Alentejo e ilhas foram os campeões do crescimento das exportações em 2024

Maiores crescimentos em valor exportado, em 2024, verificaram-se na Madeira, Açores e Alentejo, com taxas homólogas superiores a 5%. Exportações a Norte caem 1,4%, para 26,8 mil milhões de euros.

O Norte do país continua a ser o principal produtor de bens portugueses para exportar, mas no ano passado sofreu uma quebra face ao ano anterior, quadro que também se verificou no Centro. De acordo com cálculos do ECO, com base em dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), os maiores crescimentos em valor exportado verificaram-se em bens produzidos na Madeira, Açores e Alentejo, com taxas homólogas superiores a 5%.

A região Norte é ‘rainha e senhora’ na produção de bens que Portugal vende ao exterior, até porque concentra grande parte da indústria portuguesa. Em termos absolutos, as exportações nesta região ascenderam a 26,7 mil milhões de euros em 2024, representando 33,75% do total das exportações nacionais. No ‘ranking’ foi seguida por Lisboa e pelo Centro (ver mapa).

No global, em 2024, as exportações portuguesas cresceram 2,5% face ao ano anterior, atingindo cerca de 79,3 mil milhões de euros. No entanto, considerando apenas Portugal Continental a taxa de crescimento do valor exportado foi apenas de 0,34%, enquanto a das regiões autónomas foi bastante superior, ainda que em termos absolutos o contributo seja menor. As exportações produzidas na Madeira subiram 6,1% e nos Açores 5,4%.

Por outro lado, no maior centro de exportação do país – o Norte -, o valor caiu 1,4% face ao ano anterior. “Ainda assim, a região Norte continua a revelar o maior excedente comercial de todas as regiões em 2,4 mil milhões euros, face ao défice de 27,7 nacional“, assinala Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP – Associação Empresarial de Portugal, em declarações ao ECO.

“O contexto internacional adverso tem muita influência numa região com elevada vocação exportadora e forte peso da indústria, como é o caso da Região Norte”, considera o responsável da associação empresarial.

O contexto internacional adverso tem muita influência numa região com elevada vocação exportadora e forte peso da indústria, como é o caso da Região Norte.

Luís Miguel Ribeiro

Presidente da AEP

O setor têxtil continua a encabeçar a lista dos bens mais vendidos pelo Norte ao exterior, representando 4,2 mil milhões de euros, apesar da quebra de 5,1% face ao ano anterior, seguido pelas máquinas (4,1 mil milhões), plásticos (2,8 mil milhões) e metais (2,7 mil milhões).

No entanto, a pressionar negativamente o desempenho nesta região face a 2023 estiveram o material de transporte, com uma quebra de 8,6% (para cerca de 2,5 mil milhões de euros), e o calçado, chapéus e artefactos de uso semelhante que recuaram 8,3% (para 1,6 mil milhões de euros).

“São setores de elevada especialização na região Norte, o que é preocupante. São necessárias políticas públicas que promovam a competitividade das empresas e a sua diversificação de mercados, nomeadamente via fundos europeus“, defendeu Luís Miguel Ribeiro.

Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneo, destacou que a quebra no setor se deve fundamentalmente ao contexto internacional e a uma alteração na estratégia de exportação.

Crescemos em quantidade e diminuímos em valor. Ou seja, exportámos mais sapatos, mas de valor menor. Isto acontece porque até há pouco tempo estávamos muito concentrados no calçado em couro e começámos a diversificar e exportar mais calçado de outros materiais. Vendemos a preços mais baixos em virtude disso”, explicou Paulo Gonçalves em declarações ao ECO.

Crescemos em quantidade e diminuímos em valor. Ou seja, exportámos mais sapatos, mas de valor menor.

Paulo Gonçalves

Porta-voz da APICCAPS

O responsável da APICCAPS adianta ainda que o setor também começou a importar mais algumas tipologias de sapatos, acrescentando a mais-valia em Portugal, para posterior exportação. Ademais, o contexto internacional foi “muito adverso”, uma vez que “os dois principais mercados – a Alemanha e França – têm tido desempenhos económicos fracos”.

“O ano de 2024 foi difícil, mas ainda assim o setor exportou para 170 países. O último trimestre já foi positivo para o setor”, salientou. A nível nacional, as exportações da indústria portuguesa do calçado aumentaram 3,3% em volume no ano passado, para um total de 67 milhões de pares, recuperando parte das quantidades perdidas no ano anterior. No entanto, o valor dessas vendas ao exterior diminuiu pelo segundo ano consecutivo (-6,5%) para 1.702 milhões de euros.

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Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

Além da quebra no Norte, as exportações do Centro caíram 1,2%, as do Oeste e Vale do Tejo recuaram 2,8% e as do Algarve diminuíram 1,34%. Por outro lado, as exportações do Alentejo cresceram 5%, para cerca de 2,8 mil milhões de euros (invertendo a queda de 14,6% registada em 2023 face a 2022), destacando-se o Baixo Alentejo e Alto Alentejo, com taxas de 15,9% e 6,3%, respetivamente.

