Semear para o futuro
Em 2020, os homens representavam 83% das 2,7 milhões de pessoas empregadas no setor das TIC na UE, segundo dados do Eurostat. Portugal está em linha com estes números: 81% homens e 19% mulheres.
A educação é um direito que nos assiste e o conhecimento deve ser uma prioridade. A capacitação de todos, sobretudo face às exigências de uma economia globalizada e cada vez mais assente nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), é, por isso, obrigatória e necessária.
Nenhum jovem português deve ser impedido de prosseguir os seus estudos por falta de condições financeiras. E as cerca de 3000 candidaturas registadas no programa de bolsas de estudo da Huawei Portugal, desenvolvido em parceria com o .PT – e com o apoio oficial da Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Portugal Digital, INCoDe.2030 e Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género –, sublinham a importância de iniciativas que contribuam para não deixar ninguém para trás.
Enquanto País, não podemos fazer uma transição digital bem-sucedida sem capacitar e formar o talento e os profissionais de que precisamos para suportar esse caminho. É certo que a tecnologia é instrumental e nunca um fim em si mesmo. Mas todas as empresas serão, à sua maneira, empresas de tecnologia. A infra-estrutura de TIC é a base de um mundo cada vez mais conectado e inteligente, e será determinante não só para atrair investimento externo, mas também no sentido de posicionar Portugal como destino de excelência para empresários, inovadores, startups e projectos industriais. Ou seja, o talento vai aumentando a sua preponderância numa sociedade que caminha para a digitalização, assumindo-se como tão fundamental quanto as infra-estruturas.
Mas vejamos os números que fazem uma radiografia de Portugal no campo do conhecimento associado às TIC. De acordo com a Pordata, a nível nacional apenas 8% do total de alunos matriculados no ensino superior se inscreveram em cursos STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática) em 2020, traduzindo-se, segundo dados da OCDE, numa das percentagens mais baixas de diplomados na área. Precisamos de formar mais profissionais nestas áreas. E é impossível abordar este desígnio sem endereçar a necessidade de atrair mais talento feminino para as TIC, dado o óbvio desequilíbrio de género existente. As empresas terão, obrigatoriamente, um papel preponderante neste contexto. Em 2020, os homens representavam 83% das 2,7 milhões de pessoas empregadas no setor das TIC na União Europeia, segundo dados do Eurostat. Portugal está em linha com estes números (81% homens e 19% mulheres).
Ninguém se quer tornar algo que não sabe que existe. Daí que seja importante valorizar os role models, que podem ajudar a quebrar mitos. Felizmente, temos em Portugal inúmeros exemplos de mulheres inspiradoras que lideram entidades – do sector público e privado – nestas áreas.
Projectos como a Summer School for Female Leadership in the Digital Age, desenvolvido em conjunto com a Huawei Portugal e exportado para outras geografias europeias, mostrou que é possível inspirar confiança e promover a mudança quando o sector privado mobiliza recursos em prol de uma causa que faz sentido e nos toca a todos.
Em paralelo, é fundamental criar oportunidades de formação na área tecnológica, para que cada vez mais jovens possam compreender e dominar as tecnologias do presente e do futuro. E sim, talvez tenhamos de promover alguma discriminação positiva para acelerar a redução dos desníveis existentes, porque o mundo hoje evolui a uma velocidade diferente e as tecnologias que moldarão a nossa vida – como os sistemas que recorrem a Inteligência Artificial – não podem, nem devem, ser configurados com base numa única forma de olhar para a sociedade. É por isso que a diversidade – e não estamos só a falar de género – é tão importante neste sector e deve estar presente nas decisões dos gestores e responsáveis desta área.
Foi com estes princípios em mente que, numa reunião de trabalho interna, decidimos anunciar a intenção de atribuir metade das 50 bolsas de estudo a estudantes no feminino. Através desta decisão, e do apoio dos parceiros que, entretanto, se juntaram a nós, ganhámos um sentido de propósito adicional e esperamos mobilizar as futuras engenheiras deste país para abraçarem uma carreira e assumirem também a liderança numa indústria tão crítica para o nosso desenvolvimento colectivo. Decisões que até parecem simples, tomadas em salas de reuniões (físicas ou virtuais), podem ter um impacto simbólico positivo e lembrar-nos que todos nós, à nossa maneira, podemos fazer algo em prol de uma sociedade mais inclusiva, mais justa e mais capacitada. Dado que o desequilíbrio de género nesta área é também evidente nos alunos matriculados no Ensino Superior, sabíamos que este objectivo era altamente ambicioso. No entanto, fomos surpreendidos quando começámos a olhar para os números: cerca de 45% dos estudantes que concorreram a este programa são mulheres. Ou seja, uma decisão administrativa, gerou uma nova âncora de comunicação e um propósito que mobilizou os destinatários, que responderam massivamente ao repto lançado.
Convém salvaguardar que falta ainda apurar quantas destas candidaturas são elegíveis, bem como percorrer um processo que gerará uma shortlist avaliada por um júri independente. Mas estes resultados preliminares deixam-nos satisfeitos e com razões para acreditar que teremos, cada vez mais, uma indústria mais diversa, equilibrada e inclusiva.
(o autor escreve de acordo com o antigo acordo ortográfico)
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