Da Tesla na Coreia do Sul para a EVA em Lisboa. O talento que a Techstars trouxe para Portugal

Lançado no ano passado, a primeira edição do programa de aceleração da Techstars com a Semapa conquistou estrangeiros de todo o mundo. Alguns ficam por cá.

Olivier Le Lann perdeu a conta ao número de pessoas com quem falou durante os três meses que durou o programa de aceleração. A ideia de criar a EVA nasceu em Seoul, na Coreia, quando o francês estava responsável pela entrada da Tesla no mercado sul-coreano. Na bagagem levava já muita experiência, tanto em grandes como em pequenas empresas, mas também a ambição de criar uma coisa própria.

“Já tínhamos os olhos em Portugal há algum tempo, mas o programa da Techstars foi o gatilho para fazê-lo acontecer. Encontrámos muito bom ambiente de trabalho, acesso a ótimos engenheiros, mas também uma oportunidade, em termos de investimento, de criar uma startup de maneira mais económica do que em Londres ou em Paris”, explica Le Lann, ao ECO.

A empresa de Le Lann foi uma das nove estrangeiras (entre dez no total) que integraram a primeira edição do programa de aceleração da Techstars e da Semapa Next, lançado no ano passado, em Portugal. A escolha de Lisboa por um dos maiores aceleradores de startups a nível mundial foi baseada, tanto no número de investimentos que a Techstars já tinha em Portugal (casos da Attentive, DoDoc, Sensei, Habit Analytics, entre outros) e na presença do Web Summit como no facto de Lisboa atrair, só por si, empresas de todo o mundo.

“Parte dessa atratividade tem a ver com o facto de as empresas saberem que, querendo continuar cá, podem fazê-lo”, analisa Hugo Augusto, gestor do programa de aceleração da Techstars em Portugal. Empreendedor português nos Estados Unidos, Hugo voltou para Portugal há exatamente dois anos, em julho de 2017. A oportunidade de gerir o programa em Portugal surgiu mais ou menos ao mesmo tempo.

Hugo acredita que o país tem vários fatores de atração que “convencem” os estrangeiros a mudarem-se e, eventualmente, até a ficarem por cá. “Pensámos desde o início que Portugal é um hub que está a crescer muito rápido na área tech e que, por isso, é muito atraente para construir startups globais. E por isso fazia sentido para usar Lisboa como fator de atração”, explica, em entrevista ao ECO.

“Temos clientes locais e vamos lançar um programa, este verão, no norte de Portugal, para monitorizar as florestas, alertar para o caso de incêndios e também combatê-los através da nossa tecnologia”, esclarece.

Pensámos desde o início que Portugal é um hub que está a crescer muito rápido na área tech e que, por isso, é muito atraente para construir startups globais.

Hugo Augusto

Diretor do programa da Techstars em Portugal

Da Ásia para Lisboa

“Somos quatro cofundadores vindos da Ásia e da Europa e com largo background em empresas, mas também com vasto conhecimento sobre o que é uma startup. Lancei, por exemplo, empresas europeias, americanas e japonesas em mais de 20 países. O meu desafio pré-EVA foi lançar a Tesla na Coreia do Sul”, conta Le Lann, em entrevista ao ECO. A startup de que é responsável está a dar os primeiros passos, mas isso não faz com que o empreendedor pense pequeno. A tecnologia que a empresa desenvolve está relacionada com entregas de bens do ponto A ao ponto B. Além de uma uma aplicação a EVA desenvolveu a própria aeronave — apresentada em primeira mão no demo day do programa, data de apresentação dos projetos finais aos investidores e restante comunidade. “Retiramos a incerteza na entrega de bens do ponto A ao ponto B. Enviar bens sem o stress do trânsito e outros eventos adversos nunca foi tão fácil”, explica, sobre a missão da empresa.

A ideia surgiu ainda em Seoul quando o empreendedor percebeu que, mesmo tendo um “veículo elétrico fantástico, continuava a ficar preso no trânsito.” “Era preciso voar para lhe fugir, em vez de estarmos a aumentar o trânsito na terra”, conta. Agora, já em fase final de desenvolvimento, a equipa fixou-se na margem sul do Tejo. “Estamos agora pelo Seixal a preparar a nossa operação comercial, e a desenvolver features adicionais. A equipa está a crescer depressa e temos cinco posições abertas para engenheiros, neste momento”.