Os produtos minerais e as gorduras e óleos animais/vegetais e de origem microbiana registam os valores mais elevadas das exportações alentejanas, com 943 milhões de euros e 790 milhões de euros em 2024, respetivamente. Em declarações ao ECO, David Simão, presidente da NERBE – Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral, assinalou “o aumento de produção das Minas de Aljustrel, cuja recuperação da atividade produtiva tem registado aumentos muito interessantes” e da conquista de mercado pelo azeite português lá fora.

A entrada em produção de novas áreas, torna o azeite cada vez mais uma atividade de referência no Baixo Alentejo. Acima de tudo com a inovação, temos aumentado a capacidade de transformação e de acrescentar valor ao que produzimos”, referiu.

A entrada em produção de novas áreas, torna o azeite cada vez mais uma atividade de referência no Baixo Alentejo. Acima de tudo com a inovação, temos aumentado a capacidade de transformação e de acrescentar valor ao que produzimos.

David Simão

Presidente da NERBE

Para o responsável alentejano, para que a região continue a registar estas taxas de crescimento é preciso condições que permitam às empresas aumentar a produção e torná-la mais eficiente. Para isso, defende a aposta em “infraestruturas, em acessibilidade e vias de comunicação”, considerando que apenas desta forma é possível incentivar o investimento e levar a região a não se limitar apenas ao setor primário.

“São precisos mais produtos transformados para que consigamos atingir mais mercados e mais rentáveis”, advoga.

No entanto, em termos de variação face a 2023 foram pérolas naturais ou cultivadas/pedras preciosas ou semipreciosas e semelhantes/metais preciosos/bijutaria/moedas que registaram a maior taxa de crescimento no Alentejo: 252,4% (para 655 mil euros exportados).

Já na Madeira, as exportações de bens de gorduras e óleos animais, vegetais ou de origem microbiana registaram a maior taxa de variação homóloga (para 232 mil euros), sendo os produtos das indústrias químicas ou das indústrias conexas os bens com o valor mais elevado (63 milhões de euros). Segmento no qual os Açores registaram a maior taxa (89,2%), ainda que tenham sido as exportações de animais vivos e produtos do reino animal a registar o maior valor: 102 milhões de euros.

Por sua vez, as exportações da Grande Lisboa cresceram em valor 3,4% em 2024, o que compara com a quebra de 8,9% registada em 2023 face a 2022, e as da Península de Setúbal avançaram 3%, recuperando da diminuição homóloga de 9,4% no ano anterior.

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O dia em direto nos mercados e na economia – 17 de fevereiro

  • ECO
  • 17 Fevereiro 2025

Ao longo desta segunda-feira, 17 de fevereiro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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O negócio da Defesa num mundo conturbado. Ouça o podcast “À Prova de Futuro”

Ricardo Mendes, CEO da Tekever, e Sérgio Barbedo, líder da Thales Edisoft Portugal, são os convidados num episódio em que exploramos o potencial do setor da Defesa na Europa.

Num mundo conturbado, o negócio da defesa é cada vez mais importante. No terreno, no ar ou no mar, as empresas europeias fomentam a inovação para ganhar contratos e dar independência ao velho continente. Neste episódio falamos com gestores de duas dessas empresas, líderes europeias nas suas áreas.

Temos no estúdio Ricardo Mendes, CEO da Tekever, referência europeia no segmento dos drones de reconhecimento. A demonstrar um crescimento acelerado, a empresa esteve nas bocas do mundo quando os seus drones foram utilizados pelo exército britânico com sucesso na Ucrânia.

Logo a seguir teremos a rubrica que está a dar que falar antes da segunda conversa, que será com Sérgio Barbedo, CEO da Thales Edisoft Portugal, para nos explicar a parceria entre a gigante multinacional francesa e o Estado português.

O podcast À Prova de Futuro tem o apoio da Meo Empresas.

Ouça o episódio no leitor abaixo:

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MBA que junta Nova SBE e Católica consolida posição no top 25 da Europa

MBA da Católica e Nova SBE aparece na 24.ª posição europeia do "ranking" do "Financial Times". Componente internacional é uma das que mais se destacam.

Depois de na última edição ter feito a sua estreia no top 25 europeu, o MBA que junta a Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (Nova SBE) à escola de negócios da Universidade Católica consolida este ano a sua posição entre os melhores do Velho Continente. Na nova edição do ranking do Financial Times, mantém-se na 24.ª posição e continua a ser o único programa português deste tipo a figurar na tabela.

“O The Lisbon MBA Católica|Nova reafirma a sua posição de destaque no ‘Financial Times global MBA ranking 2024′, alcançando a 24.ª posição na Europa e mantendo-se como o único MBA português presente no ranking internacional desde 2013“, é salientado na nota enviada às redações.

Este programa distingue-se pela sua “forte componente internacional“, ocupando este ano o 3.º lugar mundial em experiência internacional, “fruto da parceria com o MIT Sloan, além de colaborações com outras escolas de topo”. Na edição passada, estava em 4.º lugar neste critério, o que significa que agora melhorou um lugar.

Em comunicado, a Nova SBE e a Católica frisam que, fruto das parcerias, este MBA oferece aos alunos a possibilidade de intercâmbio nos cinco continentes, “ampliando a exposição global e as experiências multiculturais”.

Outro critério no qual este programa pontua bem é no retorno sobre o investimento. “Os graduados registaram um aumento salarial de 89% três anos após a conclusão do curso, com um salário médio anual bruto de 135.825 dólares. Além disso, o programa alcançou um notável índice de 97% de empregabilidade em até seis meses após a conclusão do MBA”, é destacado na nota enviada às redações.

