País Scale-Up: que futuro para Portugal?
Há sinais que não podem deixar de ser valorizados sendo um dos exemplos mais gritantes o facto de entre os sete unicórnios fundados por talento português, apenas um deles estar sediado no nosso país.
Nos últimos anos, Portugal mostrou que tem todos os ingredientes para atrair talento e investimento através da construção de um ecossistema empreendedor baseado na inovação tecnológica, na sua cultura de abertura e acolhimento, numa posição geográfica estratégica e na facilidade de comunicação em línguas estrangeiras, nomeadamente em inglês. Isto só foi possível devido ao trabalho realizado por diferentes atores do ecossistema – startups, empresas, investidores, instituições públicas, universidades e impulsionadores de ecossistema, como as incubadoras, – no sentido de construir e levar a cabo uma agenda de prioridades comuns.
Os números mostram que o investimento em startups, em 2021, cresceu mais de 100% em relação ao ano anterior. As startups representam 1% do PIB de Portugal e mais de 25 mil postos de trabalho. E os sete unicórnios portugueses estão avaliados em 35 mil milhões de euros, mais de 16% do PIB (fonte: IDC).
Percorrido este caminho, é tempo de atualizar os instrumentos e incentivos públicos de forma que estes possam suportar melhor a evolução do ecossistema para uma fase mais madura.
Com efeito, apesar do crescimento registado nos últimos anos, há sinais que não podem deixar de ser valorizados sendo um dos exemplos mais gritantes o facto de entre os sete unicórnios fundados por talento português, apenas um deles estar sediado no nosso país.
Como podemos melhorar?
Talento: rever fiscalidade, baixar a burocracia e melhorar o tempo de resposta
O talento é a mais relevante fonte de valor do nosso ecossistema. Para fazê-lo crescer, precisamos estar mais alinhados com as necessidades das startups em matéria de timings e burocracia – fatores fundamentais para a contratação e retenção de talento. Iniciativas como o Startup Visa, criado em Portugal em 2018, foram boas práticas que nos diferenciaram e que só agora estão a ser replicadas noutros países como Espanha, através de uma recente lei de startups. Mas para torná-las verdadeiramente relevantes, para o talento estrangeiro de hoje, e também mais alinhadas com a velocidade de crescimento das nossas startups, precisamos de simplificar os seus processos administrativos. Desbloquear o benefício das stock options, deixando de o penalizar com uma fiscalidade desajustada, e acelerar iniciativas como e-residency são outros passos importantes para atrair e reter o talento.
Investir num futuro responsável e sustentável
Fomentar incentivos para startups dentro da economia digital e de impacto é uma oportunidade-chave para o nosso ecossistema. Com uma história profundamente marcada por uma economia social e instituições sociais ativas, cada vez mais startups em Portugal têm trabalhado em soluções para ajudar a alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Criar ferramentas financeiras para apoiar empreendedores que possam incentivar o ecossistema a ser mais ambicioso com as suas métricas de impacto é fundamental para construir um futuro económico mais responsável e sustentável.
Upskill de Incubadoras
As incubadoras têm sido fundamentais no desenvolvimento das nossas startups. Elas andam de mãos dadas com os empreendedores, apoiando-os e orientando-os para que consigam resultados mais rápidos, para que entrem em contato com investidores e para que conquistem mais clientes. É necessário disponibilizar mais recursos para que as incubadoras ganhem novas capacidades para melhor responderem a um número crescente de empreendedores e startups em diferentes fases de crescimento. Os 20 milhões de euros oriundos do PRR para o período 2022-2025 vão ser fundamentais neste campo.
Internacionalizar continua a ser preciso
Para as nossas startups, internacionalizar é a via única para ganhar uma escala relevante. Precisamos de apoiar os empreendedores nas suas estratégias de internacionalização, dando-lhes acesso a programas que exponham os seus negócios a mercados internacionais, ajudando-os assim a escalar. Além disso, é essencial atrair grandes investidores estrangeiros para Portugal, evitando que as startups sejam obrigadas a sair do país apenas para concretizar rondas de financiamento mais elevadas. Promovendo a entrada de investidores estrangeiros em Portugal, teremos também mais condições para atrair e reter talento no nosso país.
Europa, o continente das startups
No último trimestre de 2021, foi formalmente criada a Europe Startup Nations Alliance, uma iniciativa da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia. Esta aliança terá a sua sede em Lisboa e representa uma grande oportunidade para o nosso ecossistema se destacar como ator e influenciador no desenvolvimento de iniciativas e políticas europeias de incentivo ao empreendedorismo.
Temos um grande desafio pela frente: mais do que ter Portugal como um país “amigo” das startups, importa agora desenvolver uma economia ainda mais impulsionadora do seu crescimento. Para isso, devemos construir ferramentas que permitam aumentar a atratividade do ecossistema português, reforçando-o como a opção certa para o lançamento e fixação de startups, independentemente do seu grau de maturidade. Se o fizermos, Portugal terá certamente condições para atingir outros níveis de crescimento.
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