OCDE prevê recuperação do PIB português mais forte do que o Governo em 2022
"A economia [portuguesa] deverá crescer 4,8% em 2021, 5,8% em 2022 e 2,8% em 2023", estima a OCDE. Projeção para 2022 supera a do Governo.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional cresça 4,8% este ano, à semelhança do Governo e Banco de Portugal (BdP), estando também otimista para os dois anos seguintes.
“A economia deverá crescer 4,8% em 2021, 5,8% em 2022 e 2,8% em 2023. O PIB deverá ultrapassar o nível pré-crise só à volta de meados de 2022. O crescimento robusto é sobretudo fomentado pela procura doméstica, e será acelerado pela absorção de fundos da UE [União Europeia]”, pode ler-se nas previsões económicas da OCDE divulgadas esta quarta-feira.
A OCDE aponta ainda que “o aumento atual nos custos de produção, guiado essencialmente pelos preços da energia, não deverá fomentar substancialmente as pressões subjacentes aos preços”.
Os 4,8% de crescimento económico previstos para este ano alinham com as previsões do Governo e do BdP, e superam as do Conselho das Finanças Públicas (CFP), de 4,7%, bem como as da Comissão Europeia (4,5%) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), 4,4%, atualizando ainda as da própria OCDE, feitas em maio, que apontavam para 3,7%.
Quanto a 2022, a organização multilateral é mesmo a mais otimista, já que no próximo ano prevê um crescimento de 5,8%, quando o Governo aponta para 5,5%, a Comissão Europeia para 5,3%, o FMI e o CFP 5,1%, sendo também atualizada a anterior previsão da própria OCDE (4,9%).
Para 2023, as previsões da organização sediada em Paris, de 2,8%, apenas ficam abaixo das do CFP (2,9%), estando acima das do FMI (2,5%) e da Comissão Europeia (2,4%).
“A postura orçamental deverá permanecer de apoio no horizonte de previsões, sobretudo devido à considerável absorção das subvenções do Next Generation EU“, o programa de fundos europeus de reação à pandemia de Covid-19, antevê a OCDE.
A organização liderada por Mathias Cormann alerta ainda que “o rácio de crédito malparado, apesar de decrescente, está entre os maiores da Europa, o que é uma possível fonte de stress financeiro”.
“Já que alguma realocação de atividades e empregos é inevitável na sequência da crise de Covid-19, fortalecer os regimes de insolvência iria facilitá-las, permitindo à economia lidar melhor com um possível aumento de falências e crédito malparado”, sugere também a OCDE.
Este ano, o “PIB recuperou de forma mais forte que o esperado no segundo e terceiro trimestres de 2021, fomentado sobretudo pelo consumo privado, à medida que as medidas sanitárias mais restritivas foram removidas”.
“Tanto os dados da confiança dos consumidores como os das vendas a retalho sugerem uma forte recuperação continuada do consumo a curto prazo. O sentimento empresarial continua a melhorar, enquanto a indústria do turismo recupera rapidamente, apesar de o fazer a partir de níveis muito baixos“, refere a organização.
A OCDE sinaliza, por outro lado, que “a produção industrial abrandou moderadamente nos últimos meses, à medida que os custos de produção aumentaram fortemente, sobretudo devido aos preços da energia e constrangimentos na oferta, apesar de isto não se ter refletido muito nos preços ao consumidor”.
“O Governo também introduziu uma série de medidas para amortecer os efeitos negativos do aumento de preços devido ao aumento dos preços da energia, tais como subsídios para os agregados domésticos e para operadores de transporte público, bem como um controlo das margens de lucro das petrolíferas”, acrescenta ainda.
A OCDE prevê que o consumo “continue forte, ao passo que a taxa de poupança deve cair, à medida que a incerteza relacionada com a pandemia se esvai”.
“As exportações, atualmente ainda moderadas, vão ser lentas a recuperar totalmente, atingindo o nível pré-crise só no início de 2023, dado que o turismo deverá continuar a ser afetado por restrições à mobilidade entre fronteiras”, mas a OCDE antevê efeitos positivos caso as restrições sejam levantadas mais cedo.
“Um grande risco está relacionado com as falências, que podem ser mais prevalecentes que o esperado, danificando a estabilidade financeira e aumentando o desemprego. Isto pode seguir-se à retirada das moratórias bancárias, dado que a percentagem de negócios que aderiram em Portugal foi, de longe, o maior entre os países europeus”, alerta a OCDE.
Previsões são “sinal claro de credibilidade” do país, diz Governo
Em reação às previsões divulgadas esta quarta-feira pela OCDE, o Ministério das Finanças já veio dizer que tais projeções “confirmam a trajetória esperada de convergência com a
Zona Euro”.