Há a destacar também a aposta na diversidade registada neste MBA, que conta com 62% de alunos internacionais e 42% de mulheres. “O corpo docente é composto por professores de renome internacional, sendo 40% de origem internacional, enriquecendo ainda mais a experiência de aprendizagem”, é acrescentado.

Perante este desempenho, Maria José Amich, Diretora Executiva do The Lisbon MBA, garante que tem havido uma aposta contínua na expansão das parcerias internacionais, “incluindo novos mercados”, e na diversidade das turmas, “o que contribui para o enriquecimento da discussão em sala de aulas, e no trabalho em equipa”, afirma.

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“Os americanos olham para a Europa como um museu”

O podcast 'O Mistério das Finanças' tem esta semana como convidado Diogo Mónica, empreendedor e investidor, fundou o Anchorage Digital nos EUA, um banco regulado de gestão de criptoativos.

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O Mistério das Finanças é um podcast semanal do ECO, apresentado pelos jornalistas António Costa e Pedro Santos Guerreiro, disponível em áudio e vídeo nas principais plataformas.

Diogo Mónica, 38 anos, nasceu nos EUA, regressou a Portugal, formou-se no Técnico e regressou aos EUA, para funda a Anchorage Digital, um banco de gestão de ativos digitais como a bitcoin ou as chamadas ‘stable coins’, regulado e sujeito às regras das autoridades de supervisão nos EUA e já hoje com grandes bancos de investimento globais como acionista. Muito crítico da Europa, do excesso de regulação que põe em causa a inovação. “Somos muito bons a fazer relatórios na Europa” e há uma enorme aversão ao risco. É o convidado do podcast O Mistério das Finanças, com Pedro Santos Guerreiro e António Costa. “Os americanos olham para a Europa como um museu, não é o sítio para se investir e trabalhar, é o sítio para vir de férias“.

Neste episódio do podcast O Mistério das Finanças, há mistérios e há a boa e a má moeda: E Diogo Mónica trouxe as virtudes das ‘stable coins’, moedas digitais que tem subjacente um ativo, e o vice-presidente dos EUA, JD Vance.

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Mediadores exigem que Governo cumpra promessas sobre venda de seguros

  • ECO Seguros
  • 16 Fevereiro 2025

David Pereira, presidente da APROSE, afirma que o Governo está em falta com os corretores e agentes de seguros, continuando sem clarificar a venda de seguros pelos bancos no crédito à habitação.

O presidente da APROSE, David Pereira, única associação a representar os corretores e mediadores de seguros afirmou – em artigo de opinião publicado no jornal SOL – “exigimos que a medida apresentada no programa Construir Portugal seja implementado, garantindo que as famílias possam escolher livremente os seguros que melhor servem os seus interesses, sem penalizações encapotadas”.

David Pereira lembrou que em 2024 o Governo aprovou uma medida a permitir a contratação de seguros obrigatórios de crédito à habitação por uma seguradora diferente da indicada pelo banco mutuante. “No entanto esta medida não saiu do papel”, diz, “o ministério das Finanças nunca apresentou qualquer prazo ou solução concreta para a sua implementação”.

O presidente da APROSE, recorda ainda que solução idêntica foi apresentada em 2023 na Assembleia da República, na altura aprovada por todos os partidos, exceto pelo Partido Socialista, na altura com maioria dos deputados. “O atual ministro das Finanças, que na altura era líder parlamentar do partido que agora governa, teve um papel fundamental na discussão desta proposta”.

“A mesma força política que apoiou esta medida no passado e a incluiu no programa do atual Governo continua sem intenção de a concretizar e mudar o panorama financeiro das famílias”, acrescenta David Pereira.

A venda de seguros pelos bancos e o fim de um eventual aproveitamento da posição negocial junto dos mutuários para impor a contratação de seguros de vida e multirriscos mais favoráveis ao banco, tem sido uma batalha da APROSE junto do poder político. “Enquanto os bancos nacionais apresentam lucros recorde de 5 mil milhões de euros, a liberdade de escolha dos seguros é um direito que não pode continuar a ser adiado”, conclui David Pereira.

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Lotas ‘pescam’ 248 milhões de euros, com Peniche e sardinha na frente. Preço médio sobe 5%

Valor médio do peixe comercializado subiu para 2,39 euros por quilo em 2024, o segundo mais elevado de sempre. Veja as lotas que obtiveram os melhores resultados.

As lotas do continente transacionaram 247,7 milhões de euros no ano passado, o que representa uma ligeira descida face aos 250,2 milhões registados em 2023. Ainda assim, de acordo com os dados da Docapesca, o valor médio do peixe comercializado subiu 5% em termos homólogos, rondando os 2,39 euros por quilo em 2024.

Este é o segundo valor [médio por quilograma] mais elevado de sempre, refletindo uma melhoria significativa no rendimento dos armadores e pescadores nacionais“, afirma a Docapesca, em comunicado. Em 2023, o valor médio do peixe comercializado tinha rondado os 2,27 euros por quilo.

Este é o segundo valor mais elevado de sempre, refletindo uma melhoria significativa no rendimento dos armadores e pescadores nacionais.

