Eugénio Rosa faz uma avaliação muito negativa da atual gestão do banco e assume que irá nomear uma nova equipa se vencer as eleições para a Associação Mutualista.
O candidato da Lista C nas eleições para a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) faz uma avaliação muito negativa do trabalho da atual equipa de gestão do banco. “Mostra total incapacidade para recuperar o banco. É preciso dizer com clareza”, afirma Eugénio Rosa em entrevista ao ECO, adiantando que se vencer as eleições do dia 17 de dezembro irá nomear uma nova administração “mais reduzida e muito mais competente”.
Para Eugénio Rosa, a solução para o problema do banco não passa pela redução dos quadros, como tem vindo a ser feito. Passa antes pelo aumento do negócio bancário. Também responsabiliza o acionista do banco, a AMMG, e Virgílio Lima de assumir “um papel passivo e ausente” em relação ao banco.
A atual gestão do Banco Montepio está a fazer um bom trabalho?
A atual equipa do banco mostra total incapacidade para recuperar o banco. É preciso dizer com clareza. É uma equipa enorme, tem tantos membros como a administração da Caixa Geral de Depósitos, que é um banco cinco vezes maior. É um encargo tremendo para o Banco Montepio. A maior parte deles não tem experiência de banca comercial, nem de banca de retalho. Não tem competência técnica e, efetivamente, não está a conseguir recuperar o banco.
A atual administração está em fim de mandato. Se vencer, vai mudar a equipa?
O novo conselho de administração da associação mutualista é que tem de nomear a nova administração do banco. Se nós ganharmos, vamos reduzir a equipa, nomear uma administração muito mais profissional, muito mais competente, constituída por pessoas não só de fora – como o que tem acontecido, eles caem cá de para-quedas.
Será constituída também em parte por quadros técnicos qualificados do Montepio, que têm a cultura do Montepio e a experiência. Juntando pessoas qualificadas que vêm de fora, constituindo-se uma equipa mista, com competências internas e competências adquiridas na atividade bancária.
Olhamos para a atual equipa, a maior parte nunca esteve à frente de um banco e não tem experiência. Um dos problemas que tem o banco é que a equipa comercial está totalmente à deriva. A administradora que dirige a equipa comercial não tem conhecimento nem experiência, nem autoridade moral para dar objetivos e para acompanhar. Há uma alteração profunda a fazer.
Por outro lado, é preciso que o acionista assuma as suas responsabilidades.
Se nós ganharmos, vamos reduzir a equipa, nomear uma administração muito mais profissional, muito mais competente, constituída por pessoas não só de fora – como o que tem acontecido, eles caem cá de para-quedas.
Em que sentido?
Tem de se definir um plano de negócios e um plano de capital – o que não tem sido sistematicamente cumprido – que seja realista e depois o acionista tem de ter a capacidade e a força de o controlar. Se não for cumprido tomar as medidas que são necessárias.
Agora, não se cumpre nada. Já se disse que se ia obter resultados positivos no ano passado, este ano também, mas como nada disto se concretiza, adia-se sempre para o próximo ano.
Estive a analisar as contas de setembro do banco e para reduzir os resultados negativos do primeiro semestre – em contraciclo com a restante banca — basicamente não se constituiu imparidades. Como as contas não são auditadas, a administração pode fazer isso pois o auditor não controla. É clara a estratégia: vamos agora reduzir os prejuízos para dar outra ideia.
Teve fins eleitorais?
É evidente que teve um objetivo eleitoral. Reduziu-se o resultado negativo de 33 milhões para 14 milhões, assim parece que o banco está a recuperar. Mas não está a recuperar nada. Vemos todas as outras variáveis, a margem financeira ou o cost-to-income – conceito que se utiliza para avaliar uma administração — que no Banco Montepio está nos 71%, quando a banca está nos 30% e 40%. 70% é um valor insustentável e mostra claramente que não há recuperação e se está a tentar é criar uma ilusão. Querem iludir para depois das eleições tomarem medidas que são despedimentos de trabalhadores e fecho de balcões, o que vai agravar ainda mais a situação.
Todos os bancos têm feito reestruturações para responder a esta nova fase. O Banco Montepio não precisava desta reestruturação?
O Banco Montepio tem características diferentes da outra banca, é um banco de proximidade, tem de ter uma ligação muito grande com os próprios clientes, que são na sua maioria associados da mutualista.
Mas se não dá lucro não pode desempenhar a missão que se pretende para ele…
O grande problema ali não é a redução de trabalhadores, é o aumento do crédito, é o aumento do negócio bancário, que é o que não se tem feito. Nos primeiros nove meses do ano o crédito bancário aumentou 1% quando no setor aumentou o dobro ou o triplo. A mesma coisa em depósitos. Há que fazer um grande esforço e conseguir um empenhamento ativo dos trabalhadores para isso.
Devido a estes planos de transformação, despedimentos e fecho de balcões, criou-se em toda a equipa comercial do banco e todo o Montepio um clima de insegurança e desmotivação que está a ter consequências até financeiras e económicas no próprio banco. É preciso dar uma volta a isto com um novo conselho de administração na AMMG. O acionista tem uma responsabilidade tremenda nesta situação.
O que poderia ter feito?
O que tem acontecido é que a atual administração da mutualista tem tido um comportamento passivo e está ausente. Mostra que não tem capacidade. Virgílio Lima é uma pessoa com quem tenho uma relação fácil, mas não tem capacidade, nem assertividade, nem conhecimentos. É de uma passividade… Não gosta de criar problemas, não gosta de ser firme, mas ali [em relação ao banco] é necessário ser firme e definir objetivos e eles têm de ser cumpridos. É essa a nossa proposta.
Colocaria um ponto final no processo de saídas de trabalhadores?
Temos de discutir isso com os trabalhadores. Nunca faríamos o que está a acontecer. Mandaram-se 25 trabalhadores para casa sem funções e eles não sabem o futuro. Isto não é forma de uma associação mutualista se comportar com os trabalhadores, que também são associados.
Está a criar toda uma situação de insegurança, em que não se discute com os associados nem com os trabalhadores que vão ter e têm de ter uma função vital na recuperação do Montepio. Se a gente não os trouxer para este objetivo não se consegue nada. Está a acontecer o contrário: estão desmotivados, desorganizados, não sabem o que vai acontecer no seu futuro, manda-se para casa numa autêntica operação de assédio moral.
Na última assembleia perguntei ao presidente da comissão executiva, Pedro Leitão, quantos trabalhadores ainda tencionava despedir. Não me respondeu. Depois fui falar com ele e respondeu-me que ainda era necessário despedir 400 trabalhadores.
"Os trabalhadores vão ter e têm de ter uma função vital na recuperação do Montepio. Se a gente não os trouxer para este objetivo não se consegue nada. ”
Acima de quantos que já tinham saído?
À volta de 320. Por outro lado, despedem-se trabalhadores e são contratados outros. Parece que se contratam os conhecidos e amigos e no lugar de dar aos trabalhadores novas funções, qualificá-los para outros lugares, não. Despede-se e vai-se buscar outros, pagando-se muito mais e com funções de coordenador em muitos casos.
Neste período de dois ou três anos, o número de diretores e coordenadores aumentou em mais 60, passou de 220 para 270… é uma coisa inconcebível. Parece que há aqui um jogo de troca-se uns desconhecidos por uns conhecidos e não se respeita os trabalhadores dentro do grupo.
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“Se ganhar, nomearei para o Banco Montepio uma administração mais reduzida e muito mais competente”
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