Marcelo não está à altura do cargo que ocupa

Marcelo nunca terá coragem para dissolver o parlamento e, por isso, não está à altura do cargo que ocupa.

Houve muitos que, ingenuamente, acreditaram que no segundo mandato tudo iria mudar e que Marcelo iria assumir as suas responsabilidades. Ao fim de um ano, a verdade dos factos veio novamente ao de cima. O Presidente de República demonstra mais uma vez estar a falhar e não estar à altura do cargo que ocupa. Em vez de se preocupar com a sua imagem e com desculpas esfarrapadas sobre estabilidade, deveria concentrar-se nos problemas que o país enfrenta. A opção que deveria fazer neste momento é óbvia: dissolver o parlamento.

O país político tornou-se uma tragicomédia. À incompetência e demagogia que caracterizaram os anos de “geringonça” juntou-se a desfaçatez, a falta de vergonha e a ausência de qualquer sentido de Estado que caracteriza a actuação do governo, e o crescente desfasamento do Presidente da República com o que é a realidade dos portugueses.

António Costa nomeou 55 membros para o seu governo em 30 de Março de 2022. Passou um ano desde essa nomeação e o governo não comemorou o primeiro aniversário. Porquê? Porque nesse curto espaço de tempos 1 em cada 4 governantes foram dispensados, ou seja, 25%. Esta instabilidade governativa poderá agravar-se em breve pois continuam em funções vários governantes que já demonstrarem não terem “estatuto” para exercer cargos públicos.

Para além disso, o governo revelou-se totalmente incapaz de apresentar uma visão para o país e parece ser liderado por um funcionário de terceira categoria que governa como quem chefia a secção administrativa de um centro de emprego. Enquanto isso, Portugal continua a atrasar-se, estando agora ao nível da Roménia.

Como se pode resumir aquilo em que se transformou a gestão da coisa pública em Portugal? Um autêntico pesadelo. Quando não há condições para o normal funcionamento das instituições nem das entidades públicas, só há uma resposta possível: os portugueses devem ser chamados a pronunciar-se.

O CDS-PP foi o único partido que teve até agora a coragem e a hombridade de exigir a dissolução do Parlamento. Já o fez em Dezembro de 2022 e voltou a fazê-lo agora pela voz do seu líder. As razões são óbvias. Os restantes partidos distraem-se com a visibilidade da inacreditável comissão sobre a TAP e com outros acontecimentos trágico-cómicos, mas deixam escapar o essencial: o desenvolvimento do país e o bem estar dos portugueses.

Perante tudo isto, o que faz o Presidente da República? Em primeiro lugar afirma que em Portugal não há alternativas ao governo, como se fosse sua competência fazer tal escolha. O Presidente não tem competência para determinar alternativas, essa competência é exclusiva do povo português, e em eleições. A principal competência do Presidente é a de convocar essas eleições, mas é logo neste principal que ele falha.

Depois, inventa desculpas para não dissolver o parlamento, como o ECO aqui noticiou. O maior argumento, o de que a marcação de eleições significa “quatro meses de paragem”, é totalmente estapafúrdio. Em artigo anterior no ECO já demonstrei que países com uma paragem longa dos governos – como aconteceu recentemente em Itália ou Bélgica – não foram prejudicados por esse facto.

Quem trabalha diariamente para aceder aos meios de vida de que necessita vai parar por causa das eleições? Claro que não. Para os portugueses que criam riqueza nada muda no seu dia-a-dia com a expectativa de eleições. Os únicos que se podem dar ao “luxo” de “cruzar os braços” são o presidente, o governo e os que vivem na sua órbita.

Isto mostra como o presidente vive noutra realidade que não a dos portugueses, pois parece preferir que hospitais, escolas, tribunais, forças armadas, polícia, segurança social ou habitação continuem a não funcionar decentemente por muito tempo a que haja “quatro meses de paragem”.

As desculpas alargam-se à crise económica e à inflação, à execução do PRR e ao facto de Portugal ter “direito a mais dinheiro” do que o inicialmente previsto, como se estas fossem razões válidas para não dissolver o parlamento. Este discurso miserabilista do ter “direito a mais dinheiro” não só desonra os portugueses como é uma vergonha para Portugal, e contrasta amargamente com as suas tentativas pífias de “levantar a moral nacional”.

Em 2017 apelei aqui para que os portugueses não votassem em Marcelo. Na altura já era evidente que o presidente não tinha capacidade de separar o essencial do acessório, e que se veria no papel de “bobo da corte” ao centrar em si as atenções através dos êxitos desportivos e das recepções em Belém em que “oferecia” a final da Champions aos médicos para os compensar pelo seu esforço. Passados seis anos, não aprendeu nada. Continua a achar que é com mais “folclore” que vai fazer os portugueses felizes.

Para além das manias que tem, Marcelo vive permanentemente com duas obsessões: a sua imagem e a estabilidade da governação. A dissolução do Parlamento colocá-lo-ia temporariamente no centro das atenções. Mas não necessariamente pelas melhores razões. A sua imagem melhoraria perante muitos à direita que não votaram nele. Mas perderia o poder de atração perante outros à esquerda que votaram nele.

Pior que isso, a estabilidade que ele persegue a qualquer custo desde que foi eleito, e que explica as justificações esfarrapadas que apresenta para não dissolver o parlamento, seria posta em causa, afectando também a sua imagem. Por estas razões Marcelo nunca terá coragem para dissolver o parlamento e, por isso também, não está à altura do cargo que ocupa.

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