Administração

Docapesca

Dados da Direção-Geral de Recursos Naturais e Serviços Marítimos (DGRM) mostram que de janeiro a setembro de 2024, houve uma tendência de melhoria do preço médio (2,39 euros por quilo) comparativamente com igual período de 2023 (2,27 euros por quilo). No entanto, o presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais (ADAPI) refere que apesar do indicador positivo “é preciso ter em atenção que esse valor ficou abaixo do preço médio de 2022 (2,50 euros por quilo), praticamente idêntico, mas inferior”.

O líder da associação explica ao ECO que a subida do preço médio do peixe é justificado pela menor oferta. “Nos primeiros nove meses do ano de 2024 registamos muito menos desembarques (88 mil toneladas), em termos de quantidade, em comparação com o período homólogo que se fixou em 102 mil toneladas”, detalha Pedro Jorge, realçando que “a menor oferta de peixe traduz-se numa subida do preço médio do peixe. Quanto menor é a oferta, mais os preços sobem”.

Fonte: Direção-Geral de Recursos Naturais e Serviços Marítimos

Conheça as dez lotas com os melhores resultados

A lota de Peniche obteve o maior valor de vendas, registando um volume de negócios de 38,4 milhões de euros, seguida por Sesimbra (33,2 milhões de euros), Matosinhos (29,5 milhões de euros), Vila Real de Santo António (18,1 milhões de euros) e Aveiro (16 milhões de euros).

A fechar o top dez das lotas com o maiores vendas estão Figueira da Foz (13,7 milhões de euros), Nazaré (10,9 milhões de euros), Portimão (10 milhões de euros), Sines (9,4 milhões de euros) e Quarteira (9,1 milhões de euros).

Entre as lotas com maior valorização do preço médio do pescado destacam-se as da Costa da Caparica (+80%), Vila Real de Santo António (+23%), Mira (+23%), Peniche (+23%), Setúbal (+16%), Sesimbra (+16%), Olhão (+14%), Póvoa de Varzim (+13%) e Viana do Castelo (+13%).

Em termos de volume de pescado, Sesimbra liderou com 22,8 mil toneladas, seguida por Matosinhos (19,1 mil toneladas), Peniche (14,5 mil toneladas), Figueira da Foz (8,1 mil toneladas) e Aveiro (5,5 mil toneladas), totalizando 103,6 mil toneladas comercializadas a nível nacional. Em 2023 tinham sido transacionadas 110,2 mil toneladas.

Sardinha volta ao topo das espécies mais comercializadas

No território continental, de janeiro a dezembro do ano passado, a sardinha recuperou o primeiro lugar entre as espécies mais transacionadas. Seguiram-se a cavala, o carapau, o biqueirão e o polvo-vulgar, mostram os dados da Docapesca, que no ano passado fez um investimento superior a 4,2 milhões de euros na modernização dos portos de pesca e das lotas.

A administração da Docapesca explica ao ECO que o “aumento dos limites de captura, que têm vindo a registar-se nos anos mais recentes, foram o resultado do grande esforço feito pelo próprio setor, designadamente pelos armadores, ao longo de vários anos, em que reduziram as suas capturas para permitir a recuperação do estado do recurso”.

No entanto, apesar de a sardinha ter voltado ao topo das espécies mais comercializadas, o preço médio acabou por baixar. Dados da Direção-Geral de Recursos Naturais e Serviços Marítimos mostram que de janeiro a setembro de 2024 foram desembarcadas 24 mil toneladas de sardinhas, contra as 18 mil toneladas desembarcadas no mesmo período de 2023. “Como a sardinha foi a única espécie que cresceu em desembarques, o preço médio baixou 7%”, explica ao ECO o presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais.

Segundo os dados finais mais recentes publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos a 2023, nesse ano as exportações nacionais de pescado fixaram-se em 1.367 milhões de euros, o que representou um aumento de 4,2% em relação a 2022.

A Associação Nacional da Indústria pelo Frio e Comércio de Produtos Alimentares (ALIF) refere que o pescado é o segundo produto agroalimentar português com mais peso nas exportações, apenas atrás das vendas agregadas de frutas, legumes e flores.

A fileira da pesca, aquacultura e transformação do pescado emprega 60.000 pessoas e representa um Valor Acrescentado Bruto (VAB) superior a 2.000 milhões de euros.

Falta de mão-de-obra preocupa setor

A administração da Docapesca e o presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais identificam a falta de mão-de-obra com uma dos principais desafios da indústria. A Docapesca atesta que existe mesmo uma “necessidade de renovação geracional”.

“Para dar resposta a esse desafio, é fundamental a realização de um trabalho conjunto e transversal a várias entidades, demonstrando que a pesca é uma profissão de futuro e rentável“, diz o conselho de administração da Docapesca em declarações ao ECO.

A não renovação das frotas significa que os empresários e agentes económicos para manterem as embarcações operacionais têm um custo de manutenção que cresce exponencialmente e tudo isto acaba por tirar rentabilidade.

Pedro Jorge

Presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais

Para além da falta de mão-de-obra, o presidente da Associação dos Armadores das Pescas Industriais aponta o envelhecimento da frota. “A não renovação das frotas significa que os empresários e agentes económicos, para manterem as embarcações operacionais e com as devidas certificações, têm um custo de manutenção que cresce exponencialmente e tudo isto acaba por tirar rentabilidade”, realça o porta-voz da associação.

