Costa muda de estratégia e já não pede maioria

Ainda na semana passada o secretário-geral do PS apelava a uma maioria absoluta, mas agora diz que tem "ouvido os portugueses" e garante que está disponível para "falar com todos" após a ida às urnas.

Numa altura em que as sondagens dão uma ligeira vantagem ao PSD sobre o PS, António Costa colocou o apelo à maioria absoluta na gaveta e diz-se agora disponível para “falar com todos“, exceto o Chega, depois da ida às urnas deste domingo. “Acho que o que os portugueses têm dito com toda a clareza é que querem que, depois de domingo, haja a capacidade de diálogo com as diferentes forças políticas”, sublinhou o secretário-geral dos socialistas esta segunda-feira, em entrevista à RTP.

Se a princípio António Costa até evitava a expressão “maioria absoluta” — pedindo, ao invés, “metade mais um” dos deputados na Assembleia da República e uma maioria estável –, nos últimos dias deixou de lado esse receio e passou a fazer um apelo claro aos eleitores portugueses. “Para servir bem Portugal e servir bem os portugueses, não precisamos de uma vitória qualquer, precisamos de uma vitória com uma maioria absoluta“, afirmava o líder do PS, ainda na semana passada, num comício em Machico, na Madeira.

Entretanto, esse apelo desapareceu do discurso do secretário-geral dos socialistas, numa altura em que, a menos de uma semana da ida às urnas, as sondagens dão uma vantagem (ainda que ligeira) a Rui Rio.

Assim, em entrevista esta segunda-feira à Rádio Renascença, o líder socialista não pediu uma única vez (pelo menos, não diretamente) a maioria absoluta. Ao invés, fez questão de sublinhar que não fecha a porta ao diálogo nem com os antigos parceiros da geringonça, nem com a direita (exceto o Chega). “Vamos ter de nos encontrar com todos”, afirmou, reconhecendo que os portugueses “não têm grande amor pela maioria absoluta“.

António Costa foi, depois, à RTP e voltou a pôr em prática esta (nova) estratégia: “Tenho ouvido os portugueses e acho que o que os portugueses têm dito com toda a clareza é que querem que, depois de domingo, haja a capacidade de diálogo com as diferentes forças políticas“, salientou. “Da minha parte, aquilo que saberei fazer, seguramente, é falar com todos. Chega não, porque não vale a pena. Não temos nada a dizer”, detalhou o mesmo.

O secretário-geral do PS disse estar “preparado para falar com todos”, não só com a esquerda, defendendo que é preciso “virar a página e não acumular rancores, conflitos e tensões” — referindo-se indiretamente ao chumbo da proposta de Orçamento do Estado para 2022 –, mas também com a direita. “É preciso diálogo”, insistiu Costa, que deixou um aviso ao líder do partido laranja: “Espero que Rui Rio compreenda que o diálogo que deve ter não é com a extrema-direita. O diálogo que deve ter é um que seja positivo para o futuro do país”.

Esta mudança de estratégia do PS foi, de resto, identificada pelo próprio presidente do PSD. “António Costa disse que «ou há uma maioria absoluta do PS ou não falamos com ninguém» e acabou. «Não falamos à nossa direita com o PSD, nem voltamos a falar com a geringonça porque ela é impossível». Disse isto durante muito tempo. Ontem já disse uma coisa muito diferente. Ora diz uma coisa, ora diz outra”, atirou Rui Rio, em entrevista à estação de televisão pública.

Da parte dos social-democratas, uma vitória na ida às urnas de domingo significa dialogar preferencial com o CDS-PP e com a Iniciativa Liberal. “A questão é se juntos teremos os 116 deputados”, notou Rio. A sondagem da Aximage para o Jornal de Notícias, Diário de Notícias e TSF dá ao PSD 34,4% das intenções de voto, mais seis décimas do que ao PS, confirmando a tendência já indicada pela sondagem da Pitagórica para a TVI e CNN Portugal.

Também à esquerda, a mudança no discurso de António Costa foi notada. “O PS deixou de falar de maioria absoluta e fala de necessidade de entendimentos, ainda bem”, observou a bloquista Catarina Martins, garantindo que o importante é “construir soluções“. Da parte do PCP, João Oliveira sublinhou que os comunistas pretendem “contar com todas as forças políticas e sociais” para construir as “soluções” para o país.

O referido estudo da Aximage sinaliza que o Chega continua em terceiro lugar, com 8% das intenções de voto, seguindo-se o Bloco de Esquerda, com 6,6%, a CDU, com 4,5%, o PAN, com 3,2%, a Iniciativa Liberal, com 2,8%, o CDS-PP, com 1,6% e o Livre, com 1,4%. Contas feitas, pela primeira vez, a direita já consegue recolher mais votos que a esquerda (46,8% contra 46,3%).

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