Banco de Portugal corta previsão do PIB para 4,9% em 2022 por causa da guerra
A instituição liderada por Mário Centeno reviu em baixa o PIB de 2022, de 5,8% para 4,9% por causa da guerra na Ucrânia. No cenário adverso crescimento da economia portuguesa pode ficar pelos 3,6%.
No novo boletim económico de março, o Banco de Portugal revê em baixa o crescimento económico de Portugal para 4,9% em 2022, abaixo dos 5,8% que previa no boletim de dezembro. O banco central admite esta quinta-feira que “a invasão da Ucrânia pela Rússia contribui para limitar o dinamismo económico”. No cenário adverso construído pelo BdP, o crescimento do PIB fica pelos 3,6% este ano.
“A economia portuguesa mantém um perfil de crescimento em 2022-24, num contexto de incerteza acrescida associada ao conflito na Ucrânia“, escrevem os economistas do banco central, antecipando que “o Produto Interno Bruto (PIB) cresce 4,9% em 2022, 2,9% em 2023 e 2,0% em 2024” ao beneficiar “de maiores recebimentos de fundos da União Europeia e da manutenção de condições financeiras favoráveis”. Esta revisão em baixa em 2022 é atribuível em quatro décimas à revisão do PIB em 2021 e em cinco décimas à quinta vaga da pandemia e à guerra, segundo explicou Mário Centeno.
A confirmar-se esta previsão para 2022, tal representa uma manutenção do ritmo de crescimento de 2021, ano em que o PIB também expandiu 4,9%. No cenário central, o PIB português recupera na segunda metade de 2022 ao nível pré-pandemia, em vez de no primeiro semestre como se previa até ao momento. “É a primeira vez em muito anos que há dois choques exógenos sobrepostos: a pandemia e a guerra”, notou Centeno, assinalando que “Portugal vai continuar a crescer, mas este é um crescimento com fatores de atenuação bastante claros“.
A 10 de março, o Banco Central Europeu (BCE) reviu em baixa o crescimento do PIB da Zona Euro de 4,2% para 3,7%, menos cinco décimas, o que compara com as nove décimas da revisão apresentada esta quinta-feira pelo BdP para Portugal. No cenário adverso, o PIB da Zona Euro crescerá apenas 2,5% em 2022.
A previsão divulgada pelo Banco de Portugal reflete o impacto negativo sobre a economia que “decorre do agravamento da subida dos preços das matérias-primas, da redução da confiança dos agentes económicos, da turbulência nos mercados financeiros e dos efeitos das sanções comerciais e financeiras impostas à Rússia”.
Além disso, o banco central diz que a economia cresceu menos do que o esperado no quarto trimestre de 2021 e que no primeiro trimestre houve “indicadores mais fracos” por causa da quinta vaga da pandemia. A isto soma-se a “redução do poder de compra devido à inflação e às hipóteses externas menos favoráveis”.
Porém, “as projeções assumem que não se verifica uma escalada do conflito e que o impacto destes fatores e dos constrangimentos de oferta global se dissipam no médio prazo“.
Na semana passada, o Conselho das Finanças Públicas divulgou uma nova previsão para o PIB de 2022 de 4,8% (num cenário adverso apontava para 3,5%), o que fica apenas a uma décima de distância da previsão do Banco de Portugal. Anteriormente, vários jornais revelaram que António Costa terá dito na última reunião do Conselho de Estado que o Governo está neste momento a trabalhar com uma previsão de 5%, abaixo dos 5,5% fixados na proposta do Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022) entregue em outubro do ano passado.
No cenário adverso do Banco de Portugal, os crescimentos do PIB em cadeia (de um trimestre para o outro) são nulos no conjunto do ano, com o PIB a crescer 3,6%. “Pode haver trimestres com variações negativas em cadeia”, admitiu Centeno, principalmente se a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) não cumprir o calendário previsto. Por outro lado, o banco central nota que a recuperação pós-conflito deverá ser “significativa”, apesar de ser “muito difícil datar este cenário”.
Execução do PRR é “absolutamente essencial” nesta previsão
Em mais um recado para o Governo e administração pública, Mário Centeno repetiu, tal como tem feito nas suas últimas intervenções públicas, a ideia de que o Plano de Recuperação e Resiliência tem de ser executado tal como está definido e contratualizado com a Comissão Europeia. “É algo absolutamente essencial nesta previsão“, notou, destacando a “necessidade de aumentar a proporção de investimento público que é financiado por fundos europeus”.
Questionado sobre estas declarações, Centeno disse, por um lado, que é um “exagero dizer que a economia depende do PRR”, mas admitiu, por outro lado, que é um “ingrediente muito importante”. O governador disse que é preciso ter “paciência suficiente” para ver “materializar” os efeitos do PRR. “Não seria tão assertivo sobre a resposta sobre o atraso, mas com a expectativa do que venha a acontecer”, disse, notando a importância que é ter uma avaliação positiva do PRR para o futuro da política económica da UE. “Do sucesso desses PRRs nascerá a posição europeia para novos PRRs no futuro”, concluiu.
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