“Pescamos menos tempo por ano porque as embarcações têm reparações mais prolongadas e muito mais caras. Isto acaba por enfraquecer o resultado da atividade económica”, conclui Pedro Jorge.

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Ex-presidente da CMVM defende criação de um único regulador financeiro

  • ECO Seguros
  • 16 Fevereiro 2025

Gabriela Figueiredo Dias acredita que as exigências europeias de maior coordenação e ação conjunta de supervisores europeus traça o caminho para a criação de um único.

A ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) acredita que a junção Banco de Portugal (BdP), a CMVM e a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) num supervisor financeiro único poderia trazer mais coerência e capacidades a esse regulador.

Em entrevista à Antena 1 e Jornal de Negócios (acesso pago), Gabriela Figueiredo Dias afirma que para uma eventual junção era essencial manter a independência e autonomia dos três supervisores.

A atual presidente do International Ethics Standards Board for Accountants (IESBA), com sede em Nova Iorque acredita que “juntar a capacidade de três em um permite uma série de sinergias e simplificação de funções de partilha” aumentando assim a capacidade do supervisor único.

A maior coerência vinha pela “capacidade de atuação e pensamento integrado” e de “constituição a nível europeu muito mais robusta do que aquela que temos atualmente com representações segredadas não coordenadas”.

Assenta a sua crença no que está a ser proposto a nível da União europeia de reforçar a concentração de supervisão, nomeadamente na ESMA [Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados], e na criação de outros instrumentos para garantir a coordenação e atuação conjunta de diversos supervisores.

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Concorrência não se opõe a compra da Vitorinos pela PIB Group Iberia

  • Lusa
  • 16 Fevereiro 2025

A Autoridade da Concorrência entende que a operação de concentração "não é suscetível de criar entraves significativos à concorrência efetiva no mercado nacional ou numa parte substancial deste".

A Autoridade da Concorrência (AdC) decidiu não se opor à aquisição, pela PIB GroupIberia, do controlo exclusivo da Vitorinos – Mediação de Seguros, adiantou, num comunicado divulgado no seu ‘site’.

Assim, o Conselho de Administração da Autoridade da Concorrência deliberou “adotar uma decisão de não oposição à operação de concentração”, entendendo que “a mesma não é suscetível de criar entraves significativos à concorrência efetiva no mercado nacional ou numa parte substancial deste”.

Em causa está a operação de concentração que “consiste na aquisição, pela PIB Group Iberia Correduría de Seguros y Reaseguros, S.A.U. (PIB Group Iberia), do controlo exclusivo da Vitorinos – Mediação de Seguros, Lda. e das suas seis subsidiárias”, lê-se na notificação prévia que tinha sido enviada à AdC.

Segundo a AdC, a PIB Group Iberia é “uma subsidiária da PIB Group Limited, sendo indiretamente controlada pela Apax Partners LLP”.

A Concorrência disse que a PIB Group é “um distribuidor de seguros independente que opera em diversos países, mas ainda não exerce qualquer atividade em Portugal”, sendo que a Apax “controla a GamaLife, uma seguradora especializada em seguros de vida em Portugal”.

Por sua vez, a Vitorinos “é um mediador de seguros em Portugal, que exerce a sua atividade em todos os ramos de atividade (Vida e Não Vida)”, que “dispõe de seis subsidiárias localizadas em Lisboa, Torres Novas, Moncorvo, Santarém e Castelo de Paiva”.

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Combate à corrupção é central em curso da APS

  • ECO Seguros
  • 16 Fevereiro 2025

O curso insere-se no ciclo de formação em compliance e quer sensibilizar para a corrupção, indicar os novos enquadramentos normativos e fornecer ferramentas para identificar e mitigar os riscos.

A Associação Portuguesa de Seguradoras (APS) divulga o curso sobre prevenção de corrupção e infrações conexas marcado para dia 25 de fevereiro entre as 9h15 e 12h30 na sede da APS.

Este segundo curso do ciclo de formação em compliance no setor segurador visa sensibilizar os participantes para o fenómeno da corrupção e das infrações conexas, bem como para as condutas que se enquadram nestes tipos de crime.

O curso também pretende que os participantes compreendam os novos enquadramentos normativos e boas práticas em matéria de prevenção da corrupção, nomeadamente o Regime Geral de Prevenção da Corrupção e as Orientações do MENAC.

Por último, os formandos deverão adquirir ferramentas práticas para a identificação e mitigação de riscos.

A formação será conduzida por Joana Bernardo, associada coordenadora da Vieira de Almeida & Associados e António Maia, professor de ética na administração público no ISCSP da Universidade de Lisboa e presidente da direção do OBEGEF (Observatório de Economia e Gestão de Fraude).

Todos os profissionais de seguros são convidados a inscrever-se nesta formação, sendo especialmente elaborado para administradores, diretores e colaboradores afetos a áreas jurídicas.

O terceiro curso do mesmo ciclo de formação está marcado para dia 27 de março e dedica-se ao combate à corrupção nos seguros.

Para inscrições e mais informações, aqui.

