A disrupção do business as usual

  • Susana Pinto Coelho
  • 13 Abril 2022

Não sabemos como será o amanhã, mas de entre tantas dúvidas que a situação atual nos coloca, uma certeza parece impor-se: o ESG veio para ficar. Os erros do passado não podem nem devem ser replicados.

O mundo mudou no dia 24 de fevereiro, num braço de ferro sem precedentes entre o passado e o futuro. Tabus históricos foram quebrados – num movimento uníssono raro ao longo da história recente – e o mundo corporativo ocidental reagiu como nunca antes visto.

A guerra na Europa inverteu a norma do business as usual e impôs o paradigma do ESG. As empresas foram chamadas a posicionar-se, perante um conflito que vai, necessariamente, provocar impactos incalculáveis no mundo que hoje conhecemos. Na tomada de decisão, os imperativos morais e éticos prevaleceram, associados às estratégias adotadas que refletem a estrutura ESG que os investidores têm vindo a implementar com vista a desenvolver a economia do século XXI.

De entre o espectro ESG, a componente Social – e em particular a defesa da dignidade humana e dos direitos humanos – terá sido o gatilho inicial para a reação firme e imediata de grande parte dos atores económicos ocidentais. Mas a importância do ESG na atividade económica está sobretudo relacionada com a gestão e mitigação de riscos reputacionais, legais e financeiros. Riscos estes que as empresas deixaram de poder estar disponíveis para assumir, independentemente das consequências imediatas e/ou a médio-longo prazo.

A rapidez da sequência de eventos terá surpreendido os menos atentos, mas era de algum modo expectável para quem há muito vem acompanhando o novo paradigma da atividade económica. Se há muito se discute que o lucro não é nem pode ser tudo, a agressão pouco mais que gratuita a um território soberano veio confirmar o posicionamento de empresas, acionistas e stakeholders – nas palavras do Secretário Geral das Nações Unidas “enough is enough.”

No rescaldo dos eventos dramáticos que todos assistimos, seremos todos colocados perante desafios sem precedentes – por causa da crise humanitária e de segurança internacional, mas também pelos desafios despoletados pela crise energética e económica associada.

Mas as crises trazem também oportunidades e a urgência em encontrar soluções permite alcançar os consensos necessários para ultrapassar tabus persistentes. Em poucos dias a UE anunciou em tempo recorde o plano de ação REPowerEU que inclui potenciais medidas de apoio à escalada da subida dos preços da energia, define novas regras para limites mínimos de armazenamento de gás, e medidas específicas destinadas à redução da dependência do gás russo. O plano de ação promove também a aceleração da transição energética, o investimento massivo em fontes renováveis ou limpas, a aceleração da descarbonização da indústria, e a diversificação das fontes de gás e petróleo, com vista a promover a segurança e independência energética, sem prejudicar os compromissos ambientais assumidos pela UE.

As empresas serão obrigadas a definir e adotar novas estratégias para atuar num novo paradigma energético e económico. Em paralelo, o investimento ESG tem potencial para aumentar exponencialmente. É, por isso, expectável que no futuro próximo se verifiquem mais desenvolvimentos relevantes em matéria de regulação ESG, tanto no espaço da UE como a nível internacional.

Não sabemos como será o amanhã, mas de entre tantas dúvidas que a situação atual nos coloca, uma certeza parece impor-se – o ESG veio para ficar. Os erros do passado não podem nem devem ser replicados.

  • Susana Pinto Coelho
  • Sócia da Miranda e responsável da ESGimpact+ Team da Miranda Alliance

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