“Empresas que não acompanham a transformação digital já não existem”, diz Ricardo Martins

A CEGOC organiza a nova edição do Business Transformation Summit, "um espaço de reflexão sobre aquilo que, a nível empresarial, é preciso considerar face a este mundo em transformação".

“Transformação digital” podia ser a expressão do ano, ou até dos últimos anos. Também podem ser ‘palavras’ do futuro, já que o mundo está em constante alteração e a um ritmo muito acelerado. As empresas não fogem a este processo: veem as suas práticas serem questionadas, os hábitos de consumo a mudar e um conjunto de ferramentas digitais a surgir no seu dia-a-dia, que pode ser encarado como uma ameaça ou, pelo contrário, como uma oportunidade.

É precisamente para ajudar as empresas a crescerem e a tirarem partido da transformação digital, acompanhando os desafios que se lhes impõem, que o Business Transformation Summit existe. Marcado para 9 de outubro, trata-se de um evento que o Centro de Estudos de Gestão e Organização Científica – Técnicos Especialistas Associados (CEGOC) tem colocado no mercado, com o objetivo de ser um espaço de reflexão sobre os desafios que as empresas enfrentam atualmente.

Ricardo Martins, diretor-geral da CEGOC, falou com o ECO sobre as novidades da edição deste ano, sobre a transformação digital, os desafios que as empresas enfrentam e os programas de aprendizagem da CEGOC.

Ricardo Martins, diretor-geral da CEGOCPaula Nunes / ECO

O Business Transformation Summit regressa já no próximo mês. De que evento se trata?

O Business Transformation Summit é um evento que a CEGOC tem colocado no mercado como um espaço de reflexão face a este mundo em transformação. Por um lado, é preciso olhar para a questão digital mas, por outro, também é preciso olhar para a questão do consumidor, que está a ser questionado, tal como os seus hábitos de consumo. De tal maneira que, atualmente, as marcas aparecem e desaparecem muito rapidamente.

É preciso agregar valor para as pessoas que estão nas empresas, e isso passa pelas ferramentas que lhes são colocadas à disposição, que para alguns representam ameaças, mas para outros são oportunidades.

Tudo isto está a ser posto em debate, com convidados internacionais que vêm a Portugal apresentar as suas ideias mas, também, com convidados nacionais que vão expor as suas ideias nestes pequenos momentos de partilha e que mostram o que de mais recente e inovador está à nossa disposição.

O que podemos esperar da edição deste ano?

Todos os anos temos um tema que é inerente aos convidados que trazemos. O tema da edição deste ano é a experiência: o customer experience transformation, que é a transformação da experiência do cliente e do consumidor, o employee experience transformation — a alteração profunda que vai acontecer no ambiente de trabalho — e o learner experience transformation, relacionado com a forma como as pessoas, em contexto de aprendizagem, vão ser desafiadas a aprender no futuro.

A Business Transformation Summit 2018 traz três speakers internacionais. Convidámos Martin Lindstrom, que, além de autor sobre customer experience transformation, tem também dedicado o seu trabalho ao branding futurists e, no evento, vai falar sobre o small data. No meio do grande tema que é hoje o big data, Lindstrom vem demonstrar que o small data tem uma importância que não pode ser desconsiderada, até porque somos todos humanos e todos temas as nossas tendências.

O evento recebe também Jeanne Meister, uma autora do mundo dos recursos humanos que vai explicar de que forma as empresas estão a utilizar a inteligência artificial e que medidas estão a implementar para reinventar processos como o recrutamento, a seleção, a entrevista e a formação.

O learner experience transformation será feito com um painel de convidados, empresas que já estão a instalar programas de aprendizagem e de desenvolvimento. Portuguesas e estrangeiras, estas empresas vêm partilhar a sua experiência e os resultados que obtiveram.

Durante a parte da tarde haverá uma outra dupla. Jeanne Meister vai fazer um transformation lab associado ao futuro do trabalho e Chris McChesney vem falar sobre a cultura de execução. É muito frequente ouvirmos as pessoas dizerem que a estratégia é boa, mas que a execução não foi tão assim tão boa. Este orador trabalha metodologia específica para a implementação da estratégia.

Como estão as empresas portuguesas a acompanhar a transformação digital?

A transformação digital é o grande desafio que o mundo empresarial vai enfrentar durante os próximos anos e não há outra alternativa a não ser acompanhá-la. Aquelas [empresas] que não estão a acompanhar a transformação digital já não existem. Estão a ser substituídas por empresas mais pequenas e startups que pegam em setores da economia, que até hoje eram legacy companies, e rapidamente as substituem num mercado com uma evolução tão acelerada.

"A transformação digital é o grande desafio que o mundo empresarial vai enfrentar durante os próximos anos e não há outra alternativa a não ser acompanhá-la.”

Ricardo Martins

Na minha opinião, as empresas estão conscientes dessa necessidade. O que é estão a fazer para conseguir abraçar essa transformação é que me deixa algumas dúvidas. Muitas pessoas consideram que, para fazer um acompanhamento desta transformação, basta adotar, por exemplo, uma série de tecnologias digitais e está feito. No entanto, a transformação digital implica muito mais do que isso: há uma transformação em termos de mentalidade de liderança que é preciso ser feita.