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Ventura avançará com moção de censura se Montenegro não der explicações em 24 horas

  • Lusa
  • 16 Fevereiro 2025

O líder do Chega admite uma moção de censura ao Governo caso o primeiro-ministro não dê explicações nas próximas 24 horas sobre o que apelidou de "suspeita de absoluta de corrupção".

O líder do Chega anunciou que apresentará uma moção de censura ao Governo caso o primeiro-ministro, Luís Montenegro, não dê explicações ao país nas próximas 24 horas sobre aquilo que apelidou de “suspeita de absoluta de corrupção”.

Em conferência de imprensa, André Ventura considerou que, na sequência da notícia do Correio da Manhã de sábado sobre a mulher e os filhos do primeiro-ministro terem uma empresa de compra e venda de imóveis que pode alegadamente beneficiar da recente revisão da lei dos solos, “a falta de resposta a questões básicas e a suspeita absoluta de corrupção sobre o primeiro-ministro”, Luís Montenegro, não “deixa outra alternativa”.

Se essa resposta persistir em não ser dada, em ser ocultada, então amanhã [segunda-feira] a esta hora o Chega dará entrada com uma moção de censura ao executivo“, anunciou aos jornalistas na sede do partido, em Lisboa, dando a Luís Montenegro “24 horas” para esclarecer este caso.

O líder do Chega disse ainda que já transmitiu ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esta intenção de moção de censura “caso o primeiro-ministro não dê respostas satisfatórias”.

No sábado, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, classificou como “absurda e injustificada” a sugestão que poderá existir um conflito de interesses pelo possibilidade de a empresa imobiliária da sua família poder beneficiar da recente revisão da lei dos solos aprovada recentemente pelo Governo.

Segundo a notícia do Correio da Manhã de sábado, a mulher e os dois filhos do primeiro-ministro têm uma empresa de compra e venda de imóveis, de que Luís Montenegro foi fundador e gerente e uma vez que casou com comunhão de adquiridos, segundo o jornal, o primeiro-ministro poderia beneficiar dos proveitos, algo negado por Luís Montenegro.

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Da Influencer à Tutti Frutti, conheça os porquês dos nomes de “batismo” das investigações da PJ

Todas as investigações PJ têm algo em comum: um nome característico que os diferencia e que fica no ouvido da sociedade. Descubra o significado de algumas das mais mediáticas.

Dezenas e dezenas de investigações mediáticas da PJ – algumas já em fase de julgamento – ocupam o palco da justiça portuguesa e todas eles têm algo em comum: um nome característico, muitas vezes com algo de cómico, que os diferencia e que fica no ouvido. Desde a Operação Influencer até Tutti Frutti, passando pelo Marquês, todas elas ganham um nome que é escolhido com alguma razão na sua base, a maioria “batizada” pelos próprios responsáveis das unidades responsáveis pelas operações. Na origem, o batismo dos casos é muitas vezes relacionado com as circunstâncias de tempo ou lugar em que esse crime foi cometido, podendo ter a ver com detalhes do processo, seja relativo às vítimas ou aos suspeitos de crime. “Há sempre algo que se destaca numa investigação e é esse algo que se destaca e que dá o nome, geralmente”, disse Pedro Carmo ao ECO, na altura em que era diretor adjunto da PJ.

Operação Influencer

Um dos casos mediáticos mais recentes é a Operação Influencer, que envolve ex-membros do Governo e não só. No processo que investiga crimes como corrupção e tráfico de influências um dos visados foi o ex-primeiro-ministro António Costa. O nome escolhido, “Influencer”, reflete as suspeitas de influência indevida na política.

Foi em novembro de 2023 que este caso surgiu no palco dos media, com a realização de buscas à residência oficial do na altura primeiro-ministro, António Costa, e ainda buscas a ex-membros do Governo. Esta operação levou à detenção de cinco arguidos – o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária; o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas; dois administradores da Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves; e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa e colaborador ocasional do Governo de então – e culminou com a demissão de António Costa, a posterior queda do Executivo e a marcação de eleições antecipadas.

António Costa

No total, há nove arguidos no processo, entre eles o ministro das Infraestruturas, João Galamba; o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta; o advogado e antigo porta-voz do PS, João Tiago Silveira; e a empresa Start Campus.

Em causa estão 28 crimes: prevaricação, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva – quanto a titular de cargo político, agravada – e recebimento indevido de vantagens quanto a titular de cargo público, agravado. Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, da Start Campus, estão a ser investigados por seis crimes. Diogo Lacerda Machado por quatro.

Tutti Frutti

Há mais de oito anos na justiça, o caso Tutti Frutti teve recentemente desenvolvimentos. No início do mês, o Ministério Público deduziu acusações contra 60 arguidos por crimes de corrupção, prevaricação, branqueamento e tráfico de influência, entre os quais autarcas do PS e do PSD e deputados de ambos os partidos.

Este processo recebeu este nome uma vez que envolve uma investigação complexa sobre alegadas trocas de favores e corrupção entre políticos e empresários em Portugal, especialmente ligados a dois partidos: PSD e PS. Uma vez que a investigação incide sobre um conjunto diversificado de casos e pessoas é um género de “mix de frutas”.

