Debates & Presidenciais

Os debates têm de ter um conteúdo político mínimo. Um conteúdo político que se desdobra e multiplica em opiniões políticas que convergem numa visão política do país.

As Presidenciais entram na temporada dos debates. Uma temporada longa de vinte e oito confrontos entre muitas ilusões e poucos ideais. Existe a convicção de que os debates são o modo de se conhecer o carácter dos candidatos e chegar à alma da democracia. Existe também a percepção de que os debates são uma entrevista de emprego envolvida pelo ritual político das convenções da República. Existe ainda a visão de que os debates são um “teatro político” onde se mente em nome da verdade. Seja qual for a opção, os debates para terem impacto na disputa eleitoral têm de ter um conteúdo político mínimo – Um conteúdo político que se desdobra e multiplica em opiniões políticas que convergem numa visão política do país. Os debates têm de ser três vezes políticos – Políticos no pensamento, políticos no discurso, políticos nas propostas.

Neste momento em que as entrevistas e as digressões pelo país mostram a debilidade das ideias políticas e o vocabulário limitado dos candidatos, os debates curtos e incisivos arriscam uma aproximação à lógica do speed dating – A formatação dos debates em torno das propostas que os portugueses mais querem ouvir. É a lógica superficial da captação da boa vontade nacional. É o confronto de personalidades em busca do candidato que mais se aproxima da simpatia do eleitor ideal que se toma como representante do interesse nacional. Recorde-se a clássica formulação de que “o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um votante normal”.

As notas atribuídas pelos comentadores são o barómetro do país real no confronto de personalidades. Mas haverá ideias para vinte e oito debates? Haverá certamente a lógica do tema e das variações em função de cada adversário e do eleitorado em disputa. Na exigência mínima do entretenimento, a sequência dos debates tem de ter a lógica de uma série de ficção em formato concentrado. A série política dos debates presidenciais tem de oferecer suspense e emoção, mas arrisca a demonstração de um enredo centrado na previsibilidade das personalidades e na rotina das propostas políticas.

A série dos debates presidenciais apresenta uma particularidade que merece uma avaliação política – A ausência de um Presidente em busca do segundo mandato. Em termos políticos, a ausência de renovação de mandato representa o fim de um ciclo e o início de novo ciclo. Os debates não têm um centro a partir do qual a contestação das ideias políticas pode surgir com um módico de ordenação. A realidade dos debates inicia-se com uma galáxia de candidatos à procura de um novo centro para um novo ciclo. Esta necessidade política exige dos candidatos toda uma estratégia política para distinguir entre os adversários episódicos e os rivais estruturais. Este será o fundamento mais político a marcar a cadência e o argumento dos debates.

Logo teremos duas categorias de candidatos. Primeiro, os pretendentes que têm uma probabilidade elevada de passar à segunda volta da eleição presidencial. Depois, os aspirantes que representam extensões ideológicas de posicionamentos políticos que apenas querem fixar o eleitorado partidário, e por extensão, ganhar peso de negociação para uma segunda volta. Teremos assim um núcleo duro de candidatos e um conjunto de candidatos-cometa que não representam nada nem ninguém em termos nacionais para além do sectarismo fechado de uma lógica política marcada por causas marginais e por indignações universais.

Neste cenário, os debates vão demonstrar aos portugueses que embora a oferta política pareça ser extensa e plural, a mesma oferta política é uma coincidência de candidatos presidenciais com a incidência de candidatos fictícios a uma imaginária função presidencial. Se os debates cumprirem a função que se pretende, os debates vão permitir identificar definitivamente os protagonistas do próximo ciclo político e distinguir os figurantes políticos de oportunidade.

O monólogo das declarações isoladas já estabelece uma certa ordem natural das coisas que os debates poderão definitivamente confirmar. Mais importante seria se os debates presidenciais tivessem a virtude de introduzir uma nova perspectiva das eleições para Belém, revelando a natureza incerta da política e a permanente capacidade para surpreender.

Entre o Almirante e o Populista, na divergente convergência ao Centro, na convergente divergência à Esquerda, entre a Nova República e o Velho Regime, os debates podem ser uma série política pós-moderna e pós-cristã onde se discutem com variações o tema do Dilúvio e da Arca de Noé.

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