Fed prepara mais um corte de 25 pontos base na taxa de juro (e não deverá ficar por aqui)

A Reserva Federal dos EUA deverá seguir as expectativas do mercado, cortando as Fed Funds pela segunda vez este ano para o intervalo 4,5%-4,75%, apesar da vitória de Trump adicionar alguma incerteza.

Na expectativa de mais um corte na taxa de juros pela Reserva Federal norte-americana (Fed) na reunião do Comité de Política Monetária marcada para esta quinta-feira, os analistas e os investidores antecipam um novo ajuste de 25 pontos base das Fed Funds. Segundo a ferramenta CMEFedWatch, a probabilidade de isso acontecer é de 99,1%.

A confirmarem-se estas previsões, este será o segundo corte realizado pela Fed este ano, após o “corte jumbo” de 50 pontos base em setembro (e também não deverá ser o último). Este movimento, já praticamente descontado pelos mercados, reduzirá as Fed Funds para o intervalo de 4,5% a 4,75% e acontece um dia depois da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA.

Para Jerome Powell, presidente da Fed, a vitória de Trump não é um pormenor. Desde logo por saber-se que o futuro presidente dos EUA está longe de ser um defensor de Powell e da sua política, tendo por várias ocasiões criticado publicamente o líder da Fed e já anunciado que não irá apoiar um segundo mandato de Powell, cujo mandato termina em maio de 2026. Além disso, é também esperado que muitas das políticas económicas de Trump possam pressionar ainda mais a inflação, influenciando assim a Fed a adotar uma posição mais cautelosa na gestão das taxas de juro.

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Michael Krautzberger, diretor de investimento global em obrigações na Allianz Global Investors, sublinha que “o resultado das eleições nos EUA poderá ser o fator decisivo na valorização de mercado do ciclo de flexibilização da Fed em 2025″, destacando ainda a expectativa de uma volatilidade acrescida nos mercados obrigacionistas.

Para Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Management, a dificuldade de Powell e dos seus colegas na Fed não passará pelo corte ou não das Fed Funds esta quinta-feira, tal como é largamente antecipado pelo mercado, mas sim em relação aos próximos passos que o Comité de Política Monetária da Fed dará nas próximas reuniões, como resultado dos efeitos esperados na economia geradas pelas políticas económicas que Trump promete colocar em prática.

“Se tivermos um impulso no crescimento da economia devido a um ambiente empresarial mais favorável e a uma política fiscal mais flexível, e se também tivermos uma subida da inflação devido a uma redução dos impostos e à deportação de imigrantes ilegais que impulsionará a subida dos salários, diria que estes argumentos sustentam a ideia da Fed não vir a reduzir tanto quanto os dados nos estão a indicar neste momento”, referiu Torsten Slok em entrevista à Bloomberg na quarta-feira.

Razões que sustentam corte das taxas

O mais que esperado corte de 25 pontos base das taxas de juro por parte da Fed é sustentado por uma combinação de fatores económicos e sociais. Desde a última reunião em setembro, os dados económicos dos EUA mostraram sinais de desaceleração em áreas críticas como o emprego e a inflação, apesar do crescimento económico manter-se razoavelmente robusto.

Segundo os dados mais recentes divulgados pelo Departamento do Comércio, a inflação nos EUA caiu para 2,1% — muito próximo da meta de 2% estabelecida pela Fed. No entanto, a pressão inflacionária ainda persiste em certos setores, como a saúde e a manutenção de veículos, o que obriga a Fed a uma abordagem cautelosa.

Gregory Daco, economista-chefe da EY, escreveu numa nota de 31 de outubro que “o crescimento contínuo dos preços e dos salários juntamente com o forte crescimento da produtividade deverá favorecer uma recalibração gradual da política da Fed com um corte de 25 pontos base após as eleições”, reiterando que a Fed tem agora uma confiança crescente na sua capacidade de controlar a inflação sem uma política monetária excessivamente restritiva.

A vitória de Donald Trump nas recentes eleições presidenciais implicará uma natural revisão nas políticas económicas, o que poderá colocar pressão adicional sobre a política monetária da Reserva Federal norte-americana porque muitas dessas políticas têm potencial para impulsionar a inflação. EPA/DAVID MAXWELL

Gregory Daco projeta cortes adicionais de 25 pontos base em cada uma das cinco reuniões agendadas até junho de 2025, com as Fed Funds a atingirem um nível de 4,4% até dezembro este ano e 3,4% em junho de 2025. Na quarta-feira, a ferramenta CME FedWatch atribuía uma probabilidade de 67% da Fed voltar a cortar em 25 pontos base as taxas de juro na última reunião do ano (18 de dezembro) e uma probabilidade de de 33% desse corte ser de 50 pontos base.

No entanto, a trajetória de cortes dependerá da evolução da inflação e das condições de crédito que se mantêm relativamente restritivas. Michael Krautzberger acredita que a Fed mantém uma visão prudente, preparando-se para um “steepening” da curva de rendimentos, o que indicaria uma aposta na extensão da flexibilização em resposta à incerteza económica e política pós-eleitoral. “O cenário macroeconómico e político continua a favorecer uma estratégia que beneficia de um steepening da curva de rendimentos dos EUA nas carteiras”, explica o especialista da Allianz Global Investors.

A BlackRock também antevê uma redução das taxas de juro esta quinta-feira, mas defende que a força dos dados recentes sobre emprego e salários, incluindo as atualizações da semana passada, deverá levar o banco central a não reduzir tanto as taxas para os níveis que os mercados esperam. “Acreditamos que os investidores estão a ver as mudanças estruturais através das lentes de um ciclo económico típico, o que está a causar volatilidade no mercado”, escreve Jean Boivin, responsável pelo Instituto de Investimento da BlackRock, numa nota de 4 de novembro.

Impacto no mercado e expectativas para o futuro

Apesar do clima de confiança em futuros cortes das taxas de juro, alguns economistas alertam que uma desaceleração económica maior do que o esperado em 2025 poderá abrir espaço para cortes mais agressivos por parte da Fed. Uma análise da BMO Economics refere que, embora as condições de crédito restritivas não sejam o fator dominante, elas contribuem para a necessidade de uma flexibilização monetária, dada a sua influência na contratação e na criação de emprego. “As condições de crédito ainda estão apertadas,” comenta Scott Anderson, economista da BMO, citado pela Reuters.

A vitória de Donald Trump nas recentes eleições presidenciais implicará uma natural revisão nas políticas económicas, o que poderá colocar pressão adicional sobre a política monetária da Reserva Federal norte-americana porque muitas dessas políticas têm potencial para impulsionar a inflação.

No entanto, qualquer sinal de aumento acelerado dos preços pode alterar a trajetória de queda das taxas de juro, forçando a Fed a reconsiderar futuros cortes, uma vez que a estabilidade da inflação é uma das prioridades do banco central dos EUA. Apesar desses riscos, David Mericle, economista sénior do Goldman Sachs, indica que não antecipa “revisões significativas na declaração do FOMC ou orientações sobre as reuniões futuras”.

A Fed deverá continuar a mostrar uma forte determinação em apoiar o crescimento económico, mas deixando sempre margem para alguma prudência. A pressão para evitar uma “aterragem brusca” em 2025 está a moldar uma política que visa prevenir um aumento excessivo do desemprego, ao mesmo tempo que Powell e os seus colegas se mantêm vigilantes quanto aos sinais de inflação, que deverá ser pressionada com as políticas de Trump. Porém, para já, e pelo menos para esta quinta-feira, poucas novidades são esperadas que não seja um corte de 25 pontos base altamente antecipado pelos investidores e pelo mercado.

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