Além disso, toda uma geração — e já nem falo dos millennials –, mas sim da geração que vem a seguir, que vai desafiar as empresas a olharem para o próprio espaço onde trabalham com outros olhos.

Quando falamos da internet das coisas ou do avançar da inteligência artificial, perguntamo-nos como é que vai ser a nossa relação com este tipo de máquinas. Isto é um desafio enorme para quem está hoje a gerir ou a criar empresas para o futuro.

O que procuram as empresas atualmente?

Em primeira instância, as empresas querem ser lucrativas e financeiramente saudáveis que é, no fundo, a sua razão de existência, a não ser que sejam entidades sem fins lucrativos. Mas, mais do que serem financeiramente saudáveis, procuram a sustentabilidade. Nenhuma empresa quer desaparecer porque não foi capaz de se adaptar às transformações. Na perspetiva de garantir que o negócio consegue evoluir, nomeadamente fazendo as escolhas acertadas e atempadamente, as empresas querem crescer e desenvolver-se.

"Nenhuma empresa quer desaparecer porque não foi capaz de se adaptar às transformações. ”

Ricardo Martins

Obviamente que, nessa equação, o elemento humano é extremamente importante. A forma como as pessoas encaixam nesse processo de mudança, trazendo valor, não só para os seus clientes, mas também para aquilo que são as relações laborais que encontram dentro das organizações, são claramente preocupações de quem está à frente de uma empresa.

As empresas querem prosperar, criando naturalmente valor para os seus acionistas, mas também para os seus colaboradores, que precisam que estejam satisfeitos, e para os seus clientes. Sem isso não têm sobrevivência possível.

Qual a área de negócio da CEGOC?

A CEGOC é uma empresa que tem 55 anos de existência em Portugal. Pertence ao grupo internacional CEGOS e atua na área dos recursos humanos, quer através do desenvolvimento de recursos humanos, quer através de consultadoria, ou de processos de recrutamento e seleção. Além disso, mais recentemente, passámos a contar com uma escola coaching executivo para formação e certificação.

Trabalhamos com empresas e, normalmente, têm uma abrangência muito diversificada de necessidades formativas, podendo ir desde programas de formação para gestores, temas de liderança ou de desenvolvimento profissional e pessoal, até áreas mais técnicas como finanças, contabilidade, fiscalidade, qualidade, vendas, marketing, terminando inclusive nas IT.

Muitas vezes, as empresas encontram resposta às suas necessidades nas nossas ofertas interempresas, para as quais publicamos todos os anos um guia formativo. Outras pedem que sejamos capazes de estruturar programas 100% à medida. Nestes programas vamos além da formação formal. Há um conjunto de momentos de aprendizagem informal, que é aquela que acontece em contexto de trabalho ou, por exemplo, quando se coloca uma equipa a trabalhar em conjunto na resolução de um determinado problema. Isto pode ser online ou induzido através de momentos de team coaching, que é uma área na qual temos trabalhado imenso.

Ricardo Martins considera que a CEGOC é mais uma empresa de transformação do que propriamente de formaçãoPaula Nunes / ECO

Porque devem as empresas recorrer a este tipo de programas de aprendizagem?

Porque o mundo em si está em transformação e a um ritmo cada vez mais acelerado. Houve um tempo em que entregar um conteúdo formativo só por si já acrescentava valor aos clientes. Isto porque as empresas tinham um grande défice de conhecimento. A partir de certa altura começámos a sentir que as empresas já não tinham uma lacuna tão grande em conhecimentos, estavam muito mais debilitadas em termos das competências.

As empresas estavam a fazer um investimento demasiado elevado em formação e, muitas vezes, não viam retorno. Isso levou-nos, há cerca de 15 anos, a preocupar-nos muito mais com o tema da transferência do saber para o fazer.

As plataformas digitais vieram dar uma ajuda neste processo, acelerando e permitindo este tipo de programas de desenvolvimento. Houve um tempo em que se dizia aos formandos para desligarem os telemóveis e os computadores porque a aula ia começar. Hoje em dia fazemos exatamente o contrário. Convidamos as pessoas a ligarem os seus smartphones e os computadores, no fundo a utilizarem a tecnologia para facilitar o processo de aprendizagem.

Houve um tempo em que se dizia aos formandos para desligarem os telemóveis e os computadores porque a aula ia começar. Hoje em dia fazemos exatamente o contrário.

Ricardo Martins

Não há certezas sobre qual vai ser o modelo certo ou errado. Há apenas uma certeza: qualquer que seja o modelo em que nos estamos a consolidar, vai ser questionado muito mais depressa no futuro do que foi no passado. Já lá vai o tempo em que uma empresa conseguia estar numa situação relativamente confortável durante um período alargado. Hoje, as empresas têm de encontrar conforto no desconforto e estar sistematicamente em reinvenção, caso contrário terão dificuldade em manter-se por muito tempo.

  • Paula Nunes
  • Fotojornalista

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