No total estão em causa 463 crimes de corrupção ativa e passiva, prevaricação, tráfico de influência, branqueamento, burla qualificada, falsificação de documento, abuso de poder e recebimento indevido de vantagem. Entre os arguidos, há deputados na Assembleia da República, presidentes de juntas de freguesia em Lisboa e vereadores na capital do PSD e do PS, suspeitos de adjudicações a empresas como contrapartida, sobretudo, à concessão de apoio político local. Alguns dos acusados suspenderam ou renunciaram entretanto aos mandatos.

Operação Marquês

O dia 21 de novembro de 2014 ficou para a história quando o país foi confrontado, com a transmissão em direto pelas televisões, de José Sócrates a ser detido na manga de um avião no aeroporto de Lisboa e a entrar, rodeado de câmaras de televisão, no carro das autoridades policiais. Estávamos a presenciar o início mediático de um dos casos da justiça mais complexos de sempre no nosso país, a Operação Marquês.

Sócrates tornava-se assim o primeiro político que tinha desempenhado funções governativas suspeito de corrupção no próprio exercício desse cargo. Esteve 288 dias detido (quase um ano em preventiva) e mais 42 em prisão domiciliária. A 11 de outubro de 2017, Sócrates foi formalmente acusado da prática de 31 crimes. Poderá deduzir-se que o nome da investigação venha da antiga morada de José Sócrates, na Rua Braamcamp, junto ao Marquês de Pombal.

O antigo primeiro-ministro, José Sócrates, à chegada para uma conferência de imprensa sobre os últimos desenvolvimentos da Operação Marquês, na Ericeira, 17 de abril de 2024. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSAANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

O universo de arguidos — 19 pessoas individuais e nove empresas — ficou reduzido apenas ao ex-primeiro-ministro José Sócrates, ao empresário Carlos Santos Silva, ao ex-ministro Armando Vara, ao antigo banqueiro Ricardo Salgado e ao antigo motorista de Sócrates, João Perna, sendo que estes três últimos já foram entretanto julgados e condenados.

Entre os arguidos ilibados na decisão instrutória de Ivo Rosa encontram-se, por exemplo, os ex-administradores da PT Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, o ex-administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca, o antigo presidente da ESCOM Helder Bataglia ou o ex-administrador não executivo dos CTT Rui Horta e Costa.

José Sócrates foi acusado no processo Operação Marquês pelo MP, em 2017, de 31 crimes, designadamente corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal. Porém, na decisão instrutória de 09 de abril de 2021, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar José Sócrates de 25 dos 31 crimes, pronunciando-o para julgamento por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos.

Operação Maestro

A Operação Maestro coloca no centro dos holofotes o empresário Manuel Serrão. O arguido é suspeito de fraude na obtenção de fundos europeus de 40 milhões de euros. O Ministério Público considera o empresário e vogal da Associação Selectiva Moda “o principal mentor” de um alegado esquema na obtenção de subsídios comunitários que levou a PJ a realizar, em março de 2024, 78 buscas no âmbito desta operação, na qual são também suspeitos o jornalista Júlio Magalhães, António Sousa Cardoso, que liderou a Associação de Jovens Empresários, e António Branco e Silva.

Feira têxtil MODtissimo, na Alfândega do Porto - 23SET20
Manuel Serrão, diretor do Modtissimo e da Associação Selectiva ModaRicardo Castelo

A investigação sustenta que, pelo menos desde 2015, Manuel Serrão, António Branco e Silva e António Sousa Cardoso, “conhecedores das regras de procedimentos que presidem à candidatura, atribuição, execução e pagamento de verbas atribuídas no âmbito de operações cofinanciadas por fundos europeus, decidiram captar, em proveito próprio e das empresas por si geridas, os subsídios atribuídos à Associação Selectiva Moda e às sociedades No Less e House of Project — Business Consulting”.

A palavra Maestro foi alegada escolhida por simbolizar a ideia de alguém que orquestra ou dirige um esquema complexo, semelhante a um maestro que conduz uma orquestra, sugerindo a existência de um líder coordenando as atividades ilícitas sob investigação.

Operação Babel

A Operação Babel é relacionada com a alegada viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanísticos em Gaia. Em julgamento encontram-se 16 arguidos – seis pessoas e dez sociedades -, incluindo o antigo vice-presidente da Câmara de Gaia Patrocínio Azevedo, o empresário Paulo Malafaia e Elad Dror, de origem israelita e fundador do grupo Fortera, por dezenas de crimes económicos, nomeadamente corrupção e tráfico de influências.

Em causa está a suposta viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em Vila Nova de Gaia em favor de promotores associados a projetos de elevada densidade e magnitude, pelo menos até 2022, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário.

Entre as razões apontadas para este processo ser “batizado” de Babel está a complexidade e a multiplicidade de elementos envolvidos no caso, evocando a imagem da Torre de Babel, que na tradição bíblica simboliza a diversidade e a confusão de línguas.

Operação Vórtex

Mais uma vez, Vórtex foi o nome escolhido por representar a complexidade e a natureza envolvente do caso. A denominação remete para a ideia de um remoinho que atrai diversos elementos para o seu centro, fazendo o paralelismo com o caso que é composto por uma rede de diversas relações e possíveis irregularidades no contexto político e empresarial.

O processo está relacionado com projetos imobiliários e respetivo licenciamento, respeitantes a edifícios multifamiliares e unidades hoteleiras, envolvendo interesses urbanísticos de dezenas de milhões de euros, tramitados em benefício de determinados operadores económicos.