Olivier Le Lann lançou a Tesla na Coreia do Sul antes de se mudar para Lisboa para criar a EVA.D.R.

Indra den Bakker, CEO e cofundador da 20tree.ai, por outro lado, mudou-se para Lisboa em 2017 para fundar a sua startup. “Vimos alto potencial em começar a nossa empresa em Lisboa. Tem todos os ingredientes para se tornar uma das cidades europeias líderes, e queríamos fazer parte desse processo. Além disso, o ótimo clima, a comida, as pessoas e a beleza da cidade tornou a escolha fácil para nós”, conta o holandês, em conversa com o ECO. A startup, fundada por Indra e pelo sócio Anniek Schouten, também holandês, combina imagens de satélite com machine learning para criar informação — inteligência — sobre o planeta. “Por exemplo, dados sobre a quantidade e a qualidade das florestas: que espécies de árvores existem um pedaço de floresta e qual é a sua biomassa? Que ameaças como infestações de árvores, desflorestação ou extrema seca existem em determinado local?”, exemplifica o fundador. A equipa montada em Lisboa integra cinco pessoas, quatro holandeses e um português.

“Depois de três meses no programa, estamos ainda no início. Nos próximos meses vamos continuar a acelerar a 20tree.ai. Estamos neste momento a integrar novos clientes e a trabalhar em contratos a longo prazo. Além disso, vamos continuar a fazer crescer a equipa para desenvolver novas ferramentas e entrar noutros mercados”, acrescenta.

Também Paul Martin, CEO e fundador da tagSpace, viu no programa da Techstars e da Semapa uma oportunidade para expandir o seu negócio. Fundador a solo da sua startup, Paul cresceu em Londres, estudou ciências computacionais em Manchester, mudou-se para Vancouver, no Canadá, em 1996, para trabalhar em videojogos, vendeu a empresa e mudou-se para a Austrália. “O programa em Lisboa ajudou-nos realmente a trazer a nossa empresa para a Europa. E, além do programa, Portugal foi uma escolha natural também pelas indústrias de festivais de música e turismo, que são segmentos perfeitos para o nosso negócio”, conta. A startup que a Techstars e a Semapa ajudaram a acelerar fornece aos clientes soluções para criarem experiências de realidade aumentada em determinadas localizações.

“Oferecemos uma nova maneira de gerar faturação, agregando valor e envolvimento dos utilizadores”, explica, acrescentando que os seus clientes-alvo são grandes eventos de experiências turísticos, festivais de música ou outros grandes aglomerados de gente. “Ajudamos as pessoas a fazer o que não conseguem com um mapa: guiamo-las no meio das multidões, agregados informação em tempo real — como informação de filas de espera em cada localização”.

Mercado: Lisboa. Mentores: do mundo.

Lisboa não foi a única razão de atração, nem para a Techstars nem para as startups aceleradas. Se entre as dez, nove são estrangeiras, entre os fundadores não houve, na primeira edição, um único português.

“Tirámos valor acrescentado deste acelerador em aspetos muito variados. A mentoria foi muito útil, tanto no desenho da nossa estratégia a curto como a longo prazo. Os workshops e as sessões one-to-one ajudaram no processo de escalar o negócio, não apenas agora como no futuro. A rede internacional pôs-nos em contacto com a pessoa certa, em todo o mundo. Pessoalmente, também teve a ver com as pessoas. A atitude de ‘dar primeiro’ inspirou-me e trabalhar lado a lado com startups de todo o mundo, e especialmente as pessoas atrás destas startups, foi uma experiência ótima”, assinala Indra. Oliver concorda: “Sobretudo a mentoria. Recebemos conselhos de mais de 100 mentores que nos ajudaram a pivotear a nossa estratégia, tornando-nos mais eficientes. Em segundo lugar, recebemos fundos durante o decorrer do programa. E finalmente, a Techstars é uma rede de contactos para a vida, e as startups ajudam-se muito umas às outras.”

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