Após 14 anos, Sofia Vaz Sampaio foi nomeada sócia da Morais Leitão. À Advocatus contou todos os pormenores do seu percurso que se iniciou, enquanto estagiária, em 2006.
Recentemente, em outubro de 2020, Sofia Vaz Sampaio reforçou a equipa de sócios da Morais Leitão. Uma promoção que ocorreu 14 anos depois de ter entrado na firma, enquanto estagiária. A advogada é responsável pela equipa de contencioso e arbitragem e integra ainda a equipa de desporto e entretenimento.
Com mais de 14 anos de experiência, a sócia tem atuado em arbitragens e processos judiciais nos mais variados setores de atividade, incluindo banca, construção, comércio e alimentação, infraestruturas, media e publicidade, parcerias público-privadas, energia, consumo e telecomunicações.
Sofia Vaz Sampaio tem vindo a ser reconhecida pelos principais diretórios jurídicos internacionais, tais como o Who’s Who Legal – International Arbitration 2021, Best Lawyers e Iberian Lawyer.
Que idade tinha quando chegou ao escritório? Em que ano?
Entrei na Morais Leitão (ML) em janeiro de 2006, com 23 anos, no âmbito da fusão da ML com a Osório de Castro, Verde Pinho, Vieira Peres, Lobo Xavier e Associados (CPPX), onde comecei o estágio em outubro de 2005.
Como conseguiu o estágio no escritório?
Estudei na Faculdade de Direito de Coimbra e o ambiente em relação à entrada no mercado de trabalho era genericamente mais relaxado do que aquele que vim a conhecer em Lisboa. No 5.º ano fiz Erasmus e, na verdade, estava, tal como o meu círculo de amigos, mais preocupada em aproveitar os últimos meses de vida de faculdade – foram cinco anos magníficos – do que em pensar com seriedade sobre o que iria fazer a seguir, sendo que inclusivamente admitia a possibilidade de, no final do curso, ir viajar por uns meses a um ano.
Entretanto em setembro, à falta de planos definidos e de poupança que me permitisse voar, decidi adiar o plano da viagem – e ficou adiado até 2017 – e comecei a enviar currículos, numa altura em que obviamente quase nenhum escritório estava a recrutar. Tive a sorte de a CPPX ter aberto nova vaga, fiz duas entrevistas e comecei a trabalhar num solarengo 12 de outubro, para cerca de dois meses mais tarde perceber que afinal ia estagiar na ML. Correu tudo bem, tive sorte, mas, olhando para trás, talvez tenha sido um pouco imprudente enviar CV completamente fora de época…
Ponderei, sem grande afinco, a possibilidade de mudar radicalmente de vida, o que me parece um exercício saudável para nos recordarmos do que nos faz ficar onde quer que seja.
E qual a primeira impressão do escritório?
Da CPPX recordo o nervosismo do primeiro dia de trabalho, a vista extraordinária do 10.º andar do Tivoli Forum, o primeiro trabalho que me pediram, tão distante de tudo o que tinha estudado, e as longas discussões com o Nuno Peres Alves, que parecia querer ensinar-me o mundo e com quem senti, pela primeira vez, que talvez viesse a gostar de ser advogada. A passagem da CPPX para a ML e de uma equipa de 30 advogados (menos de 10 em Lisboa) para uma equipa de mais de 100 advogados, muito heterogénea e com muita experiência para absorver, foi muito marcante. Percebi com o tempo que esta estrutura era a minha cara.
Sentiu receio, natural de uma jovem licenciada?
Senti, claro, e não apenas como jovem licenciada, embora o receio inicial se tenha esvanecido e transformado num sentido de responsabilidade apurado, em sentido de dever e compromisso com o escritório e com os clientes (e comigo, talvez em primeira linha). Trabalhar com os melhores, independentemente da senioridade, num contexto de grande exigência, ainda hoje me põe em sentido, o que, bem vistas as coisas, me parece salutar.
No início e durante parte do estágio houve muitos momentos em que pensei que talvez tivesse dado um passo maior do que as pernas. Estava a trabalhar com colossos da advocacia, em processos complexos e intelectualmente desafiantes, tinha por colegas de estágio alguns dos melhores alunos do país e eu vinha de uma faculdade muito sólida do ponto de vista teórico, mas que, do ponto de vista prático, sentia que me tinha dado poucas ferramentas. Tudo isso, a par de uma grande autoexigência, naturalmente sublinhou as minhas inseguranças, o que, tendo tornado o processo mais sofrido do que necessário, me fez trabalhar mais, com mais exigência e empenho, e que, no fim da linha, acabou por ser determinante na minha carreira.
Como acabou por ‘ir parar’ à área em que se especializou?
Nos primeiros meses de estágio fiz um pouco de tudo, mas na passagem para a ML fiquei alocada à área de contencioso e nunca mais saí. Ponderei seriamente com o escritório fazer uma rotação por outra área, mas não só não era especialmente conveniente na altura, como cedo se percebeu que já estava no sítio certo. Podia eventualmente não ser advogada – num mundo paralelo imagino-me ligada ao turismo – mas como advogada não me vejo a trabalhar noutra área.
