2025 e a grande transição
À Europa caberá gerir equilíbrios necessários na diplomacia e reposicionar-se de forma a proteger os principais valores fundacionais. Ficar de fora, sem estratégia própria, não pode ser opção.
O ano de 2024 trouxe enormes desafios em várias frentes, e 2025 promete continuar no mesmo caminho, que é o de uma grande transformação social, geopolítica e económica. Temos visto vir ao de cima nos últimos tempos tendências que muito provavelmente marcarão o mundo por várias décadas. O momento que vivemos na sociedade pode ser descrito como uma versão dos novos “loucos anos 20” do século XXI, marcados não só pelas muitas transformações rápidas na indústria, na tecnologia, mas também nos hábitos e padrões da sociedade.
E muitos novos desafios às democracias ocidentais, e ao posicionamento do futuro das mesmas face a uma série de variáveis que precisam de ser enfrentadas e sobre as quais urgem respostas numa década que é de enorme transformação. E para a Europa, e consequentemente para Portugal, o tempo está a passar muito rapidamente e são de elevada monta.
Numa primeira reflexão, dizer que 2024 foi rico em eleições, e estas ditaram que existem novas regras no tradicional jogo geopolítico, e que podem afetar a forma como o comércio internacional funciona. As eleições norte americanas ditaram uma presidência republicana que promete um corte significativo nas relações transatlânticas em termos comerciais, naquele que promete ser um regresso a uma agenda de maior protecionismo global. A principal cortina de ferro comercial dos Estados Unidos é com a China, e pode acelerar nos próximos anos – um quadro de tarifas que ascendam a 60% sobre as importações chinesas tem potencial para reduzir de forma muito significativa o comércio entre as duas grandes potências.
No entanto, estas novas regras do jogo, também podem afetar a União Europeia, sobretudo se forem impostas tarifas de entre 10% a 20% sobre todas as importações. De acordo com números de alguns analistas como banco Goldman Sachs as novas regras, podem ter um impacto negativo de 1,1% no produto interno bruto (PIB) real em todo o continente europeu, o que deixa a entender que o eixo transatlântico perdeu de forma significativa a relevância que teve nas últimas décadas – e isso é sem dúvida uma mudança estrutural geopolítica no novo modelo de jogo global, ao qual a União Europeia, terá de encontrar forma rápida de se adaptar.
Numa segunda linha, é importante salientar o quanto o mundo está a mudar em termos de tecnologia, e o que isso implica em termos de impacte na vida das pessoas. A implantação da inteligência artificial pode trazer benefícios crescentes para indústrias além da tecnologia, e deverá começar a ter sérios efeitos nas economias, sobretudo as desenvolvidas. De acordo com um relatório da PWC, a economia global pode crescer mais 14% até 2030, por via do impacte das inovações relacionadas com Inteligência Artificial, que se espera que possam ter forte influência muito assinalável na produtividade do trabalho qualificado – algumas estimativas indicam que pode melhorar a produtividade até em 40%.
As economias que podem beneficiar mais são China e Estados Unidos, enquanto a União Europeia também encontrará neste campo, um enorme desafio e que o relatório publicado por Mario Draghi alerta. A Europa está a perder a corrida do século XXI em termos de inovação tecnológica, e com isso, arrisca se a tornar-se irrelevante nas próximas décadas.
Por fim, importa deixar uma palavra sobre como 2025, pode acabar por representar o ano da oportunidade. As boas noticias são que a guerra à inflação estará vencida, e com custos económicos controlados, deixando a entender que o pior já passou. Contudo, as incertezas de cariz geopolítico persistem e continuarão a marcar, pelo menos o primeiro terço de 2025. Os conflitos na Europa e no Médio Oriente não parecem ter solução fácil à vista, é verdade, mas também o é que o ciclo de transformação tem permanecido relativamente imune aos fatores geopolíticos nas últimas décadas.
À Europa caberá gerir os equilíbrios necessários no campo da diplomacia e reposicionar-se de forma a proteger os principais valores fundacionais, enquanto terá de encontrar forma de dinamizar e capitalizar para si, um dos maiores ciclos de transformação da história. Existem novas regras, é um facto, mas ficar de fora, sem estratégia própria não é, nem pode ser opção.
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