Daniela Silva e Sousa, head of business legal do Santander Portugal, sublinhou que ser in house permite-lhe ter uma visão única do cliente empresa e fazer parte do seu crescimento.
Daniela Silva e Sousa, head of business legal do Santander Portugal, partilhou com a Advocatus como é ser in house num dos maiores bancos em Portugal. Sublinhou que lhe permite ter uma visão única do cliente empresa e fazer parte do seu crescimento. Ainda assim, admitiu que não fecha a porta para voltar a trabalhar num escritório de advogados.
Direito sempre foi um sonho de infância ou apareceu na sua vida por acaso?
Nem uma coisa nem outra! O facto da minha irmã, 6 anos mais velha, também ter seguido Direito e ser advogada, acabou por me familiarizar com o curso. Não tendo sido um sonho de infância acabou por ser uma opção natural para quem não queria seguir matemática. Entendo que o curso de direito é um dos mais abrangentes, não só para ser advogado, e, por isso, honestamente, não poderia ter escolhido melhor curso.
Iniciou a sua carreira na Uría Menéndez, onde esteve entre 2003 e 2007, e desde então que é in house. Voltaria a exercer num escritório de advogados?
O início da minha carreira na Uría foi essencial para a minha formação, já que, durante o estágio, integrei diferentes departamentos – fiscal, imobiliário, contencioso, mercado de capitais e financeiro, onde acabei por ficar como associada. Até hoje, são de uma enorme utilidade os ensinamentos que retirei na incursão por essas áreas. Considero que, para um advogado, trabalhar num escritório de advogados, onde os advogados são o centro do negócio, é sempre desafiante e estimulante. Por outro lado, ser in house, permite-nos ter uma visão única do cliente empresa e fazer parte do seu crescimento, conhecendo de forma intrínseca a sua maneira de funcionar, o que sendo advogado de transações pontuais não é possível. Dito isto, creio que não posso dizer que fecharia a porta a voltar a um escritório de advogados.
Enquanto in house, passou por uma promotora imobiliária, pelo Banco Popular Portugal e, desde 2017, que está no Santander Portugal. O que diferencia estar como in house numa empresa face a um escritório de advogados?
São duas posições completamente diferentes. Numa empresa, os advogados são chamados a participar nas decisões de gestão, ponderando e assumindo riscos na estratégia de negócio do seu cliente interno. Diria que, numa empresa, há muito menos espaço a respostas não objetivas por parte de um advogado, ainda considerando que, na nossa área, a doutrina diverge sempre.
Sendo in house, fazemos parte de uma equipa verdadeiramente multidisciplinar, sendo que interagimos com pessoas com diferentes formações e backgrounds, o que torna o dia-a-dia muito menos previsível do que num escritório de advogados.
Ser advogado é um enorme desafio em si mesmo, mas mais ainda num setor como o setor bancário, que tem vindo a ser objeto de uma fortíssima regulamentação e de uma perceção, por parte da opinião pública que, infelizmente, não é a mais correta.
No seu dia-a-dia lida com bancários e gestores e não com advogados, como seria num escritório de advogados. Sente que teve de adaptar a sua linguagem para uma menos jurídica e mais “acessível”?
Sim, sem dúvida. Acho, aliás, que essa foi uma das minhas primeiras preocupações como advogada de empresa – que os interlocutores da área jurídica entendessem os desafios e as implicações de determinadas posições com impacto no plano jurídico, sempre comunicando de forma clara e transparente. É absolutamente essencial adaptar o discurso jurídico ao nosso interlocutor não jurídico, sendo que o maior desafio é conseguir explicar as contingências, mas sempre com uma postura pró negócio e de ajuda na resolução dos temas. Não podemos entregar uma resposta técnica e não ajudar na decisão sobre o caminho a seguir.
Em 2022 assumiu o cargo de head de business legal do Santander Portugal. Como está a correr esta nova etapa profissional?
Diria que foi uma evolução natural em relação ao que já fazia no Banco, pelo que mudou muito pouco, obviamente, além das maiores responsabilidades. A minha equipa é extraordinária e o Banco, como um todo, é fora de série, pelo que todos os dias são de superação.
Liderar uma equipa jurídica de um banco é um grande desafio? Porquê?
Ser advogado é um enorme desafio em si mesmo, mas mais ainda num setor como o setor bancário, que tem vindo a ser objeto de uma fortíssima regulamentação e de uma perceção, por parte da opinião pública que, infelizmente, não é a mais correta.
É fácil dizer que os Bancos apresentam enormes lucros, mas não considerar todas as limitações à atividade e o apoio que o setor bancário dá à sociedade. Nessa medida, o desafio de trabalhar na Banca tem sido cada vez maior, também para nós advogados.
Qual é a importância do trabalho de equipa para alcançar o sucesso de uma empresa?
Não existe sucesso sem trabalho de equipa. Por trás de qualquer achievement há uma equipa, que nem sempre se vê, mas que rema em conjunto e torna possível o sucesso da empresa. Todos participamos nesse sucesso, que devemos sentir como nosso. Há uma frase de que gosto muito e que define bem aquele que deve ser o nosso lema de equipa: a experiência soma, mas a atitude multiplica. E todos devemos contribuir para ser esse fator de multiplicação.
Quais as suas principais mais-valias que beneficiam o Santander?
Isto de falarmos de nós próprios, além de constrangedor, é sempre um desafio. Diria que trago para o Banco todos os dias muita vontade de ajudar, de colaborar, de fazer melhor sempre e de transmitir essa alegria para a minha equipa, que é o meu maior apoio e orgulho, pelo trabalho que tem vindo a fazer.
Em relação ao setor da banca, qual é o principal desafio que o setor tem neste momento?
Sem entrar nos desafios técnicos que são mais que muitos – transformação digital continuando a servir o cliente da melhor maneira possível, temas regulatórios, temas de contexto económico, cibersegurança, entre outros -, penso que o maior desafio é melhorar a imagem dos bancos na opinião pública. Há um enorme desfasamento entre a realidade dos Bancos, da sua maneira de fazer negócio e da sua contribuição para o interesse público, e a perceção da opinião pública, invariavelmente negativa, com muitos preconceitos que não são nada justos, apesar do passado recente e dos casos que abalaram o sistema financeiro português e internacional.
Qual foi o melhor conselho que lhe deram durante estes 20 anos de carreira?
Foram muitos, porque tive a sorte de me ir cruzando com pessoas fantásticas no meu percurso profissional e porque sempre estive atenta ao que me ensinavam.
Talvez o melhor conselho tenha sido sobre como nos devemos pautar, em todos os momentos, na nossa vida profissional, sempre com preocupação pelo próximo, com empatia e com espírito de colaboração. Nada faz sentido, se não estivermos de coração aberto e com generosidade em relação às pessoas que nos rodeiam.
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“O maior desafio do setor da banca é melhorar a imagem dos bancos na opinião pública”
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