Governo põe fim ao serviço universal de telefone. E então?
- Flávio Nunes
- 13 Abril 2019
O Governo ditou o fim do serviço universal de telefone fixo e esperam-se mudanças nas cabines telefónicas do serviço universal de telecomunicações. Mas o que é que significa isto?
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- Flávio Nunes
- 13 Abril 2019
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Vou ficar sem telefone em casa?
A não ser que seja um dos dois portugueses que têm este serviço (já lá vamos), o fim do serviço universal de telefone fixo não implica que vá ficar sem telefone em casa. Mas nem por isso as alterações que aí vêm deixam de merecer a sua atenção.
Para compreender o que muda, vale a pena entender o que é o Serviço Universal de Comunicações Eletrónicas (SU). Trata-se de um serviço público prestado por duas das principais operadoras de telecomunicações portuguesas.
Divide-se em quatro componentes:
- Serviço de telefone fixo;
- Serviço de postos públicos;
- Serviço de lista telefónica;
- Serviço de informação 118.
O serviço de telefone fixo é prestado pela Nos. Através dele, a operadora é obrigada a instalar um telefone fixo em qualquer ponto do país, a pedido de um determinado cliente e independentemente das condições.
Os restantes três serviços são prestados pela Meo.
O serviço de postos públicos abrange as cabines telefónicas, num universo total de 8.222 cabines espalhadas por todo o país (mas nem todas as cabines telefónicas fazem parte do SU).
O serviço de lista telefónica é, como o nome indica, o serviço através do qual a Meo distribui as listas telefónicas, algo que, com os anos, caiu em desuso. Atualmente, a lista telefónica impressa está disponível a pedido. O serviço de informação 118 é como o serviço de lista telefónica, mas disponível através de uma chamada para o número 118, a qualquer hora do dia.
Uma vez que este serviço público é prestado por duas empresas privadas, a Meo e a Nos, neste contexto, também são chamadas de “operadoras incumbentes”.
Proxima Pergunta: O Estado paga este serviço?
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O Estado paga este serviço?
O Serviço Universal de Comunicações Eletrónicas (SU) é pago pelo Fundo de Compensação do Serviço Universal, para o qual contribuem a Meo, Nos, Vodafone e Nowo em função das respetivas quotas de mercado. Ou seja, não é financiado pelo Orçamento do Estado.
A Meo é quem mais contribui para o fundo, seguindo-se a Nos. Como também são as operadoras incumbentes, são também as empresas que mais têm beneficiado do fundo. As operadoras podem, no entanto, passar esta despesa para os clientes, refletindo-a no preço das telecomunicações.
No entanto, não é certo qual o impacto que o serviço universal tem ou não no preço final das comunicações eletrónicas em Portugal.
Proxima Pergunta: O que vai mudar então?
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O que vai mudar então?
Em relação ao serviço de telefone fixo, o Governo seguiu a recomendação da Anacom e não vai designar um novo prestador. Ou seja, este serviço acaba quando acabar o contrato com a Nos, o que acontece no próximo dia 1 de junho.
Em relação ao serviço de cabines telefónicas, o Governo decidiu, por despacho do secretário de Estado responsável, que o atual contrato com a Meo, expirado a 9 de abril, é alargado por tempo indeterminado, até que a lei seja alterada pelo Parlamento ou até que a Anacom designe um novo prestador mediante concurso público.
Aliás, o Governo deu dez meses ao regulador para propor uma nova oferta de cabines telefónicas de nova geração, que poderão passar a ter acessos à internet (tornar as cabines telefónicas em pontos de Wi-Fi é uma hipótese falada no meio). O novo concurso tem condições semelhantes às atuais: contrato renovável de um ano, com um preço base de 300 euros por cabine.
Proxima Pergunta: O que motivou a decisão do Governo?
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O que motivou a decisão do Governo?
Os atuais contratos relacionados com o Serviço Universal de Comunicações Eletrónicas (SU) terminam todos no primeiro semestre deste ano. Daí a entrada do tema na agenda política e mediática.
Tendo isso em conta, ainda em 2018, a Anacom recomendou ao Governo que optasse por não designar novos prestadores para estes serviços, por serem demasiado onerosos e por não trazerem “benefícios relevantes para os utilizadores”.
Concretamente, em relação ao serviço de telefone fixo, assegurado pela Nos, o regulador argumentou que este serviço só tem dois clientes em todo o país (sim, dois clientes), apesar de ter um custo anual de 1,9 milhões de euros. O contrato entre a Nos e o Estado termina a 1 de junho.
Contas feitas, a Anacom considera que o custo-benefício do SU não justifica a sua renovação. Segundo o regulador, durante cinco anos, o serviço custou 22 milhões de euros (um custo que, como vimos, é suportado pelo próprio setor).
Ora, o Governo concordou com a Anacom no que diz respeito ao serviço de voz, que só tem dois clientes, considerando-o “inútil”. Por isso, vai deixar que o contrato atual chegue até ao fim, a 1 de junho. Após esta data, a Nos deixa de estar obrigada a prestar este serviço.
Mas não concordou com o regulador no que toca às cabines telefónicas, um serviço que a Anacom também dizia que era demasiado caro face aos benefícios oferecidos. É por isso que pediu à entidade reguladora para propor uma modernização das cabines atuais e o lançamento de um novo concurso público.
Proxima Pergunta: O que pensam as operadoras?
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O que pensam as operadoras?
A Nos não se opunha ao fim do Serviço Universal de Comunicações Eletrónicas, mas mostrou-se contra a posição da Anacom em 2018. Isto porque a ideia inicial do regulador era a de renegociar o contrato em vigor, o que, para a Nos, representava um atentado ao Estado de Direito.
A Vodafone considerou que a existência do SU não se justifica. “A Vodafone reitera a sua posição sobre a ausência de necessidade de prestação de SU”, disse fonte oficial da empresa ao ECO.
Chegados aqui, importa recordar que estas duas empresas são obrigadas a contribuir para o fundo que paga o SU. Tal como a Meo, que viu na terça-feira o seu contrato ser alargado por tempo indeterminado.
Neste contexto, a Altice Portugal, dona da Meo, tem tido uma reação diferente. “A Altice Portugal sempre se manifestou contra a decisão da Anacom, que recomendava a extinção dos postos públicos, considerando-a insensível, imponderada e injusta para os cidadãos e para o país”, disse fonte oficial da empresa.
“Os postos públicos afetos ao serviço universal garantem o acesso 24 horas por dia às populações em caso de necessidade, sobretudo à população mais vulnerável, em situação de urgência e aflição, que muitas vezes não possui outros meios de comunicação”, disse a mesma fonte, acusando a Anacom de desconhecimento da realidade nacional.