Quando é mais recomendado usar saliva para testar a Covid?
O método de referência para deteção do SARS-CoV-2 continua a ser a colheita através do trato respiratório, contudo, estudos preliminares indicam que os testes à saliva podem ser bastante eficazes.
O surgimento da variante Ómicron veio reabrir o debate sobre qual será a melhor forma de testagem para a deteção do SARS-CoV-2. Atualmente o método de referência continua a ser a colheita através das fossas nasais ou da nasofaringe, contudo, há cada vez mais cientistas a defenderem outros métodos, como a colheita através de amostras de saliva. Mas, afinal, o que se sabe sobre estes testes e em que situações são mais aconselháveis?
“O método de referência é a colheita por nasofaringe, mas há uma tentativa de apostar noutro tipo de amostras“, como a colheita através de amostras de saliva, dado que neste caso, “há menos necessidade de utilizar-se material específico como as zaragatoas”, bem como, “menos necessidade os profissionais de saúde estarem evolvidos”, sinaliza Mariana Marques, médica de Patologia Clínica no Hospital de São João, em declarações ao ECO. “Tudo isto reduz um bocadinho a pressão nos cuidados de saúde e isto é muito importante numa situação de pandemia para se conseguir realizar rastreios em massa”, acrescenta.
Tal como acontece com a colheita por nasofaringe, os testes à Covid a partir da colheita de amostras de saliva estão disponíveis quer para PCR, quer para os testes rápidos de antigénio. Contudo, para efeitos de diagnóstico à Covid, a Direção-Geral de Saúde (DGS) apenas recomenda a utilização de um teste PCR a partir de amostras de saliva, como “alternativa às amostras do trato respiratório”, nomeadamente “em crianças e em situações de rastreio em contexto comunitário e/ou ocupacional”, lê-se na norma 019/2020, referente à estratégia de testagem, atualizada pela última vez a 12 de janeiro.
Ao ECO, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) adianta ainda que para os testes de amostras de saliva, deve ser realizada a “técnica da PCR, para que a sensibilidade para a deteção viral seja comparável e com elevada concordância ao que seria obtido com uma amostra de exsudado da nasofaringe”.
Não obstante, têm surgido novos estudos preliminares que apontam que a colheita através de amostras de saliva ou através de amostras na garganta pode ajudar a detetar mais precocemente casos de infeção por Covid-19 nos testes PCR, quando comparado com a colheita a partir das fossas nasais (também em PCR), tal como revelou o The New York Times.
“Aquilo que se concluiu até agora, pelo menos nos testes de PCR, é que apesar de a saliva parecer ter uma percentagem de positividade ligeiramente inferior à da nasofaringe, que é o método de referência, estas diferenças não parecem ser estatisticamente significativas“, explica Mariana Marques, acrescentando que “de uma forma geral, existe uma positividade de 88% nos testes de saliva versus 94% nos testes PCR por nasofaringe”.
Nesse sentido, a médica de Patologia Clínica defende que estes testes podem ser “uma alternativa muito fiável”, dado que “os recetores víricos estão presentes em grande quantidade nas glândulas salivares”, pelo que tornam a amostra de saliva eficaz. A opinião é partilhada por Carlos Monteiro, CEO da BioJam, que aponta que os testes à Covid por amostras de saliva são especialmente indicados para “as crianças, os adolescentes e os idosos”.
Nesse contexto, o CEO da farmacêutica portuguesa — que entre outros produtos vende testes de antigénio a partir da colheita de amostras de saliva –, lembra, que, ao contrário do que acontecia com a variante Delta, a variante Ómicron tem “uma grande prevalência em crianças e adolescentes”, pelo que este método pode tornar menos desconfortável a realização do teste para as crianças de tenra idade.
Por outro lado, Mariana Marques sinaliza que o teste através de amostra de saliva pode ser especialmente vantajoso para os indivíduos assintomáticos. Os estudos preliminares indicam que “quando comparamos assintomáticos versus sintomáticos existe uma eficácia igual se for utilizada saliva, mas muito diferente se for a nasofaringe, isto é, com menos percentagem de positivos nos assintomáticos se for utilizada a nasofaringe”.
Quanto ao procedimento, quem vai fazer um teste com recolha de amostra de saliva não pode comer, beber ou fumar 30 minutos antes de realizar o teste. Certo é que com o aumento de infeções nas faixas etárias mais jovens, a procura por testes à saliva tem aumentado. “A adesão é enorme“, sublinha Carlos Monteiro, acrescentado que atualmente a BioJam tem uma capacidade para fazer “um milhão de testes de antigénio, entre naso-faringe, nasal e saliva”, por semana. Quanto ao preço, os testes de antigénio através da colheita de amostras de saliva vendidos pela BioJam custam 15 euros ao cliente final e são fabricados na Coreia do Sul.
O Governo decidiu prolongar até ao final de fevereiro o regime excecional e temporário que permite a comparticipação de quatro testes rápidos de antigénio à Covid nas farmácias e laboratórios aderentes por utente por mês. Contudo, esta comparticipação não abrange os testes de antigénio com colheita de amostras de saliva, pelo que tanto Mariana Marques como Carlos Monteiro defendem uma revisão desta medida. Contudo, ao ECO, o Ministério da Saúde aponta que para a realização de testes de antigénio “não são recomendadas amostras de saliva”.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Quando é mais recomendado usar saliva para testar a Covid?
{{ noCommentsLabel }}