A operação culminou em 10 de janeiro de 2023 com a detenção do então presidente da Câmara de Espinho, Miguel Reis (PS), o chefe da Divisão de Urbanismo e Ambiente daquela autarquia, um arquiteto e dois empresários por suspeitas de corrupção ativa e passiva, prevaricação, abuso de poderes e tráfico de influências.

Em 10 de julho do mesmo ano, o Ministério Público deduziu acusação contra oito arguidos e cinco empresas, incluindo dois ex-presidentes da Câmara de Espinho, Miguel Reis e Pinto Moreira.

Da Éter ao O-negativo, lista não tem fim

A lista de nomes originais e sonantes dados a investigações da justiça portuguesa é extensa. Elencamos aqui alguns exemplo:

  • Éter: Simboliza a natureza difusa e intangível das alegadas atividades ilícitas sob investigação. Esta operação incluiu buscas em entidades públicas e sedes de empresas, estando relacionada com alegadas práticas de corrupção e tráfico de influências.
  • O-negativo: Este processo envolve suspeitas de corrupção relacionadas com negócios de sangue. O nome do caso refere-se ao tipo de sangue O negativo, conhecido por ser um doador universal, ou seja, pode ser transfundido a qualquer pessoa independentemente do seu grupo sanguíneo.
  • E-toupeira: Esta investigação centra-se em supostos subornos oferecidos a, pelo menos, três funcionários judiciais, para a obtenção de informação nos processos relacionados com o recente “caso dos e-mails“, envolvendo um assessor jurídico da SAD do Benfica. A operação, batizada pela Polícia Judiciária (PJ) de e-toupeira. O acesso a esta informação terá sido feito através do programa de informática Citius, surgindo daí o “e-“, referente a eletrónica. Já “toupeira” foi escolhida porque é uma expressão para infiltrado, que designa pessoas que num determinado sistema ou organização obtêm ou procuram obter informação reservada e transmiti-la para fora.
  • Lex: A Operação Lex investigou um alegado esquema em que juízes do Tribunal da Relação de Lisboa seriam pagos para decidir favoravelmente relativamente a pessoas ou empresas. O nome terá a ver com o facto de o caso envolver maioritariamente figuras do meio jurídico. “Lex” deriva do latim e quer dizer “lei, contrato, condição, regra, norma ou preceito”. Relembre-se a famosa expressão “dura lex, sed lex” — “a lei é dura, mas é a lei”.
  • Face Oculta: O nome desta operação é inspirado, nada mais, nada menos, numa casa de alterne de Aveiro com o mesmo nome — cidade onde arrancou o processo de que o ex-vice-presidente do BCP, Armando Vara, foi arguido. O caso, que envolveu lavagem de dinheiro, corrupção política e evasão fiscal, contou com 188 sessões do julgamento, onde foram ouvidas mais de 350 pessoas entre arguidos, testemunhas, peritos e consultores.
  • Tupperware: Em 2007 a PJ anunciou a detenção, na Figueira da Foz, de duas mulheres suspeitas de tráfico de droga. A operação é denominada de “Tupperware“. Acontece que o modo de operação consistia em esconder o material estupefaciente em caixas de plástico, que eram depois enterradas na areia.
  • Carta Fora do Baralho: A operação “Carta Fora do Baralho”, que data de maio de 2011, não tem nada a ver com jogo mas estava sim relacionada com desvio de correspondência. A PJ e a PSP desmantelaram uma rede suspeita do desvio de correspondência que terá rendido “dezenas de milhares de euros” aos dois homens detidos e acusados de peculato, posse de armas proibidas e receptação agravada.
  • Banana Mix: Em 2009, a PJ desmantelou um grupo transnacional dedicado ao tráfico de cocaína da América do Sul para a Península Ibérica. O grupo tinha elementos da Colômbia, Cabo Verde, Equador, Espanha e Portugal e estava localizado em território nacional por motivos estratégicos. A investigação resultou em duas operações policiais nos arredores do Porto, levou à apreensão de 82 quilogramas de cocaína, que tinham sido introduzidos no nosso país dissimulados em paletes de banana e mandioca. A operação ficou então conhecida como “Operação Banana Mix”.
  • Rollerball: Ficou assim batizada pela PJ a operação de um processo extraído do caso BPN, em 2010, que acabou com a detenção de dois advogados e a constituição de mais seis arguidos, suspeitos de burla, fraude fiscal, falsificação de documentos, abuso de confiança, branqueamento e corrupção. A “Operação Rollerball” investigou o sistema de fraude que assentava numa lógica de “roullement” de créditos — os suspeitos utilizariam sucessivos financiamentos bancários através de sociedades que representavam ou controlavam — que terá lesado em mais de 100 milhões o BPN.
  • Remédio Santo: Esta operação remonta a 2014 e ficou assim conhecida por condenar suspeitos, acusados de burlar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) em mais de três milhões de euros, a penas efetivas até nove anos de prisão. Entre os 18 envolvidos estavam seis médicos, dois farmacêuticos, sete delegados de informação médica, uma esteticista (ex-delegada de ação médica), um empresário brasileiro e um comerciante de pão. Três dos arguidos ficaram com penas suspensas até cinco anos e dois dos envolvidos foram absolvidos de todos os crimes.

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