Nunca foi sondada para mudar de escritório? Se sim, o que a fez ficar na ML?
A primeira pergunta é na verdade, a meu ver, irrelevante para responder à segunda. Ponderei, sem grande afinco, a possibilidade de mudar radicalmente de vida, o que me parece um exercício saudável para nos recordarmos do que nos faz ficar onde quer que seja, mas nunca ponderei seriamente fazer o mesmo numa estrutura diferente, mas idêntica. Não foi tudo perfeito naturalmente – desconfio que esse conceito foi inventado para nos fazer correr – mas encontrei sempre na ML os desafios de que precisava, em termos de trabalho, enriquecimento pessoal e evolução na carreira, e tive sempre na ML as minhas pessoas, que verdadeiramente nunca me apeteceu trocar por outras.
Trabalhar com os melhores, independentemente da senioridade, num contexto de grande exigência, ainda hoje me põe em sentido, o que, bem vistas as coisas, me parece salutar.
O que acha que a ML tem de melhor ou quais as suas mais valias face a outros escritórios?
Conheço a ML como não conheço qualquer outro escritório, pelo que qualquer comparação sempre seria pouco fundamentada e até porventura injusta. Conheço, admiro e sou amiga de muitos advogados noutros escritórios, com quem seria um gosto trabalhar, mas não vejo que pudesse ter aprendido mais ou vestido a camisola com mais afinco em qualquer outro escritório.
Na ML fui tendo todas as oportunidades de que precisava para me desenvolver e progredir. Estive sempre envolvida em processos estimulantes, com equipas top, fiz pós-graduações quando entendi que seriam úteis para a minha aprendizagem, dei aulas quando quis, fiz um secondment assim que manifestei essa vontade, deram-me carta branca para fazer um período sabático, deram-me espaço para ter um papel relevante na coordenação e ainda me aceitaram como sócia. Posso dizer que a ML soube sempre desafiar-me e soube sempre ser desafiada por mim e essa é razão mais do que suficiente para ficar.
E a nomeação para sócia, aconteceu naturalmente? Desde quando é sócia?
Sou sócia desde outubro de 2020. Não diria que aconteceu naturalmente porque poderia dar a ideia errada de que foi um processo fácil ou de que estava predestinada a ser sócia. Na verdade, a passagem a sócia – que não acontece por nomeação, mas por deliberação dos sócios, na sequência da apresentação de uma candidatura – resultou de 15 anos de trabalho, em que fui revelando potencial e características, como advogada e como gestora de pessoas, que o escritório soube reconhecer, estimular e aproveitar em benefício do todo.
Momento mais difícil que passou na ML?
O primeiro ano de estágio, pelas razões já referidas. Um ou outro momento de maior desgaste e cansaço. Uma arbitragem especialmente acidentada. Não ter conseguido reverter o desfecho de um processo que nos chegou para lá de perdido e no qual um homem foi injustiçado, se não pelo direito, pela vida.
Momento mais gratificante?
Seria redutor escolher um momento. Trabalhar em equipa – e com esta equipa – tem-me proporcionado momentos extraordinários, fonte de grande estímulo, mas também de grande diversão. Ganhar processos especialmente difíceis. Momentos em que fiquei mais orgulhosa do meu desempenho em tribunal. O momento em que, ponderando todos os cenários, decidi parar para viajar e o escritório me apoiou incondicionalmente.
Se voltasse atrás no tempo, mudaria alguma coisa no seu percurso profissional?
Nada de especial. Revisitaria o secondment que fiz em Londres, na Skadden Arps, em 2011. Talvez tivesse ficado por um período mais longo e tivesse sido benéfico trabalhá-lo previamente com a Skadden. Sei, aliás, que, entretanto, “profissionalizaram” bastante os secondments com claro benefício para todos os envolvidos. Foi, em todo o caso, muito enriquecedor e divertido.
Tem algum mentor ou mentora/role model no escritório? Ou fora do escritório?
Os meus principais mentores são, em toda a linha, os meus pais, cujos princípios moldaram a minha forma de estar na vida e as opções que fui fazendo, sendo a influência do meu pai na parte profissional especialmente marcante. No escritório, tive e tenho a sorte de ter grandes referências, sendo que há duas pessoas que não posso deixar de destacar, pelo o que me ensinaram, pelas oportunidades que me deram e por terem sido determinantes no meu crescimento e definidoras da advogada em que me tornei: Francisco Cortez, com quem tenho o privilégio de trabalhar desde 2005 e que é um exemplo do que é ser um grande advogado de contencioso, muito trabalhador, extraordinário estratega, intransigente na defesa dos clientes, ciente de que a diferença está nos pormenores, e João Soares da Silva, um mestre do raciocínio e das palavras, com quem tenho muita pena de não ter podido continuar a aprender. Há vários outros advogados, mais novos e mais velhos, que me marcaram, que fizeram a diferença no meu percurso e que, por diferentes razões, caberia referir, mas não podendo ser exaustiva correria o risco de ser injusta. Tenho no escritório, além do mais, grandes amigos, cujos conselhos e sentido crítico procuro frequentemente.
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Como é fazer carreira na Morais Leitão? “A ML soube sempre desafiar-me”, diz Sofia Vaz Sampaio
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