Subir salário mínimo em 2023 e 2024 é “risco em alta para a inflação”, avisa Centeno
Caso o próximo Governo decida continuar a aumentar o salário mínimo em 2023 e 2024, o Banco de Portugal considera que esse será uma "risco em alta para a inflação".
É um aviso à navegação para o próximo Governo que resulte das eleições legislativas de 30 de janeiro: se o salário mínimo subir em 2023 e 2024 como prevê o atual Executivo para chegar aos 850 euros até 2025, isso representará um “risco em alta” para a taxa de inflação. Ou seja, com os preços a crescer mais do que o esperado, esse aumento salarial poderá contribuir para alimentar essa dinâmica.
“Eventuais aumentos do salário mínimo em 2023-24 constituem também um risco em alta para a inflação“, escreve o Banco de Portugal, entidade liderada pelo ex-ministro das Finanças Mário Centeno, no boletim económico de dezembro divulgado esta sexta-feira. O documento não refere nenhum aviso sobre o aumento do salário mínimo para 750 euros em 2022, ano em que a taxa de inflação será de 1,8% em Portugal, o dobro dos 0,9% registados em 2021.
Questionado sobre este tema na conferência de imprensa de apresentação do boletim, Mário Centeno assumiu que “devemos ter alguma preocupação” sobre a evolução dos preços na economia uma vez que “sabemos o quanto é negativo” os preços crescerem acima de 2% para a dinâmica da economia, para empresas e consumidores.
Em específico sobre os salários, estes são “sempre uma fonte de preocupação”, mas neste momento não se vê uma dinâmica de crescimento sustentado “nem na Zona Euro nem em Portugal”, garante Centeno. O boletim económico confirma essa leitura: “Por enquanto, não se observam efeitos significativos de segunda ordem sobre os salários, o que refletirá a margem de recursos ainda disponíveis no mercado de trabalho”.
“Mas como é função de qualquer banco central devemos sinalizar as diferentes fontes de diferentes pressões que se possa colocar”, acrescentou logo de seguida. É nessa sinalização que se enquadra o aviso feito para o salário mínimo.
“Seguramente que a evolução e a dinâmica do salário mínimo pode ter esse efeito — vou chamar-lhe negativo — no indicador da inflação e é isso que sinalizámos“, explicou o governador do Banco de Portugal. Mais tarde, concretizou que “espirais em que os preços são alimentados por aumentos salariais que retroalimentam-se uns aos outros não são desejáveis e devem ser obviamente evitados“.
Para já, os dados que o banco central tem nas mãos não apontam para uma interação entre a evolução dos preços e dos salários. “Ao longo do horizonte de projeção, os salários crescem em torno de 3%, ligeiramente abaixo ao observado nos anos pré-pandemia“, lê-se no boletim económico de dezembro, referindo que estas projeções já incluem o aumento do salário mínimo de 6% em 2022, após um aumento de 4,7% em 2021.
“O crescimento mais moderado dos salários face ao período pré-pandemia reflete a recuperação de empregos com salários mais baixos, que gera efeitos composição negativos sobre os salários totais“, explica o Banco de Portugal, admitindo que “este efeito é parcialmente compensado pela pressão ascendente associada à redução da margem de recursos disponíveis no mercado de trabalho”.
Ou seja, é parcialmente compensado pela falta de mão-de-obra em certos setores. “A subida recente da inflação, a par das dificuldades de recrutamento em alguns setores, pode também implicar pressões mais fortes sobre os salários do que as consideradas na projeção”, concretiza o banco central no boletim, explicando que “as alterações na estrutura do mercado de trabalho no pós-pandemia poderão implicar riscos ascendentes sobre os salários“.
(Notícia atualizada às 12h36 com mais informação)
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