A health tech, que pretende acelerar o diagnóstico de infertilidade, já admite planos de expansão para Ásia e África. Já tem 1,4 milhões de euros comprometidos dos 2 milhões pretendidos da ronda seed.
Depois de ser a startup mais promissora no programa Road 2 Web Summit, a Enhanced Fertility leva agora as Estados Unidos a sua missão: kits que ajudam a fazer de forma mais rápida testes para um diagnóstico de infertilidade, para ajudar a nascer um milhão de bebés no mundo.
A health tech surge de uma história pessoal da fundadora, há 20 anos diagnosticada com infertilidade. Hoje Andreia Trigo lidera, a partir de Lisboa, uma equipa de nove pessoas, uma operação já presente em três mercados estratégicos: Reino Unido (hub em Londres), União Europeia (hub em Lisboa) e, agora, nos Estados Unidos.
“A EnhancedDx Inc está constituída nos EUA e os testes estão ativos em todos os 50 estados. Ainda não decidimos a localização de um “escritório tradicional” — provavelmente Dallas/Nova Iorque numa fase inicial”, adianta a fundadora em entrevista ao ECO.
E não faltam planos para o mercado norte-americano como de expansão para outras regiões do globo. “A futura expansão para a Ásia e África seguirá o mesmo modelo: nós estratégicos, equipas distribuídas, infraestrutura que escala sem depender de imobiliário”, aponta.
Vão entrar nos Estados Unidos, como será feita essa expansão?
Já entrámos. A EnhancedDx Inc está constituída nos EUA e os testes estão ativos em todos os 50 estados. Ainda não decidimos a localização de um “escritório tradicional” — provavelmente Dallas/Nova Iorque numa fase inicial.
A infertilidade afeta uma em cada seis pessoas [segundo dados da Organização Mundial de Saúde]. Não conhece fronteiras. Temos de crescer para chegar a mais doentes. Com a escala vem a necessidade de capital. Culturalmente, os Estados Unidos sempre valorizaram o empreendedorismo e tomam decisões muito mais depressa do que na Europa — eles chamam-lhe venture capital, nós chamamos-lhe capital de risco. Temos de olhar para fora, a partir de Lisboa, para responder a um enorme desafio global de saúde.
Nascidos durante a pandemia, construímos todos os sistemas para trabalho remoto desde o primeiro dia. A nossa equipa opera de forma global, sem estar limitada pela geografia. Uma equipa de fulfillment externalizada nos EUA trata da logística e dos envios de amostras para 16 laboratórios parceiros certificados.
Com 21 laboratórios na rede em cinco países, 26 clínicas/hospitais na nossa plataforma em 11 países e cerca de 500 doentes de 14 países, é seguro dizer que temos alguma experiência internacional. É uma sensação estranha pensar que a nossa equipa de nove pessoas pode tecnicamente oferecer testes acessíveis a mais de um milhar de milhão de pessoas!

Teremos equipas clínicas “no terreno” para garantir a confiança dos doentes e o cumprimento regulatório, mas a equipa core continuará distribuída. Elevada confiança, elevada responsabilidade: contratamos pessoas que aprendem depressa e são motivadas pela missão, não pela proximidade a um escritório.
O nosso investidor líder, Eagle Venture Fund, é um fundo de capital de risco em Dallas, Texas, que se comprometeu com um milhão de dólares no nosso seed investimento. Tem sido excelente trabalhar com eles até agora. Não conseguiríamos escalar tão depressa se não tivessem tido a visão e a convicção de investir.
Entrada é feita através de alguma parceria local? Com que entidades?
Sim. Há três categorias de parceria. Primeira, com 16 laboratórios certificados em vários estados — cada um validado para as nossas metodologias específicas, em particular tecnologia de “Dried Blood Spot” — a complementar cinco laboratórios na Europa; segunda, com parceiros clínicos — três clínicas de fertilidade para pilotos comerciais (mistura de grandes sistemas hospitalares e grupos detidos por private equity). Somos agora membros ativos da American Society for Reproductive Medicine (ASRM) e também da European Society of Human Reproduction & Embryology (ESHRE) — e, a terceira é tecnológica/infraestrutura, com integrações com registos clínicos eletrónicos como o Epic, sistemas de verificação de seguros, processadores de pagamentos e serviços de licenciamento médico para cobertura multi-estado.
Atualmente, temos três pilotos com clínicas de fertilidade (multi-site) em curso. Em janeiro de 2026, vamos fazer o lançamento da plataforma de marca branca. Qualquer clínica, hospital ou seguradora poderá criar o seu próprio serviço de testes com marca própria.
Em termos de trabalho, há diferenças em relação ao modelo, com recurso a kits, até agora utilizado na Europa?
O processo fundamental mantém-se idêntico: encomendar, enviar, recolher, devolver, analisar, reportar. A execução é que difere um pouco. Na Europa usam-se microtainers para sangue total, processados em laboratório em até três dias. Nos EUA usamos dried blood spot (sangue seco): picada no dedo para um cartão com separador de soro, com amostra viável até duas semanas. Exceto em Nova Iorque, que suporta a colheita capilar atual (o mesmo princípio, regulamentação diferente). Oferecemos outros kits de auto-colheita para saliva, urina, esperma etc.