Em comunicado, o gabinete de João Leão sublinha ainda que “estas previsões são um sinal claro da credibilidade que o país tem conquistado nos últimos anos e reafirmam a confiança que as instituições internacionais depositam no desempenho da economia portuguesa”.
Recuperação económica mundial perdeu ímpeto, diz OCDE
A recuperação económica mundial da pandemia de Covid-19 “continua a progredir” mas “perdeu ímpeto” e está a ficar “cada vez mais desequilibrada”, de acordo com a OCDE, prevendo um crescimento global de 5,6% este ano.
“A recuperação mundial continua a progredir, mas perdeu ímpeto e está a tornar-se cada vez mais desequilibrada. Partes da economia mundial estão a recuperar rapidamente, mas outras estão em risco de ficar para trás“, alertou também esta quarta-feira a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, nas suas previsões económicas.
Os riscos estão situados “particularmente nos países de baixos rendimentos, onde as taxas de vacinação são baixas, e em empresas e trabalhadores em setores de contactos intensivos, onde a procura ainda está por recuperar totalmente”.
“O ímpeto da forte recuperação depois da reabertura está agora a abrandar em muitos países, por entre constrangimentos na oferta, aumento dos custos de produção e os efeitos continuados da pandemia”, refere a OCDE.
A OCDE menciona inclusive “pressões na inflação mais fortes e duradouras“, que “emergiram cedo em todas as economias, numa altura pouco habitual do ciclo, e está a aparecer escassez no trabalho, apesar do emprego e das horas trabalhadas ainda estarem por recuperar totalmente”.
Para 2022, a organização sediada em Paris prevê um crescimento de 4,5%, e para 2023 o aumento desce para 3,2%, esperando-se que “os esforços de vacinação globais […] permitam uma retirada total de restrições nas atividades transfronteiriças no final de 2022”.
A OCDE aponta ainda à manutenção de “políticas macroeconómicas de apoio, condições de financiamento acomodatícias e menor poupança das famílias”, fatores que deverão “fomentar a procura e compensar ‘ventos contrários’ vindos da retirada gradual de medidas orçamentais relacionadas com a pandemia”.
Quanto aos riscos para as previsões, estes estão relacionados com a evolução da pandemia de Covid-19, com a inflação, com a reavaliação dos preços nos mercados financeiros, com as empresas, com a situação financeira dos mercados emergentes, com a China e com o comércio mundial.
“Um grande risco negativo é que a velocidade da distribuição das vacinas e a eficácia das vacinas existentes seja insuficiente para parar a transmissão de variantes preocupantes da Covid-19, resultando na necessidade de vacinas novas ou modificadas, ou campanhas repetidas para dar doses de reforço”, considera a OCDE.
Quanto à inflação, esta “poderá surpreender em termos ascendentes”, forçando os maiores bancos centrais a “apertar a política monetária mais cedo e numa extensão maior que o projetado”.
“Tal resultado poderia vir de um número de fatores possíveis como disrupções prolongadas na oferta, um aumento nas expectativas de inflação, pressões no mercado de trabalho, ou caso os preços de uma larga gama de bens e serviços comecem a subir substancialmente”, alerta a OCDE.
A organização multilateral considera ainda que as condições favoráveis de financiamento verificadas em 2021, tanto em economias avançadas como em desenvolvimento, poderão aumentar as “vulnerabilidades a uma abrupta reavaliação de preços nos mercados financeiros”, mencionando ainda o caso da gigante imobiliária chinesa Evergrande, que pode “fazer disparar alterações no apetite pelo risco e abrandar o crescimento mundial”.
Nas empresas, a OCDE considera que “a dívida gerada pela crise de Covid-19 poderá ameaçar a recuperação de várias formas”, lembrando que “uma grande parte da dívida mundial empresarial não-financeira ainda está avaliada como ‘especulativa’ ou BBB, o rating mais baixo”.
“Um abrandamento inesperado do crescimento ou um forte aumento continuado nos custos de produção poderá ameaçar a capacidade das empresas pagarem os seus empréstimos e de renovarem a sua dívida”, alerta a OCDE.
Nas economias emergentes, “um recente aperto das condições de financiamento, dívida elevada e a deterioração dos balanços orçamentais tornam muitas economias de mercado emergentes vulneráveis a potenciais mudanças no sentimento mundial do risco”.
Na China, “os riscos de um abrandamento agudo aumentaram”, com eventos como a Evergrande a “salientarem os riscos continuados no mercado imobiliário chinês, com o potencial de grandes contaminações entre setores e fronteiras”.
No campo do comércio, “o aumento das tensões comerciais e pressões à volta de questões relacionadas com a soberania estratégica representam outro risco”.
A OCDE recomenda que a política monetária permaneça, “mas a tornar-se gradualmente menos acomodatícia”, e sugere que os apoios orçamentais devam “permanecer flexíveis e contingentes ao estado da recuperação”.
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