Os analistas atribuem um potencial médio de 35% às cotadas do PSI, com as ações da Sonae, BCP e CTT a apresentarem a margem de progressão mais elevada. Dois terços das recomendações são de “compra".
A bolsa nacional está a valorizar há três anos consecutivos e tendo em conta as previsões dos analistas para as cotadas portuguesas, o PSI caminha para mais um ano de retornos positivos, reforçando assim os máximos de dez anos que o índice português atingiu recentemente.
A média dos preços-alvo definidos pelos analistas para cada uma das 16 cotadas do PSI aponta para um potencial médio de 35% para as empresas do índice. Não significa que é este o potencial do PSI, pois cada cotada tem um peso específico no índice, mas sinaliza o otimismo geral dos analistas com a margem de progressão das cotadas portuguesas.
Há mais indicações que comprovam este sentimento positivo dos analistas para a bolsa nacional. Os preços alvo foram revistos numa média de 12% ao longo dos últimos 12 meses e de 5% nos últimos seis meses. Dois terços das recomendações são de “compra” ou “forte compra” (ou ratings equiparáveis). Só uma das 16 cotadas do PSI tem potencial de desvalorização e apenas 10% das recomendações são de venda ou forte venda.
Estas conclusões foram obtidas tendo em conta a análise do ECO às 167 recomendações recentes de analistas que constam na base de dados da Reuters para as cotadas do PSI. A avaliação positiva é quase generalizada, uma vez que os analistas atribuem potencial de valorização superior a 20% e têm recomendações de comprar para mais de metade das cotadas do índice.
“A grande maioria das ações do PSI tem um elevado potencial, na nossa opinião, sendo penalizadas pela pouca liquidez que têm”, referem os analistas da BPI Gestão de Ativos (BPI GA) em declarações por escrito ao ECO, considerando “normal que num mercado menos líquido como é caso do português, quando comparado com os maiores mercados europeus, as ações raramente atinjam os seus targets, não invalidando que tenham potencial de valorização”.
Excluindo as cotadas com menos de três recomendações (Semapa e Ibersol só têm duas), a Sonae, o BCP e os CTT são as empresas do PSI que apresentam o potencial de valorização mais elevado tendo em conta os preços-alvo médios. No polo oposto está a Mota-Engil, com a construtora a ser a única com potencial médio de desvalorização, depois de ter sido a que mais brilhou em 2023 (+238%).
Sonae faz o pleno
A Sonae é considerada por muitos investidores e analistas um importante barómetro do PSI e também da economia portuguesa. Apesar do reforço da internacionalização recente, a grande fatia da atividade é gerada no mercado doméstico. A companhia tem uma gama cada vez mais diversificada de negócios, mas o retalho alimentar continua a ser a principal fonte de receitas.
Apesar deste estatuto, o desempenho das ações não tem acompanhado a evolução do PSI, com a Sonae a marcar em 2024 já o terceiro ano em terreno negativo. Enquanto o índice português vem de três anos de ganhos, a Sonae acumula uma queda de 25% desde o máximo de junho de 2022 e 13% desde que a cotação perdeu a fasquia de 1 euro (julho de 2023).
Apesar do estatuto de “holding” ser penalizador e de a companhia integrar um setor (retalho) que não tem estado entre os favoritos dos investidores, os analistas consideram que a Sonae é a cotada do PSI com o maior potencial de valorização. Entre as cinco firmas de research que acompanham a empresa liderada por Cláudia Azevedo, todas têm recomendação de compra para a cotada. Entre as cotadas com mais de duas recomendações, a Sonae é a única que consegue o pleno nos ratings de “compra”.
A média dos preços-alvo atribuídos por estes cinco analistas é de 1,59 euros, o que implica um potencial de valorização de 82%. Acresce que os analistas têm adotado uma visão mais otimista para a companhia, com o preço-alvo a ser revisto em 8% nos últimos seis meses e 14% no último ano. Mesmo que alcance o preço-alvo médio, a Sonae ficará ainda distante do máximo histórico que atingiu em junho de 2007 perto de 1,9 euros por ação. Poderá, contudo, ultrapassar o pico de abril de 2015 fixado em redor de 1,50 euros.
BCP mantém potencial após brilhar em 2023
Tal como o PSI, o BCP regista três anos seguidos de valorizações, mas os ganhos têm sido bem mais expressivos do que os alcançados pelo índice português. As ações do banco quase duplicaram no ano passado, beneficiando com o impacto da subida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu que impulsionou todo o setor financeiro na Europa e outras geografias.
Apesar de ser provável que os lucros da banca europeia já tenham atingido o pico no ano passado, os analistas confiam que o BCP tem margem para manter a tendência positiva este ano. O preço-alvo médio é de 0,41 euros, o que incorpora um potencial de valorização de 58%. Entre as 11 firmas de research que acompanham as ações do banco, sete recomendam comprar, quatro manter e não há ratings de venda.
O banco liderado por Miguel Maya anunciou esta segunda-feira que os lucros de 2023 cresceram mais de quatro vezes para 856 milhões de euros, o que também ajuda a explicar o desempenho dos títulos. A melhoria nos resultados fica patente na revisão acentuada que os analistas efetuaram à avaliação das ações do BCP ao longo dos últimos anos. O preço-alvo médio subiu 71% nos últimos 12 meses, o que representa o melhor registo entre todas as cotadas do PSI.
