Quem vai ganhar a guerra entre BBVA e Sabadell?
- Alberto Teixeira
- 10 Maio 2024
O BBVA decidiu passar a bola aos acionistas do Sabadell, após o "não" da administração do banco rival. Mas a OPA hostil não está a ser bem recebida em Espanha. Quem vai ganhar o braço-de-ferro?
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- Alberto Teixeira
- 10 Maio 2024
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Por que razão o BBVA lançou uma OPA hostil?
Não é a primeira vez que o BBVA tenta ficar com o Sabadell. Em 2020, em plena crise pandémica, as duas entidades chegaram a negociar uma fusão, mas as conversas não chegaram a bom porto, sobretudo por divergências relativamente ao preço oferecido pelo banco basco — o BBVA tem sede em Bilbao (País Basco) e o Sabadell está sediado em Alicante (Comunidade Valenciana).
Apesar do falhanço, a ideia de juntar os dois negócios não foi esquecida. Na semana passada, o BBVA revelou que enviou uma carta à administração do banco concorrente manifestando o interesse em voltar à mesa das negociações. Avançou então com uma oferta com os seguintes termos: troca de uma ação do BBVA por cada 4,83 títulos do Sabadell, avaliando o banco em 12,2 mil milhões de euros, e ainda três lugares no conselho de administração.
A proposta não convenceu os responsáveis do Sabadell, que a rejeitaram por não valorizar o banco e hipotecar as perspetivas de crescimento, além de não satisfazer os interesses dos acionistas, trabalhadores e clientes.
Perante a rejeição da administração do Sabadell, o banco liderado por Carlos Torres passou agora a palavra aos acionistas do banco rival, avançando com uma oferta pública de aquisição (OPA) considerada hostil.
Proxima Pergunta: Quanto é que o BBVA oferece?
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Quanto é que o BBVA oferece?
Os termos do negócio são os mesmos em termos financeiros: não há numerário em cima da mesa e cada acionista do Sabadell receberá uma ação do BBVA por cada 4,83 ações do Sabadell que der em troca.
A oferta tem implícito um prémio de 30% em relação ao valor da cotação dos dois bancos no fecho da sessão de 29 de abril e de 50% em relação à média das cotações nos últimos três meses. “Estamos a apresentar aos acionistas do Banco Sabadell uma oferta extraordinariamente atrativa para criar um banco com maior escala num dos nossos mercados mais importantes”, argumentou o presidente do BBVA.
Mas, ao contrário da proposta inicial, a OPA hostil já não contempla qualquer assento no board do BBVA para os responsáveis do Sabadell.
Segundo o BBVA, com a combinação dos dois negócios, o lucro por ação registaria uma melhoria de 3,5% devido à poupança de custos e aos ganhos de eficiência, equivalendo a um ganho de 850 milhões de euros antes de impostos.
Para que a oferta seja bem-sucedida, o BBVA terá de ficar com mais de 50,01% do capital social do banco rival. O presidente Carlos Torres adiantou que há acionistas relevantes do Sabadell que estão interessados no negócio.
Proxima Pergunta: Como ficará o mercado espanhol com a fusão?
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Como ficará o mercado espanhol com a fusão?
Para o BBVA, os dois negócios são complementares, incluindo em termos de geografias onde estão presentes, como no México. Mas o maior impacto seria sentido no mercado espanhol, razão pela qual as autoridades políticas levantam dúvidas sobre os benefícios da operação.
No mercado de empréstimos, a fusão criaria um banco com uma quota de mercado de cerca de 22%, apenas atrás do CaixaBank (25%). No segmento das PME, onde o Sabadell é líder, a quota de mercado superaria os 24%. No retalho, onde o BBVA é mais forte, a quota seria de 21%.
Contas feitas, a combinação dos dois bancos resultaria num gigante com mais de um bilião de euros em ativos e 100 milhões de clientes, tornando-se no segundo maior banco, apenas atrás do Santander – incluindo mesmo em valor de mercado.
Proxima Pergunta: Como a OPA afeta Portugal?
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Como a OPA afeta Portugal?
Os dois bancos têm representações pequenas no país, pelo que a OPA teria um impacto reduzido.
O BBVA conta com uma sucursal em Portugal, liderada por Luís Castro Almeida e com mais de 400 trabalhadores. Em 2022 (últimas contas relevadas pela sucursal portuguesa) teve lucros antes de impostos de 45 milhões de euros.
Já o Sabadell iniciou atividade por cá em 2018, quando o BBVA passou a apenas a ser uma sucursal. Dois anos antes, vendeu a participação que tinha no BCP, colocando um ponto final no acordo comercial que tinha com o banco português. Tem cerca de uma dezena de trabalhadores, de acordo com a plataforma InformaDB.
