Já começou a campanha de desinformação sobre as vacinas

Já há mais mentiras sobre as vacinas do que cidadãos vacinados. E o panorama só vai piorar.

Depois dos ciclos eleitorais, os temas das campanhas de desinformação mudaram de tema passaram a concentrar-se nas vacinas contra o Covid-19. Dentro e fora do país, há muitos interessados numa crise prolongada – e estes beneficiam de um processo de vacinação lento que semeie dúvidas junto da população. Rússia e China, os principais atores destas campanhas, têm interesses comerciais. Mas também têm um interesse genérico em destabilizar as sociedades democráticas. Com o que se tem visto na Europa de Leste e na América Latina, o padrão começa a ser claro: quando há hipótese de convencer os países a comprar vacinas russas, os meios de desinformação comandados pelo Kremlin espalham mentiras sobre as vacinas europeias e promovem as suas próprias; se por acaso os países recusam e optam por vacinas de fabrico ocidental, as campanhas de desinformação são reforçadas para criar desconfiança sobre a vacina.

Quer o Facebook quer o Twitter têm de bloquear rotineiramente campanhas com origem na China e na Rússia que visam apenas fomentar a desinformação nas sociedades democráticas. Mas não chega. Mesmo que o queiram fazer de forma sistemática, os seus modelos de negócio simplesmente não estão formatados para impedir a desinformação – ao contrário, servem para a promover, como fizeram constantemente com teorias da conspiração variadas. E se hoje há um grupo crescente de céticos em relação a quaisquer vacinas, isso deve-se ao Facebook e ao Youtube. Depois, claro, há todo um mundo escondido de desinformação a circular em plataformas fechadas. No Telegram e no WhatsApp circulam notícias falsas que visam apenas chocar e assustar para afastar as pessoas das vacinas. E o problema já chegou à televisão: O Reino Unido acabou de banir o canal chinês de informação em inglês que era oferecido nas plataformas de cabo, e o mesmo deverá acontecer em breve à Russia Today, por causa das mentiras que veiculam.

Muitos cidadãos continuam a comportar-se alegremente de forma irresponsável, partilhando mentiras sem preocupação com as suas consequências. É a tempestade perfeita: populações com uma década de experiência com redes sociais, a total ausência de cultura digital e literacia mediática e uma tecnologia que precisa de se propagar rapidamente. Seria bom que as entidades responsáveis pela informação pública em Portugal se preparassem devidamente. Estado, comunicação social e academia terão de ser eficazes para combater depressa e eficazmente as mentiras que vão ser propagadas. E sim, vão ser necessárias campanhas de esclarecimento público bem feitas e pensadas à medida do país em que vivemos.

Se o resto da população não estiver protegida, vacinar a mãe do padre e a cozinheira das francesinhas é irrelevante. Mas até isto é sinal da ignorância generalizada sobre o processo de vacinação. A ignorância científica é tremenda em Portugal e esse problema não tem sido minorado com a enorme quantidade de “especialistas em tudo” a verberar sobre temas que desconhecem em absoluto. A melhor maneira – talvez a única – é colocar cientistas na linha da frente do combate à desinformação. Médicos, enfermeiros, especialistas de saúde pública e técnicos no terreno devem ser os primeiros a dar a cara pelas campanhas, até porque são genericamente vistos como os mais credíveis pelos cidadãos. Mas se aquilo que eles dizem não chegar aos cidadãos, será inútil. E perdemos todos

Ler mais: O First Draft é um dos grupos mais ativos no combate à desinformação digital. O seu relatório sobre as narrativas Covid explica muito do que aconteceu e vai acontecer este ano – e devia ser de leitura obrigatória para decisores de saúde pública.

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