CTT com “excelente performance operacional”
As ações dos CTT têm registado um desempenho mais errático ao longo dos últimos anos, mas deixaram claramente para trás o período negativo (entre 2016 e 2020) em que a quebra na atividade obrigou a companhia a alterar de forma substancial a política generosa de pagamento de dividendos aos acionistas. A pandemia representou um catalisador para as ações da empresa dos correios (quase duplicaram em 2021), sendo que 2022 foi ano de correção.
As ações voltaram aos ganhos em 2023 (13,3%) e estão positivas este ano. Os analistas acreditam que há potencial considerável para ganhos adicionais, pois o preço-alvo médio é de 5,28 euros por ação, 45% acima da cotação atual. Entre os seis analistas que seguem a companhia liderada por João Bento, apenas um recomenda “manter”, com os outros cinco a sugerirem “comprar”.
Um deles é o CaixaBank BPI, com um preço-alvo de 5,30 euros. Os analistas da BPI GA, gestora de ativos do mesmo grupo, destacam que o desempenho da ação dos CTT “ignora a excelente performance operacional das encomendas”. O consenso dos analistas aponta para que a empresa de correios tenha registado lucros de 45 milhões de euros em 2023, um crescimento de 23,9% face ao ano anterior, com o EBITDA a aumentar 15,8% e as receitas a subirem 6,1%.
A grande maioria das ações do PSI tem um elevado potencial, sendo penalizadas pela pouca liquidez que têm. É normal que num mercado menos líquido como é caso do mercado português, quando comparado com os maiores mercados europeus, as ações raramente atinjam os seus targets, não invalidando que tenham potencial de valorização.
Grupo EDP com potencial acima de 40%
Depois destas três cotadas que ocupam o pódio das que apresentam maior potencial do PSI, surgem mais empresas com preços-alvo médios bem acima da cotação atual. É o caso da EDP e da EDP Renováveis, ambas com margem para valorizar mais de 40% tendo em conta a média das avaliações dos analistas. Nos, Corticeira Amorim, REN e Altri aparecem de seguida com potencial acima de 20%.
O BPI GA destaca duas destas empresas “às quais reconhecemos potencial e que, por isso, estão refletidas nos nossos portfólios”. A Nos, que “com uma performance operacional excelente em 2023, está com a cotação deprimida pela entrada da DIGI”. E a EDP Renováveis, “a cair bastante neste início do ano pela forte queda dos preços da ‘pool’ em Espanha”.
As ações da Nos desvalorizaram 12,4% em 2023, contrariando a tendência muito positiva da generalidade dos mercados acionistas. A EDP Renováveis afunda 27% em 2024, seguindo a tendência descendente do setor das energias renováveis devido ao impacto das taxas de juro elevadas, que colocaram em causa a rendibilidade de muitos projetos. A EDP Renováveis (-10%) e EDP (-7,4%) destacam-se pela negativa por terem as revisões em baixa mais pronunciadas nas avaliações dos analistas ao longo dos últimos seis meses.
PSI muito longe de máximos históricos
A euforia com a Inteligência Artificial, a perspetiva de cortes de juros em 2024 e a resiliência da economia global (sobretudo a norte-americana) impulsionou uma série de índices acionistas para máximos históricos. É o caso do S&P500 nos EUA, Nikkei no Japão e Stoxx600, CAC e DAX na Europa. Na bolsa portuguesa o pico do mercado está muito distante.
O PSI atingiu em dezembro passado um máximo desde 2014, sendo que para regressar ao pico fixado antes da crise financeira (acima dos 13 mil pontos em julho de 2007) teria mais do que duplicar de valor. O máximo histórico do índice português é ainda mais longínquo. Foi atingido em plena bolha das dotcom (acima dos 14 mil pontos em fevereiro de 2000), sendo que para lá chegar o PSI tem de valorizar 125%.
“Os últimos 25 anos de mercados acionistas globais têm beneficiado de dois fortes ventos favoráveis: a globalização (e o crescimento a ela associado), e a inovação que tem vindo a transformar o mundo também na sua vertente macroeconómica”, refere Fernando Castro e Solla. O partner da consultora de investimentos Baluarte salienta que setores como energia ou cuidados de saúde, “outrora com um peso determinante em índices como o S&P500, foram substituídos por setores ligados à tecnologia e ao consumo discricionário”, o que “tem permitido a esses índices romper sucessivos recordes históricos de valorização com diferentes lideranças a cada momento”.
“No caso do PSI isso não se tem verificado”, destaca Fernando Castro e Solla, considerando que o índice português terá “muita dificuldade” em regressar a máximos históricos. “Desde logo porque a cultura empresarial portuguesa continua mais ligada à banca do que ao mercado de capitais quando se trata de obter financiamento ou capital adicional”. E também porque o “país não tem sido capaz de gerar projetos com dimensão nas áreas de ponta que têm liderado as bolsas mundiais, como por exemplo o de tecnologia ou o de consumo discricionário”.
Destacando o “elevado potencial” das ações do mercado ibérico, os analistas do BPI GA assinalam que para os índices dos dois países fazerem melhor do que os seus congéneres europeus, a banca e utilities têm de registar um desempenho superior ao mercado, uma vez que estas cotadas têm um elevado peso nos índices. “Num ano em que o setor tecnológico tenha um desempenho extraordinário, é impossível o mercado Ibérico acompanhar esta performance”, referem os analistas da gestora de ativos.
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Analistas veem cotadas do PSI a valorizar 35%. Sonae, BCP e CTT têm maior potencial
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