Rendeiro em Catch me if you can

O cenário piorou quando Marcelo Rebelo de Sousa não se fez rogado e decidiu assumir -- em prime time televisivo -- que o pedido de indulto de Rendeiro já será impossível por.. ter passado o prazo.

João Rendeiro anda a gozar connosco. Não há outra expressão para definir aquilo a que esta segunda-feira — no lançamento da CNN Portugal — 330 mil espetadores assistiram. Pois que o senhor condenado a três penas de prisão por variados crimes económicos, em três processos distintos, fugido à Justiça desde o dia 28 de setembro, decide falar aos portugueses e explicar o bem que a sua vida corre.

Diz que está num país à beira mal plantado, com muito sol, onde se fala português, onde não anda de rabo de cavalo nem de boné, onde faz ginástica, vai à praia, come bem e até tem projetos profissionais de consultadoria. Este é o dia a dia do ex-líder do BPP que — a 28 de setembro — já tinha decidido e avisado a Justiça portuguesa que não iria regressar a Portugal para cumprir a pena de prisão a que foi condenada e já transitada em julgado. Uma das três.

E o que me apraz dizer sobre este maravilhoso momento televisivo (que foi, sem dúvida!)?

João Rendeiro mentiu. Disse que estava apenas condenado a uma das três penas a que está efetivamente condenado (de dez, cinco e três anos de prisão efetiva) e que nenhuma transitou em julgado (uma já transitou). E avisou a quem quisesse ouvir (suponho que os três magistrados titulares dos seus processos o fizeram) que só regressa a Portugal se for ilibado ou se Marcelo Rebelo de Sousa o indultar. Avisou ainda que é muito menos malandro do que Ricardo Salgado, que tem toda a Justiça a seus pés. E fez saber que os grandes amores da vida da mulher, Maria Rendeiro, são “as três cadelinhas com as quais não consegue competir”. Talvez por isso seja totalmente irrelevante que essa mesma esposa de João Rendeiro tenha sido ‘apanhada’ pela Justiça, numa tentativa de coação psicológica para que o arguido voltasse a Portugal. Mas não, não vai acontecer, como o próprio já assumiu.

Entre alguns sorrisos e piadas proferidas pelo ex-banqueiro, o jornalista Júlio Magalhães ia tentando que este foragido à Justiça lhe/nos desse pistas do local onde se encontra. “No Belize obviamente que não estou”, garantiu logo. Mas neste jogo de gato e rato em que o rato aqui mais parece o gato, muito pouco foi dito. E, de forma cordial, o jornalista lá se despediu.

Ora, tudo isto teria arrancado uma gargalhada de muitos de nós, caso não se passasse num país como o nosso. Dito civilizado.

Mas o cenário piorou ainda mais quando o nosso Chefe de Estado Marcelo Rebelo de Sousa não se fez rogado e decidiu assumir — em prime time televisivo — que o pedido de indulto já será impossível porque … passou o prazo previsto na lei.

Portanto, Marcelo Rebelo de Sousa, perante os tais mais de 300 mil espetadores, usou apenas um argumento técnico para explicar que esse pedido de indulto não poderá avançar. Já que deveria ter sido feito até finais de Julho. A jornalista ainda o questionou sobre se esse seria “o único motivo” e Marcelo lá desconversou e continuou na cerimónia de lançamento da CNN Portugal.

A nossa democracia ficou mais pobre com isto. Os contribuintes deveriam ser os primeiros a condenar o Estado português por todo este cenário lamentável e não João Rendeiro. E a Justiça, essa que se cala em nome da independência, já deveria ter vindo a público apresentar um verdadeiro e sentido pedido de desculpas. Mas não. The show must go on e o nosso Leonardo DiCaprio português continuará a ter a boa vida que aparentemente tem há dois meses.

 

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