Fed sobe juros pela primeira vez desde 2018 e dá início a novo ciclo nos EUA

Fed subiu os juros pela primeira vez desde 2018 para conter pico de preços. Vêm aí mais seis subidas este ano. Presidente Powell admite que pode ser mais agressivo se combate à inflação assim exigir.

Presidente da Fed, Jerome Powell.Reserva Federal/DR

Como era amplamente esperado, a Reserva Federal norte-americana (Fed) subiu os juros de referência em 25 pontos base para travar a escalada dos preços no país, e nem o potencial impacto da guerra na Ucrânia na economia impediu o banco central de dar início a um novo ciclo de normalização da política monetária na maior economia do mundo. As taxas deverão subir mais seis vezes este ano até perto de 2%. O presidente Jerome Powell quis mostrar pulso firme em relação ao seu compromisso com a estabilidade dos preços, algo que tinha “dado como garantido” até agora: “Se tivermos de subir os juros mais rapidamente, é o que faremos”.

É a primeira subida dos juros da Fed desde dezembro de 2018, numa decisão que coloca agora a taxa de referência entre 0,25% e 0,50%.

Por outro lado, também representa o primeiro de mais aumentos que se esperam nos próximos tempos para fazer face a uma taxa de inflação que se encontra em máximos de 40 anos, perto dos 8%. Ao aumentar os juros, a Fed agrava o preço do dinheiro, agravando nomeadamente os empréstimos às empresas e famílias, travando a atividade económica para assim conseguir fazer baixar os preços.

A decisão foi consensual entre quase todos os membros, à exceção do presidente da Fed de St. Louis, James Bullard, que queria uma subida de 50 pontos base.

Juros sobem mais seis vezes este ano

Após mais uma reunião de dois dias, o Comité do Mercado Aberto da Fed está agora a apontar para aumentos das taxas em cada uma das seis reuniões que ainda vão ter ao longo deste ano, o que atirará a taxa dos fundos da Fed para os 1,9% até final do ano. O comité antecipa ainda mais três aumentos em 2023, quando se prevê que os juros atinjam os 2,3%, e zero subidas no ano seguinte.

O mercado já estava à espera que o banco central liderado por Jerome Powell fosse mais agressivo a subir agora os juros do que no anterior ciclo de subidas, quando aumentou as taxas por oito vezes num total de dois pontos percentuais entre 2017 e 2018.

Entretanto, a pandemia trouxe os juros de novo para perto de zero em 2020 e por lá continuaram até agora. As taxas preparam-se para descolar novamente, mesmo num cenário de guerra na Europa e de sérias implicações económicas por causa da subida dos preços da energia e matérias-primas e das sanções impostas a Moscovo.

Comité do Mercado Aberto da FedReserva Federal/DR

“Já não me lembrava como era termos uma inflação tão elevada”

Em conferência de imprensa, o presidente da Fed disse que o “momento para começar a subir os juros e reduzir o balanço chegou” e que “a economia está muito forte” e o mercado de trabalho vive um “momento tremendo”. “Vi um comité determinado em usar as ferramentas para assegurar o objetivo da estabilidade dos preços”, afirmou Jerome Powell.

Powell deixou uma mensagem clara aos mercados e sobretudo aos consumidores em relação ao compromisso no combate à inflação, com o banco central a tentar recuperar a credibilidade neste aspeto: “Se a inflação mostrar a necessidade de subir os juros mais rapidamente, é o que faremos”, assegurou, adiantando que a Fed também vai reduzir o seu balanço “para assegurar que a alta inflação não se enraíze”.

Disse mesmo que já não se “lembrava como era ter uma inflação tão elevada” e que deu a estabilidade dos preços como uma coisa garantida.

“Estamos muito comprometidos em trazer a inflação para os níveis normais, de 2%. Quero que as pessoas entendam que a forma de o fazermos é subindo os juros e reduzindo o balanço, assim as condições financeiras irão abrandar a economia. A boa notícia é que a economia e o mercado estão muito fortes e aguentam a subida dos juros“, explicou Powell.

"Se a inflação mostrar a necessidade de subir os juros mais rapidamente, é o que faremos.”

Jerome Powell

Presidente da Fed

Guerra na Ucrânia vai pesar na economia

As perspetivas económicas foram revistas, com a Fed a antecipar uma inflação mais elevada do que esperavam em dezembro e um crescimento da economia mais lento.

O índice de preços no consumidor deverá atingir os 4,1% este ano, bem acima da anterior projeção de 2,7%.

Quanto ao PIB, os 4% de crescimento projetado há três meses foram cortados para 2,8%, com a Fed a admitir que, apesar da enorme incerteza, o conflito na Ucrânia vai certamente afetar a economia dos EUA.

“A invasão da Ucrânia pela Rússia está a provocar enormes dificuldades humanas e económicas”, disse o comité em comunicado. “As implicações para a economia dos EUA são altamente incertas, mas, no curto prazo, a invasão e os eventos relacionados provavelmente criarão uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e pesarão na atividade económica”.

(Notícia atualizada às 19h33)

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