Indústria portuguesa está de regresso à maior feira industrial do mundo, onde em 2022 teve estatuto de país parceiro e participação recorde, que rendeu novos negócios e abriu a porta a investimentos.
Menos de um ano depois da autêntica invasão portuguesa a Hannover, em que a indústria nacional aproveitou o estatuto de país parceiro naquela que é a maior feira de tecnologia industrial do mundo, além da “notoriedade” alcançada pelo país na maior economia europeia, a participação dessa comitiva que integrou um total de 109 empresas rendeu “milhares de contactos e as interações para novos investimentos foram na ordem das dezenas, muitas com novos potenciais clientes”.
Em declarações ao ECO, Luís Castro Henriques, presidente da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal referiu que está “neste momento a acompanhar algumas decisões de investimento em resultado de contactos estabelecidos na feira”. E, apesar de a agência ter por norma não revelar os clientes até haver um anúncio público por parte das empresas, salienta que “os resultados estão a ser positivos”.
“O feedback que as empresas portuguesas transmitiram foi muito positivo, destacando a realização de contactos considerados promissores e muitas referiram ter obtido o retorno do investimento feito na sua participação na Hannover Messe (HM) 2022. As empresas portuguesas demonstraram que são competitivas, inovadoras e podem ser o parceiro certo para as empresas alemãs”, acrescentou o responsável, que está agora a abandonar os comandos da agência pública.
Em maio do ano passado, mais de 150 mil visitantes profissionais, representantes dos principais players da indústria europeia, puderam ficar a conhecer melhor a capacidade da indústria nacional. Que partiu à conquista do Mittelstand alemão e que o chanceler Olaf Scholz considerou na altura, acompanhado do primeiro-ministro português, António Costa, ser uma parceira “fiável e competente” para as clientes germânicas.
Foram feitos milhares de contactos e as interações para novos investimentos foram na ordem das dezenas, muitas com novos potenciais clientes. Neste momento estamos a acompanhar algumas decisões de investimento em resultado de contactos estabelecidos na feira.
A associação da indústria de metalurgia e metalomecânica (AIMMAP), que liderou a participação empresarial a convite do Governo português e da AICEP, frisou ao ECO que “a generalidade das empresas registou contactos de grande qualidade em número muito assinalável”. E durante os restantes meses do ano de 2022, e já em 2023, “têm vindo a concretizar-se muitos negócios, sendo certo que muitos mais vão seguramente realizar-se”, indicou Rafael Campos Pereira, porta-voz de um setor que viu as exportações para a Alemanha crescerem 641 milhões de euros, mais 24% do que no ano anterior.
Um inquérito realizado pela AIMMAP junto das empresas filiadas (mais de metade das 109 presentes na última edição), precisamente para monitorizar os resultados concretos e medir o impacto, concluiu que todas receberam “pedidos de orçamentos interessantes” nos meses seguintes e que 90% concluíram pelo menos um negócio na sequência da participação na feira, sendo que mais de metade indicou um total de três a seis. No total, contabiliza cerca de 400 novas encomendas fechadas neste universo de empresas, representando, para já, dez milhões de euros.
Foram realizados até ao momento cerca de 400 negócios que representam, para já, dez milhões de euros. Este valor será rapidamente multiplicado por dez vezes, sendo certo que o mercado alemão é muito exigente, sendo longo o período de maturação das relações entre compradores e potenciais clientes.
Um valor que “será rapidamente multiplicado por dez vezes”, adverte Rafael Campos Pereira, lembrando que “o mercado alemão é muito exigente, sendo longo o período de maturação das relações entre compradores e potenciais clientes”. Aos montantes resultantes dos negócios diretamente realizados pelas empresas na feira acresce o efeito indireto sobre a indústria nacional.
“A credibilidade de Portugal cresceu substancialmente em consequência da boa imagem da delegação portuguesa, o que gera muito mais milhões de euros de negócios”, completa o vice-presidente executivo da AIMMAP, que na semana passada acordou um aumento salarial médio de quase 7% para os trabalhadores do setor.
Há um ano, Luís Castro Henriques, presidente da AICEP, antecipou que, em resultado daquele que foi o maior investimento do país em promoção internacional na última década, a expectativa era de que a participação na HM pudesse render mais de 100 milhões de euros de investimentos em Portugal no espaço de ano e meio e ainda “centenas de milhões de euros de exportações” nos próximos cinco anos para a indústria portuguesa.
Esta não é uma feira na qual uma presença pontual se traduz imediatamente em negócio. (…) São necessários diversos anos de intensos contactos para desenvolver e intensificar o relacionamento com os contactos estabelecidos. Só assim poderá, a longo prazo, haver negócios.
Desafiada pelo ECO para falar sobre os resultados desta mega ação de diplomacia económica, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã (CCILA) sublinhou, por outro lado, que “a Hannover Messe não é uma feira na qual uma presença pontual se traduz imediatamente em negócio”. É que, detalhou fonte oficial, “dado o setor que a feira representa, são necessários diversos anos de intensos contactos para desenvolver e intensificar o relacionamento com os contactos estabelecidos”. “Só assim poderá, a longo prazo, haver negócios”, advertiu.
Na edição deste ano, que arranca esta segunda-feira e se prolonga até 21 de abril, decorrendo sob o mote “Transformação industrial – Fazendo a diferença”, os temas principais são a Inteligência Artificial, Machine Learning, Gestão de Energia, Produção Sustentável, Indústria 4.0 e Hidrogénio como combustível. Além da presença institucional através do stand da AICEP e da participação em várias conferências, incluindo membros do Governo, Portugal estará presente com 42 expositores, sobretudo nas áreas de engenharia, automação ou ecossistemas digitais.
Entre elas está a Tekon Electronics, que já marca presença na HM desde 2015, com o argumento de que é “uma oportunidade relevante para continuar a reforçar a notoriedade da marca no panorama internacional”, sublinhou ao ECO o presidente do grupo Bresimar Automação, que detém a empresa de Aveiro. Empregando um total de 117 pessoas, fechou o último exercício com um volume de faturação superior a 18 milhões de euros e está a planear investimentos para expandir o parque industrial e aumentar a capacidade produtiva.
O objetivo principal nesta feira passa pela angariação de novos distribuidores, no sentido de alargar a cobertura geográfica. (…) Estamos a negociar a entrada em mercados como o Chile, Canadá, República Checa e Holanda.
Para João Breda, “o objetivo principal nesta feira passa pela angariação de novos distribuidores, no sentido de alargar a cobertura geográfica” deste negócio, através do qual exporta para mais de 20 países nos cinco continentes. “Não é possível medir o impacto direto [da presença na última edição] neste espaço de tempo porque estes processos são morosos. Contudo, podemos adiantar que estamos a negociar a entrada em mercados como o Chile, Canadá, República Checa e Holanda”, indicou o empresário.
Já a Energest, que tem 45 trabalhadores e é especializada em equipamentos e instalações térmicas industriais para vários setores, estreou-se no ano passado na maior feira industrial do mundo, onde “estabeleceu duas parcerias”, mas reconhece que “ainda não concretizou negócios”. E optou por não participar na edição de 2023, tendo preferido “canalizar os recursos para potenciar as parcerias” firmadas e optado por “participar noutros eventos como visitantes”. A empresa da Maia, que tem na Bélgica, EUA e Polónia os melhores mercados de exportação, viu a faturação baixar 2,6% em 2022, para sete milhões de euros.
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90% das empresas fecharam encomendas após Hannover Messe. “Dezenas” de investimentos em carteira
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