Proxima Pergunta: Como reagiram os investidores?
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Como reagiram os investidores?
A OPA hostil foi recebida com surpresa pelo mercado, mas os analistas não vislumbram grandes hipóteses de ser bem-sucedida.
Em reação, as ações do BBVA afundaram 6,7% para 9,6 euros esta quinta-feira, enquanto o Sabadell valorizou mais de 3%, tirando alguma atratividade à oferta do banco basco.
Os analistas do Bankinter são dos que não atribuem uma grande probabilidade de a operação ser bem sucedida, pelo facto de o BBVA oferecer apenas ações em troca e um prémio reduzido. “O capital do Sabadell está atomizado entre fundos de investimento que terão chegado a esta mesma conclusão”. Os analistas do Renta 4 tem o mesmo entendimento: “A este preço, a oferta não é atrativa e não aceitaríamos a oferta”.
“A bola está agora do lado dos acionistas do Sabadell, que conta com uma elevada fragmentação”, disseram os analistas do Banca March. A chave do sucesso poderá estar nas mãos dos grandes fundos de investimento. Mais de 70 deles têm participações em ambos os bancos, destacando-se os fundos da BlakckRock, da Vanguard e o fundo soberano norueguês gerido pelo Norges Bank.
Proxima Pergunta: Quem está contra a fusão?
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Quem está contra a fusão?
Desde logo a administração do Sabadell não quer a fusão. Mas não só, a operação recebeu muitas críticas a nível político, incluindo o Governo de Pedro Sanchéz.
“Introduz potenciais efeitos lesivos no sistema financeiro espanhol”, alertou o Ministério da Economia, Comércio e Empresa. Três entidades passariam a controlar 70% do mercado bancário, pelo que a fusão entre o BBVA e o Sabadell “poderia ter um impacto negativo” no emprego e na prestação de serviços financeiros, e representaria um “risco adicional” para a estabilidade financeira, afirmou o ministério liderado por Carlos Cuerpo.
“Olhemos para o impacto que poderia ter [a fusão], porque a concentração bancária atual já está a ter um impacto na ausência da remuneração dos depósitos”, declarou Carlos Cuerpo esta quinta-feira numa conferência.
Na Comunidade Valenciana, teme-se a deslocalização da sede do banco para Bilbao e a perda de emprego. “É uma operação que destrói valor, é uma operação que destrói trabalho, é uma operação que destrói o território, é uma operação que destrói competências”, afirmou o presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, apelando ao povo valenciano a reagir para que a fusão não se concretize.
Carles Puigdemont, do Juntos pela Catalunha, disse tratar-se de outro ataque da Espanha contra a região: “Há muito tempo que há uma estratégia para liquidar a atividade bancária catalã”.
O BBVA tem 110 mil trabalhadores, dos quais 28 mil em Espanha. O Sabadell emprega 19 mil, dos quais 14 mil em Espanha.
Proxima Pergunta: Quais são os próximos passos da OPA?
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Quais são os próximos passos da OPA?
O BBVA tem de oficializar a OPA e o regulador do mercado espanhol, a CNMV (equivalente à nossa CMVM), terá de registar a operação. Mas o negócio também está dependente de autorização do Banco Central Europeu (BCE), que se tem manifestado a favor de movimentos de consolidação no setor para criar grandes bancos europeus que possam concorrer com os gigantes americanos.
“O BCE tem de autorizar a operação. Temos de ser absolutamente prudentes neste momento. Não sabemos se a operação se vai cristalizar, dependerá dos acionistas”, referiu o vice-presidente do BCE, o espanhol Luis de Guindos, lembrando que o banco central analisa este tipo de operações com base “no princípio da solvência e no princípio prudencial”. Frisou ainda que o BCE procura a “estabilidade financeira na Zona Euro e, logicamente, Espanha é um país importante” nesse objetivo.
Do lado do Governo espanhol, o ministro da Economia, Comércio e Empresa recordou que, se a autoridade da concorrência der luz verde à operação, “a decisão final da fusão de ambas as entidades dependerá do Governo”. “Será um processo de meses”, avisou Carlos Cuerpo, citado pela imprensa espanhola.
O presidente do BBVA disse estar otimista na concretização do negócio. “Confiamos que acabarão por apreciar a operação pelo valor que tem, pela maior capacidade de apoio à economia espanhola”, disse Carlos Torres aos analistas. “O tempo vai fazer a operação mais atrativa”, argumentou.