escolhem hoje novo líder
A eleição marcada para este sábado definirá quem será candidato a secretário-geral da UGT em 2022: Mário Mourão ou José Abraão.
Pela primeira vez em 43 anos, há mais do que uma candidatura à liderança da tendência sindical socialista da UGT (TSS/UGT). De um lado, está José Abraão, atual secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP). Do outro, Mário Mourão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro (SBN). Quem sair vencedor da eleição deste sábado será, por inerência, candidato a sucessor de Carlos Silva, no congresso de 2022.
Foi em janeiro de 2020 que Carlos Silva anunciou que não seria candidato a um novo mandato na UGT, depois de oito anos no lugar de secretário-geral, explicando que “ao nível do PS” não sentia o “necessário apoio, nem a necessária compreensão” para se manter nesse cargo. “Não vale a pena continuar a chover no molhado“, afirmou. Algumas semanas depois, e dessa vez em entrevista ao ECO, o sindicalista acrescentou: “Não quero ser uma força de bloqueio da UGT. Portanto, dei um murro na mesa e disse que não me recandidataria”.
Mais de ano e meio volvidos, os socialistas da UGT escolhem agora, através de voto secreto, o seu próximo líder e candidato a secretário-geral da central sindical. Normalmente, é o presidente eleito que se candidata a esse cargo, embora os estatutos permitam que outros candidatos, desde que reúnam os apoios necessários, se cheguem à frente no congresso da UGT, que está já marcado para abril do próximo ano, depois de ter sido adiado por força da crise pandémica.
Na votação deste sábado, os socialistas da UGT têm, de modo inédito, dois candidatos à escolha: José Abraão, que assume como bandeiras a renovação e rejuvenescimento da central sindical, ou Mário Mourão, que diz querer reorganizar a tendência sindical socialista, adaptando-a aos novos desafios do mundo laboral, e estabelecer pontes com o PS.
Abraão quer tornar UGT “aberta e plural”
Aos 64 anos, José Abraão é hoje secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP). Em conversa com o ECO, conta que se candidata à liderança da TSS/UGT porque, “enquanto fundador” dessa central sindical, sente que há necessidade de a renovar, tornando mais atrativo o papel dos sindicatos e mobilizando os mais jovens.
Abraão diz querer fazer da UGT uma central sindical “aberta e plural”, onde há “espaço para todos“: trabalhadores do privado, do público, do setor social e cooperativo, das novas formas de trabalho. Quer “uma UGT mais próxima”, sublinha, adiantando que, se chegar a secretário-geral, apoiará todos os sindicatos em “grandes campanhas de sindicalização“.
Aliás, salienta que nem “faz sentido” continuar a fazer a demarcação entre esses vários setores, já que hoje “cada vez mais se aplica o Código do Trabalho“. A pensar nessa união, José Abraão propõe também melhorar a negociação coletiva, “procurando criar mesas que envolvam os sindicatos da UGT com propostas comuns”. Por isso, atira: “Não é cada um andar a fazer o que pode“.
Outras das bandeiras da sua candidatura, avança, são a luta contra a discriminação (de género, mas também geográfica), e o combate à pobreza. E sobre a relação da central sindical com o PS, José Abraão defende uma aproximação no sentido de haver um reforço do “reconhecimento dos sindicalistas na vida do partido“.
Já quanto a este sábado, o candidato diz-se confiante, mostrando-se “orgulhoso” de contar com o apoio de “alguns sindicatos históricos” e desejando que, deste congresso, os socialistas da UGT saiam “unidos e fortes“.
Os primeiros contactos de José Abraão com a UGT deram-se quando se tornou dirigente do Sindicato dos Escritórios de Vila Real, no final da década de 70. Nos anos 80, havia de ingressar na Administração Pública e integrar, depois, o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública, que lidera desde 2013 (a par da FESAP). No ano de 2011, entrou na Comissão Política Nacional do Partido Socialista.
Mourão quer UGT na rua “quando for preciso”
Mário Mourão tem hoje 63 anos e preside ao sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal. Anunciou a sua candidatura à liderança da TSS/UGT já depois de José Abraão tê-lo feito, criando, assim, a situação inédita que é a de haver dois candidatos na corrida à tendência em questão.
Em conversa com o ECO, o sindicalista explica que a sua candidatura “tem em vista a reorganização” da TSS/UGT. Reorganizar? Sim, adequá-la às novas dinâmicas do mundo do trabalho, salienta.
Outro dos grandes objetivos de Mário Mourão é estabelecer pontes entre a tendência sindical socialista e o PS, sendo que este sindicalista diz não atribuir responsabilidade a Carlos Silva pela fragilização dos últimos anos desse laço. “Não tem a ver só com uma das partes”, atira. E continua: “Houve situações de tensão, mas o diálogo manteve-se. É preciso melhorá-lo“. O candidato detalha que é preciso ver em que pontos é possível “restabelecer um diálogo são, no respeito pela autonomia e independência de cada uma das instituições”.
Se chegar a secretário-geral da UGT, Mário Mourão garante que a central sindical manterá o espírito de concertação, mas terá de estar na rua “quando for preciso”. “É uma central de concertação, mas, quando isso falha, tem de ir para a rua e estar ao lado dos seus sindicatos“, frisa, destacando como uma das suas grandes prioridades a reversão de algumas das leis do período da troika, caminho já começado por Carlos Silva.
Outra é pôr o setor privado na agenda da UGT, isto é, dar-lhe protagonismo. “Tem de se fazer mais também no setor privado, não só no público”, diz, lembrando a “destruição” recente de milhares de postos de trabalho em “empresas que têm bons resultados”. Ainda assim, Mário Mourão não esquece o setor público e defende que a UGT terá um “papel fundamental” na trajetória de recuperação do poder de compra desses trabalhadores. Além disso, os desafios do teletrabalho e do trabalho em plataformas digitais são, antecipa o sindicalista, duas pastas a que terá também de dar muita atenção, caso chegue a secretário-geral da UGT.
Para já, Mário Mourão diz-se confiante de que terá o “apoio maioritário dos sindicatos e dos socialistas“. À semelhança de Abraão, espera, acima de tudo, que do congresso saia um caminho para a unidade da TSS/UGT.
Bancário de profissão, Mário Mourão foi também deputado pelo PS em três legislaturas.
O congresso deste sábado arranca às 9h00 com a receção dos delegados e com a votação para a eleição da mesa. A abertura dos trabalhos dar-se-á pelas 10h00, com o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro. Também intervirão, ao longo do dia, o atual líder da TSS/UGT, Carlos Silva, e a presidente do grupo parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes. Podem votar este sábado em torno de 300 pessoas.
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