A história de Pedro, o esquerdacho fofinho
O novo presidente do Peru quer perseguir imigrantes e refugiados, repor a pena de morte, nacionalizar os setores estratégicos e construir uma sociedade socialista.
Imaginem um líder político que anuncia que irá expulsar do país os delinquentes estrangeiros (ou seja, perseguir imigrantes e refugiados) e lançar o serviço militar obrigatório para jovens desempregados (ou seja, obrigar jovens mais pobres a trabalhar para o estado). Por esta altura a ala da direita “não gosto do Chega, mas”, que desata numa choradeira à mínima crítica, já deve estar de kleenex em punho. Podem guardar os lencinhos para outra ocasião que, embora pareça, não é sobre a vossa florzinha de estufa que escreverei hoje. Escrevo antes sobre o novo presidente do Peru, Pedro Castillo, que no seu discurso de tomada de posse anunciou que os delinquentes estrangeiros tinham 3 dias para sair do país e que pretende repor o serviço militar obrigatório para jovens desempregados.
Para além destas medidas anunciadas na tomada de posse, Pedro Castillo quer também repor a pena de morte, manter ilegal o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o aborto. Um leitor menos atento que tenha sabido que houve uma competição apertada nas últimas eleições peruanas entre candidatos de extrema-esquerda e de extrema-direita até poderia ficar com a sensação que ganhou a extrema-direita. Esse leitor já estará a contar as horas para uma manifestação da esquerda portuguesa contra o novo líder peruano.
Mas não. A eleição de Pedro Castillo foi saudada pelo secretariado do Bloco de Esquerda em comunicado no dia 11 de junho e o jornal Avante também lhe dedicou vários artigos. De onde vem todo este amor? É que para além de ser um ultramontano, Pedro Castillo também quer nacionalizar os sectores estratégicos e construir uma sociedade socialista, sendo inspirado pelo regime venezuelano. Aliás, a intenção da reposição do serviço militar obrigatório passará por utilizar jovens desfavorecidos para criar milícias armadas capazes de proteger a construção de uma sociedade socialista.
As lições destas reacções para a política nacional são claras. Todas aquelas causas sociais que a esquerda acena e trata como suas, até podem estar a ser defendidas de forma genuína, mas são secundárias no seu projecto político. Servem o propósito de sinalizar virtude para obter apoio político entre algumas faixas da população, mas não são uma prioridade ideológica e ainda menos um factor proibitivo na altura de escolher aliados políticos. A prioridade ideológica é só uma: a submissão económica do país ao seu modelo centralizado e autoritário. A segunda lição aqui é para o Chega (podem ir lá buscar os lencinhos que guardaram há pouco). Ventura agora sabe que se não se conseguir encavalitar na direita para obter os tachos que anda a pedir há meses, bastará exigir umas nacionalizações e cantar a Internacional para ser recebido de braços abertos numa geringonça de esquerda. Se encontrar objeções, bastará dizer que é o Castillo português e logo será recebido de braços abertos.
Espero que os partidos de esquerda venham a provar que estas conclusões estão erradas e façam uma oposição cerrada a Pedro Castillo (e os de direita também, já agora). No meio de toda esta luta ideológica estão pessoas. Entre estas pessoas, está um grupo particularmente afectado: os refugiados venezuelanos. Estas pessoas fugiram da miséria de um regime socialista apenas para acabarem governados por uma pessoa apoiada por esse mesmo regime que os trata como delinquentes e os quer expulsar do país. Para os heróis da revolução socialista, as pessoas são um dano colateral no caminho para o paraíso. Se mais exemplos faltassem, aqui está outro.
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