Da riqueza ao valor: a mudança de paradigma necessária para equilibrar a balança das desigualdades
Enquanto não olharmos para o planeta como um todo, não poderemos trabalhar de forma consistente as desigualdades que afetam tantos milhões de forma negativa.
Faltam ainda largos passos para que possamos atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 10: a redução das desigualdades. Para consegui-lo, há uma série de fatores ainda a trabalhar: porque a desigualdade é uma consequência de um conjunto de fatores, tais como as alterações climáticas ou o desequilíbrio da diversidade.
A globalização tem acentuado cada vez mais as desigualdades entres os países e isso vê-se bem, com a atual pandemia e a forma como está a ser gerida a vacinação. Se alguns países mais desenvolvidos já planeiam uma quarta toma, há países que ainda não conseguiram vacinas para todos. Enquanto não olharmos para o planeta como um todo, não poderemos trabalhar de forma consistente as desigualdades que afetam tantos milhões de forma negativa, causando a fome e o perpetuando fraco acesso a recursos que proporcionem uma vida digna.
O caso das alterações climáticas, por exemplo, é crítico no que toca à aceleração das desigualdades. Durante décadas, os países mais ricos estiveram a utilizar os recursos naturais de uma forma intensiva e despreocupada. Hoje, a braços com a necessidade de transição energética e redução das emissões, exige-se aos países em desenvolvimento, que têm agora acesso a recursos nunca antes usados por eles e menos acesso a novas tecnologias, a ter de baixar a sua utilização, não permitindo um desenvolvimento à mesma velocidade dos anteriores.
Para que as desigualdades decresçam, é necessário, em primeiro lugar, definir os conceitos e os paradigmas pelos quais nos regemos para avaliar o sucesso das organizações e empresas. No mês passado, nos EUA, seis pessoas morreram numa fábrica da Amazon na sequência de um furacão no Estado de Illinois, depois de serem impedidas pela chefia de procurarem abrigo. Ora, isto mostra que o conceito de sucesso ainda está muito ligado ao dinheiro e não ao valor que tais organizações têm na sociedade. O que vale mais? A vida humana ou os milhares de dólares de prejuízo de uma fábrica. Enquanto existirem dúvidas sobre o que é mais sustentável para o nosso planeta — se o valor criado para a nossa sociedade ou o dinheiro gerado por determinada operação, não vamos conseguir mudar para melhor.
O conceito de sucesso das empresas e dos países precisa de mudar, não pode continuar a ser o mesmo que nos conduziu a este nível de insustentabilidade. De que servem conferências como a COP26 se continuamos a medir o valor dos países apenas com KPI como o PIB ou o valor das exportações? De que serve criar certificações B Corp, promover operações sustentáveis se continuamos a medir startups pela sua avaliação financeira e acesso a financiamento?
Os vetores de avaliação precisam de ser, também eles diversos, olhando não só para o produto financeiro das operações, mas também para o impacto na sociedade, nos índices de sustentabilidade não só económica, mas social e ambiental das suas operações. Qual o valor das suas emissões? Favorece e aproveita os recursos e economia local? Tem uma equipa diversa?
Aquando do lançamento de linhas de apoio e nas iniciativas de fomento ao desenvolvimento de negócios, como as que surgiram para a retoma, é necessário que, cada vez mais, existam fatores de avaliação que meçam vetores da sustentabilidade ambiental e social dos projetos e que estes tenham um peso significativo, sendo os projetos majorados, mesmo quando o seu foco não é capitalista.
Na Casa do Impacto fazemos questão de criar critérios de majoração que fomentam a igualdade, por exemplo, porque sabemos que é uma forma de acelerar o equilíbrio das questões da desigualdade. Acreditamos que a União Europeia e as entidades públicas devem valorizar estes pontos e afirmar publicamente essa valorização.
Mas há outras startups que estão a fazer isto: a <Academia de Código_>, por exemplo, impulsiona a formação em tecnologias de informação por parte de mulheres, contribuindo assim para o cumprimento de uma das métricas do ODS 9 (Formação de mulheres em disciplinas STEM), e a Speak, por exemplo, promove a integração e a inclusão de tantas pessoas que chegam a novos países em contexto de clara desvantagem social e económica, ajudando-as a integrarem-se numa nova cultura e permitindo assim a sua autonomia.
É urgente dar mais peso às métricas de impacto, deixando de tratá-las como acessórias, mas assumindo-as como vetores fundamentais da avaliação dos negócios, ou corremos o risco de continuar a valorizar organizações e operações insustentáveis a longo prazo. Só assim poderemos equilibrar as desigualdades e injustiça sentida pelos mais desfavorecidos.
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