Juros da dívida voltam a acelerar perante dilema do BCE

O BCE vai adiar a normalização da política monetária por causa do impacto da guerra? Ou começar a subir juros por causa da inflação? Dilema está a deixar investidores ziguezagueantes na dívida.

Os juros da dívida da Zona Euro também andam numa verdadeira montanha-russa por estes dias. Na terça, afundaram significativamente, com os investidores a reajustarem-se de forma agressiva a uma expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) vai ser mais suave no aperto da política monetária por causa da guerra na Ucrânia. Mas sobem hoje pelo segundo dia e de forma acelerada, perante o dilema que Christine Lagarde enfrenta: adiar a normalização da política à espera de perceber as consequências do ataque russo ou responder à alta inflação?

A incerteza quanto ao rumo dos juros do BCE está a deixar o mercado secundário de dívida bastante sensível.

Portugal, Itália, Espanha e Alemanha viram as taxas das obrigações a dez anos caírem significativamente há dois dias, registando quedas de mais de 30 pontos base, guiadas pela mudança repentina das expectativas os investidores para um banco central mais cauteloso quanto ao rumo dos juros de referência. Vários responsáveis do BCE haviam destacado a necessidade de se avaliar o impacto da guerra para a economia antes de restringir as condições financeiras.

Entretanto, parte dessas quedas já foi amplamente anulada esta quarta e quinta-feira, sobretudo depois de se saber que a taxa de inflação na Zona Euro acelerou para 5,8% em fevereiro e numa altura em que o disparo nos preços do petróleo para os 120 dólares cimenta a ideia de uma elevada inflação durante mais tempo. Já esta quinta-feira o Eurostat revelou que os preços na indústria aceleraram 5,2% na região.

A yield portuguesa sobe assim para os 0,904% esta manhã, mais 17 pontos em relação a terça, enquanto as taxas italianas e espanholas registam saltos de mais de 20 pontos base para 1,626% e 1,05%, respetivamente. Quanto aos juros das bunds, voltam a terreno positivo, negociando agora nos 0,047%.

Juros da dívida voltam a subir

Fonte: Reuters

O BCE tem reunião da política monetária agendada para dentro de uma semana e cresce a expectativa em relação ao que a presidente terá a dizer em relação àquilo que será a abordagem do banco central perante a guerra, as sanções e a ameaça cada vez mais presente de um cenário de recessão e alta inflação (estagflação).

Ainda esta quarta-feira o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, voltou a alertar para o risco de um cenário de estagflação que “está à nossa frente”. “Isso dependerá, obviamente, da duração do conflito e da resposta mais ou menos concertada (da política orçamental) dos europeus”, acrescentou.

Menos dúvidas terão os investidores em relação ao comportamento da Reserva Federal norte-americana, depois de o presidente Jerome Powell ter dito esta quarta que é “apropriado” a Fed começar a subir os juros, enquanto o banco central do Canadá já começou a fazê-lo.

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