Juros da dívida sobem desde reunião do BCE. Taxa portuguesa está em máximos de um mês
Desde a reunião do banco central que os juros da dívida dos governos da Zona Euro estão em alta. Obrigações portuguesas a dez anos registam taxa mais alta do último mês.
Os juros da dívida dos governos da Zona Euro não param de subir nos últimos dias, sobretudo desde a última reunião do Banco Central Europeu, a 16 de dezembro, que decidiu colocar um ponto final nas compras de emergência por causa da pandemia, enquanto outros bancos centrais se preparam para subir as taxas de referência por causa da inflação.
No caso português, a yield associada às Obrigações do Tesouro a dez anos avança para 0,430%, o valor mais elevado desde 25 de novembro, mas ainda longe dos valores observados no início da pandemia (ver gráfico). Ainda assim, desde o encontro do BCE acumula uma subida de 16 pontos base.
Também os juros dos títulos de dívida a cinco anos estão em alta nas últimas duas semanas, passado dos -0,374% antes da reunião do banco central para -0,289% que regista esta manhã.
Taxa a 10 anos em alta
Fonte: Reuters
Além de Portugal, outros países da Zona Euro também registam subidas dos juros da dívida pública, como Espanha, Itália e também a Alemanha, considerada a referência do mercado.
Estas subidas acontecem depois de o BCE ter determinado o fim do programa de compra de ativos devido a emergência pandémica (PEPP) no final de março, que será compensado com um reforço de outro programa em andamento, o APP, que será mantido “por quanto tempo que for necessário” e que terminará “pouco antes” de começar a subir os juros. Como o BCE, outros bancos centrais estão a ser pressionados para apertarem a política monetária para responder à subida mais persistente dos preços, que tem um papel determinante na evolução dos juros das obrigações.
Além disso, com o período de festas, muitos investidores estão fora do mercado e situação de menor liquidez no mercado tenderá a exacerbar movimentos nos mercados, incluindo da dívida.
Tanto o Banco de Portugal como também o Governo já alertaram na última semana para o impacto que a inversão na política monetária do banco central terá no agravamento dos custos de financiamento da República. Com as taxas de juros em mínimos históricos, os governos da Zona Euro tem beneficiado de condições muito favoráveis para se financiarem no mercado e conterem a despesa com o serviço da dívida. “Será um desafio novo para os países europeus que viram a sua dívida aumentar muito durante a pandemia. (…) Temos de o enfrentar com o sentido de responsabilidade que nos caracteriza”, sinalizou o ministro das Finanças, João Leão, há uma semana.
“Os juros da dívida portuguesa e dos restantes países do sul da Europa aumentaram, com os investidores a anteciparem uma subida das taxas de juro por parte do BCE já no ano que vem. Uma vez que se prevê que a inflação continue a aumentar (o Banco de Portugal prevê uma inflação de 1,9% para 2022) a pressão sobre o BCE para agir, deverá continuar a aumentar e, como consequência, os juros da dívida deverão continuar a subir”, afirma o analista da XTB Nuno Mello, em declarações ao ECO.
“Não antevejo que seja uma situação temporária, muito pelo contrário. O mercado move-se por expectativas, e a expectativa crescente de que o BCE não tem outra solução senão aumentar a taxa de referência deverá manter sobre pressão os juros da dívida portuguesa”, reforçou o analista.
Espanha também vê os juros da dívida a dez anos no valor mais elevado desde 24 de novembro: negoceia nos 0,529%, mais 18 pontos base desde a reunião do BCE. Já a taxa das obrigações a cinco anos estão perto de entrar novamente em valores positivos, situando-se nos -0,045%.
Já as obrigações italianas negoceiam com taxas acima de 1% outra vez: estão nos 1,173% no que diz respeito à maturidade a dez anos, a taxa mais alta desde 1 de novembro. No prazo a cinco anos, a taxa duplicou em menos de duas semanas, passando de 0,202% a 15 de dezembro para 0,418% esta segunda-feira. Os investidores estão atentos ao futuro do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, que pode abandonar o cargo no próximo mês, para se tornar Presidente de Itália.
A Alemanha também assiste a um agravamento das taxas da sua dívida, ainda que permaneçam em terreno negativo. As obrigações a dez anos registam um juro de -0,228% (valor mais alto desde 24 de novembro) e a cinco anos estão nos -0,489%.
“Os custos de financiamento estão mais inclinados para subir à medida que os governos vão lidando com a pandemia, enquanto os bancos central precisarão de aumentar as taxas para controlar a inflação”, disse Massimiliano Maxia, da Allianz Global Investors, citado pela agência Reuters.
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