E se o novo normal for a “Green Prescriptions”?
Os tempos continuam incertos. Vivemos de “E se…?”. E entre os futuristas esta semana o tema era “E se os médicos prescreverem a natureza como prescrevem um medicamento?”
Cruzei-me com o tema. Como me cruzo com tantos outros. Mas entre novas vagas, um vírus que nos volta a obrigar ao confinamento, aos números que nos causam angústia, foquei-me na ideia do “E se…”. E se o futuro como alguns já apontam for mais justo, mais saudável e mais verde, daquele que tínhamos antes da pandemia? Como questionaram esta semana Henry & Rohit, os autores do livro Future Normal. É neste pensamento, ou se quisermos nesta tendência, que alguns futuristas estão a trabalhar.
Em 1859, o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen cunhou o termo “friluftsliv”, juntando as palavras livre, ar e vida. Desde então, os países nórdicos adotaram o conceito, traduzindo-o para um conhecido e admirado “outdoor lifestyle”. Só na Suécia, mais de 2 milhões de pessoas são membros dos conhecidos 9 mil clubes dedicados a atividades ao ar livre, que um terço dos suecos pratica pelo menos uma vez por semana. “We all need nourishment for our psyche. It is impossible to find such nourishment in urban tenements without a patch of green or a blossoming tree. We need a relationship with nature.” como escreveu o famoso psiquiatra suíço Carl Jung.
A tendência “Green Prescription” como agora lhe chamam traz semelhanças com o “Forest Bathing”, uma tendência no roadmap para 2021, ainda que identificada já há alguns anos por investigadores japoneses da Chiba University, o chamado efeito “shinrin-yoku”. E podia continuar a elencar investigações e projetos sobre os benefícios destes banhos de natureza.
A razão de voltar como grande tendência para 2021 é simples. Apesar dos benefícios, as nossas vidas continuam concentradas nas cidades e o mundo é cada vez mais urbano, sendo que passamos em média 90% do nosso tempo indoor. E também é curioso ver que tudo isto acontece num contexto em que cresce a procura por produtos e serviços ligados à nossa saúde e bem-estar. Andamos confusos ou talvez a precisar de um banho de realidade.
No Reino Unido, como estratégia de recuperação da pandemia, o Britain’s National Health Service está a trabalhar uma iniciativa de aumentar a “green social prescribing”, com um investimento de 4 milhões de libras, e um projeto piloto de dois anos, que tem como objetivo melhorar a saúde mental: “including a Scottish program allowing doctors to prescribe walking in the fresh air; doctors in Manchester that prescribed plant care and gardening for patients suffering from anxiety, depression and loneliness”, contam Henry & Rohit.
Tal como já escrevi aqui, a pandemia foi um acelerador de tendências e também o foi neste tema ligado à saúde mental. Para além do Reino Unido, há outros países já com projetos semelhantes, na Dinamarca, por exemplo, foi criada o Kulturvitaminer, a vitamina cultural que oferece arte e cultura a desempregados que sofrem de depressão ou stress.
Remédio. Medicina Preventiva. O tema está em tantos relatórios para além do livro que me inspirou no texto. E pode fazer-nos pensar – a nós indivíduos e às empresas, quando se diz que tudo está a mudar, desde a forma como nos ligamos à nossa casa; aos escritórios do futuro. A pandemia acelerou a procura de casas com espaço exterior, e na sede da Amazon, em Seattle, foi construída a The Spheres, com mais de 40 mil árvores e plantas, vindas de 30 países.
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