DORA: Guia Prático para Empresas de Mediação e Corretagem de Seguros em Portugal
Susana Wichels, doutorada em Novas Tecnologias pela Universidade de Coimbra e Co-CEO da C1 Broker, traçou um mapa rápido de tudo o que é necessário para cumprir com o DORA e beneficiar no processo.
O setor financeiro e de seguros encontra-se no centro da revolução digital. Com esta transformação, aumentam também os desafios no que toca à segurança das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Em resposta a estas necessidades, a União Europeia lançou o Digital Operational Resilience Act (DORA), uma regulamentação que redefine os padrões de cibersegurança e resiliência digital.
Como Co-CEO da C1 Broker, corretora internacional de seguros, membro da APROSE e da Aunna, reconheço a importância de aplicar estas normas para proteger as operações e a confiança dos nossos clientes. No presente artigo, partilho uma visão prática de como empresas de mediação e corretagem de seguros podem implementar o DORA, garantindo resiliência e conformidade regulatória.
O Que é o DORA?
O DORA estabelece um quadro normativo robusto para gerir os riscos tecnológicos no setor financeiro e de seguros. Através de seis pilares fundamentais — Governança, Gestão de Riscos nas TIC, Reporte de Incidentes, Testes de Resiliência Operacional Digital, Gestão de Riscos de Terceiros e Partilha de Informações —, o regulamento promove a criação de sistemas resilientes que previnem e mitigam ciberameaças.
Num contexto onde 21% dos ciberataques globais visam o setor financeiro e de seguros, como revela o último relatório do CERT.PT, a implementação do DORA é mais do que uma obrigação; é uma necessidade estratégica.
A Ameaça do Cibercrime no Setor Financeiro
Os cibercriminosos tornaram-se cada vez mais organizados e sofisticados. Ataques como phishing, ransomware e violação de dados são comuns, explorando falhas tecnológicas e humanas. De acordo com dados recentes, 71% dos ataques cibernéticos a empresas resultaram do uso de credenciais roubadas de colaboradores.
No setor de seguros, o impacto de um ciberataque pode ser devastador: perda de dados sensíveis, interrupções operacionais e danos à reputação. Como mediadores e corretores, a nossa responsabilidade vai além da conformidade; devemos proteger os interesses dos nossos clientes.
Como Aplicar o DORA na Prática
1. Governança: Liderança Responsável
- Estabeleça um Comité de Riscos Tecnológicos para monitorizar continuamente as ciberameaças e reportar ao órgão de administração;
- Forme administradores e colaboradores sobre gestão de riscos TIC e resiliência digital, com simulações regulares de ciberataques;
- Adote o modelo Zero Trust, garantindo que todos os acessos a sistemas são autenticados e monitorizados.
2. Gestão de Riscos nas TIC: Mapear e Monitorizar
- Crie um quadro de gestão de riscos documentado e abrangente, integrado no sistema global de gestão;
- Implemente sistemas de monitorização contínua, com alertas automáticos para atividades suspeitas;
- Teste e atualize os planos de continuidade de negócios anualmente, envolvendo todas as funções críticas.
3. Reporte de Incidentes: Comunicação Eficaz
- Desenvolva um processo simplificado para registo de incidentes, com relatórios iniciais, intermédios e finais enviados à ASF;
- Adote os modelos padronizados de notificação fornecidos pelas Autoridades Europeias de Supervisão;
- Estabeleça um plano de comunicação interna para garantir que os incidentes graves chegam rapidamente ao conhecimento da administração.
4. Testes de Resiliência: Preparação Contínua
- Realize testes de penetração motivados por ameaças em sistemas críticos, simulando ataques reais;
- Organize exercícios de simulação de crise para avaliar a resposta a ciberataques ou falhas de sistemas;
- Avalie regularmente a resiliência dos seus fornecedores de TIC, incluindo auditorias e testes conjuntos.
5. Gestão de Riscos de Terceiros: Supervisão Ativa
- Mantenha um registo detalhado de contratos com fornecedores, incluindo subcontratações;
- Realize avaliações de risco de concentração antes de assinar novos contratos;
- Exija que os fornecedores críticos cumpram as recomendações das autoridades de supervisão.
6. Partilha de Informações: Cooperação e Transparência
- Formalize acordos de partilha de informações com outros mediadores e corretoras, promovendo uma rede de colaboração;
- Estabeleça um canal dedicado para receber e atuar sobre alertas da ASF e outras autoridades;
- Participe em fóruns de cibersegurança, como os promovidos pelo Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS).
Conclusão
A implementação do DORA não deve ser encarada apenas como uma obrigação regulatória, mas como uma oportunidade para reforçar a confiança dos clientes e a resiliência das empresas. Acreditamos que práticas proativas de cibersegurança são essenciais para proteger o setor de seguros em Portugal.
Investir em tecnologia, formação e estratégias robustas são passos fundamentais para garantir que estamos preparados para os desafios digitais do futuro.
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