Centeno alerta para risco de trimestres com crescimento nulo este ano
Governador avisou que economia da Zona Euro poderá ter um mau desempenho este ano pois mesmo o cenário adverso de crescimento de 2,5% tem fatores que já estão desajustados da realidade.
O governador do Banco de Portugal pediu cautela na leitura das previsões económicas divulgadas esta quinta-feira Banco Central Europeu (BCE), e que apontam para um crescimento do PIB de 3,7% na Zona Euro em 2022. Mário Centeno avisou que mesmo o cenário adverso, que projeta um crescimento de apenas de 2,5%, tem em conta fatores como o preço da energia que já foram “ultrapassados” pelo mercado. Neste cenário mais pessimista, avisou ex-ministro das Finanças e membro do conselho de governadores do BCE, a economia da moeda única arrisca-se a ter trimestres de crescimento nulo ou mesmo de contração em cadeia (variações entre trimestres).
“Portugal e Europa vão viver em 2022 muito à custa do que os economistas chamam de efeito carry over do crescimento de 2021. Se todos os trimestres de 2022 tiverem um crescimento zero em cadeia, face ao trimestre anterior, ainda assim a economia da área do euro no conjunto de 2022 vai crescer 2,1%”, explicou Mário Centeno na Conferência da Ordem dos Economistas sobre “Portugal: objetivo crescimento”, realizada na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
Já no cenário adverso o crescimento previsto é de apenas 2,5%. “O que significa essencialmente que trimestre após trimestre, o crescimento da Zona Euro vai ser muito baixo, senão mesmo em alguns trimestres zero ou eventualmente negativo”, avisou.
Esse risco é mais real até porque “o cenário adverso tem hipóteses externas, por exemplo, em relação ao preço dos bens energéticos, que já estão ultrapassadas”. “Podem avaliar por aqui a verosimilhança desse cenário”, alertou Mário Centeno.
Quer resposta coordenada como em 2020
O governador disse que o nível de recuperação observado desde o final de 2020, na sequência do impacto da pandemia, não conforta na sua robustez de crescimento.
Com a política monetária a mudar de ciclo, para uma “posição neutra” e “menos acomodatícia”, é importante agora que “a dimensão orçamental europeia” acompanhe essa transição do BCE e quando se avizinham impactos da guerra na Ucrânia, segundo Mário Centeno, pedindo uma resposta coordenada como aquela que a Europa deu à crisa da pandemia em 2020.
“A coordenação entre as políticas orçamentais e monetária europeia conseguida de forma única em 2020 [na resposta à crise pandémica] não deve nem pode ser perdida e deve continuar a ser o mote das decisões que vamos tomando, cada um nas suas funções, e seguramente de forma independente nos seus objetivos”, referiu Centeno.
Apesar do travão, o economista afastou o cenário de estagflação na Zona Euro. Embora a inflação vá permanecer alta e havendo o risco de uma redução acentuada da atividade económica, o mercado de trabalho na Europa continua a dar sinais positivos e prevê-se que o desemprego vá continuar em níveis reduzidos.
Reduzir dívida e aproveitar fundos europeus
Em relação a Portugal, o governador deixou sobretudo duas ideias principais.
Deve manter a redução da dívida, enquanto reforça o crescimento e investimento. É “um evento raro”, admitiu Centeno, mas “foi exatamente isso que caracterizou o desenvolvimento da economia nos últimos sete anos e é o que temos de fazer”. É preciso “reconstruir a nossa dívida para promover o crescimento económico”.
Além disso, reclamou uma “utilização efetiva, eficaz e transversal dos fundos europeus” e deixou um sério alerta: “Acreditem, desta vez é mesmo diferente. E não estou certo de que a Administração Pública em Portugal esteja ciente disso. Ao olhar para os parcos 17% de investimento público financiado por fundos europeus nas contas de 2021 diria que não está mesmo nada ciente”.
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