Mais importante ainda: automatizamos o que a Europa faz manualmente. Verificação de cobertura de seguro por Estado, empregador e plano; validação de identidade em conformidade com a HIPAA [Health Insurance Portability and Accountability Act, Lei de Portabilidade e Responsabilidade de Seguros de Saúde, em português] e as leis de privacidade estaduais; assinaturas médicas de médicos licenciados em cada Estado (por exemplo, uma licença da Califórnia pode não valer nada em Nevada e as requisições laboratoriais têm de ser assinadas em conformidade).

Este é um mercado enorme, quais são os planos para a expansão no país?
Atualmente, temos três pilotos com clínicas de fertilidade (multi-site) em curso. Em janeiro de 2026, vamos fazer o lançamento da plataforma de marca branca. Qualquer clínica, hospital ou seguradora poderá criar o seu próprio serviço de testes com marca própria. Nós tratamos da conformidade, logística, dados e faturação. Eles ficam com um branding limpo e próprio. Um único contrato enterprise pode significar centenas de unidades clínicas!
Embora nunca tenhamos recusado um doente (alguns chegam diretamente), trabalhamos tipicamente em modelo B2B2C, com base em referência. Estamos a tornar-nos a camada de infraestrutura da UE sobre a qual outros podem construir.
A equipa europeia já se expandiu para apoiar operações globais a partir de Lisboa e Londres. Mas é importante lembrar: a localização não é a restrição. Precisamos de pessoas que trabalhem de forma autónoma, aprendam rapidamente e se importem mais com a missão do que com o trajeto casa-trabalho.
Que impacto poderá esta expansão ter na equipa? Há recrutamento previsto? Que perfis procuram?
A credibilidade conta mais do que a experiência comercial tradicional. Priorizamos liderança clínica para o início de 2026, mas iremos avaliar funções de desenvolvimento de negócio e funções comerciais no início do segundo trimestre. Já começámos a ter conversas… discretamente.
A equipa europeia já se expandiu para apoiar operações globais a partir de Lisboa e Londres. Mas é importante lembrar: a localização não é a restrição. Precisamos de pessoas que trabalhem de forma autónoma, aprendam rapidamente e se importem mais com a missão do que com o trajeto casa-trabalho.
Tendo em conta a expansão, há planos para acelerar a ronda de financiamento de dois milhões? Após a vitória na Web Summit, tiveram mais contactos com potenciais investidores?
O prémio “Most Promising Startup” da Startup Portugal reacendeu o interesse dos investidores. Apresentar ao Presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa e receber um abraço de apoio, ir à televisão nacional e ter cobertura mediática ajudou-nos a divulgar a nossa missão de forma ampla.
Como fundadora mulher, conhecemos as estatísticas: menos de 2% do financiamento de capital de risco chega a mulheres. As coisas estão a mudar, mas não com a rapidez necessária. Se puder mostrar, pelo exemplo, a outros empreendedores e investidores, isso faz diferença. “Não podemos ser aquilo que não conseguimos ver.” Quem entrou na nossa ronda compreende tanto a missão como a matemática.
Vários investidores-anjo estão agora envolvidos, num total de cerca de 275 mil euros. Duas sociedades de capital de risco portuguesas estão em negociação ativa. Já alcançamos compromissos de cerca de 1,4 milhões de euros, portanto já não falta muito para atingir o nosso objetivo de 2 milhões de euros na ronda seed.
Como fundadora mulher, conhecemos as estatísticas: menos de 2% do financiamento de capital de risco chega a mulheres. As coisas estão a mudar, mas não com a rapidez necessária. Se puder mostrar, pelo exemplo, a outros empreendedores e investidores, isso faz diferença. “Não podemos ser aquilo que não conseguimos ver.” Quem entrou na nossa ronda compreende tanto a missão como a matemática.
Daremos particular valor a investidores portugueses. Uma empresa portuguesa a resolver um problema global, usando talento português para construir uma infraestrutura mundial: essa narrativa importa.
A proposta fundamental mantém-se — não estamos a construir mais uma clínica de fertilidade ou mais uma empresa de testes. Estamos a criar a camada de infraestrutura que torna os cuidados de saúde reprodutiva acessíveis globalmente. As “pás e picaretas” da corrida ao ouro dos diagnósticos. É daquelas oportunidades para fazer algum bem no mundo e, ao mesmo tempo, gerar um bom retorno financeiro.
Há planos para outros escritórios?
Operamos em três mercados estratégicos: Reino Unido (hub em Londres), União Europeia (hub em Lisboa, sete línguas) e Estados Unidos (Dallas/Nova Iorque, todos os 50 estados). “Escritórios” é o enquadramento errado. Estes são pontos de acesso regulatório, não locais de trabalho tradicionais. A futura expansão para a Ásia e África seguirá o mesmo modelo: nós estratégicos, equipas distribuídas, infraestrutura que escala sem depender de imobiliário.
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Enhanced Fertility entra nos EUA. “Testes de fertilidade estão ativos em todos os 50 estados”
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