O ‘Fazedor Intrépido’ do desastre

Obviamente, Portugal não precisa de carisma. Precisa de médicos e de professores. Precisa de casas. Precisa de investimento e de um crescimento económico que melhore efetivamente a vida das Pessoas.

O que Pedro Nuno Santos diz que tem para dar?

Desde logo, o “crescimento económico” que o PS deu ao país. Todavia… 66% dos contribuintes portugueses têm salários até 1000 euros. Se considerarmos os jovens até aos 35 anos, este valor sobe para 75%. Somos o 4.º pior poder de compra da Zona Euro (atrás de nós, só a Letónia, a Eslováquia e a Grécia). Tivemos o 5.º maior aumento da carga fiscal da UE (INE, 2022). O desemprego jovem é de 23%. Um em cada três jovens emigram para o estrangeiro. Há pessoas a trabalhar que vivem em condição de Sem Abrigo (coisa que até há pouco tempo nunca tinha acontecido). O Banco Alimentar reporta que responde a cada vez mais famílias. E a Classe Média, nestes 8 anos, foi exterminada – deixou de ser remediada, é agora declaradamente pobre. Não é, seguramente, esta espécie de crescimento económico que serve os portugueses.

Tem também “grande experiência de Governação”. Inegável. Os testemunhos dessa sua grandiosa experiência são variadíssimos e todos notáveis. Por exemplo, o anúncio solene que fez em direto ao país, “eu, Pedro Nuno Santos, que não tenho medo de decidir e fazer coisas várias, aproveito, que o primeiro-ministro anda pelo estrangeiro, para vos dizer, hoje, quarta-feira à noite, que decidi que o novo aeroporto já tem local, Montijo mais Alcochete, já está em despacho, está decidido”.

Quinta-feira, pela manhãzinha, diz António Costa “Não, Pedro Nuno. Já revoguei o despacho. Precipitaste-te, como de costume… Queres ficar, pede desculpas. Mas desculpas à séria, senão não dá.”. E assim fez Pedro Nuno. Desfez-se no pedido de desculpas mais patético e constrangedor de que há memória.

Na habitação, o preço das casas duplicou desde 2015. E Pedro Nuno Santos falhou a promessa de Costa de “comemorar em 2024 os 50 anos do 25 de Abril, garantindo a todos os portugueses o direito a uma habitação adequada eliminando todas as situações de carência habitacional” – à data de hoje, dos 26.000 fogos prometidos, entregou 1.400… Os fundos, da sua tutela, para a habitação acessível já pagaram mais de 3 milhões em salários… e ainda não começaram qualquer obra.

Outro exemplo, foi a revolucionária “renovação” da nossa Ferrovia com a compra para a CP de 36 carruagens… que tinham sido retiradas de circulação pela RENFE no país vizinho, por terem amianto. Vergonha. Na habitação, o preço das casas duplicou desde 2015. E Pedro Nuno Santos falhou a promessa de Costa de “comemorar em 2024 os 50 anos do 25 de Abril, garantindo a todos os portugueses o direito a uma habitação adequada eliminando todas as situações de carência habitacional” – à data de hoje, dos 26.000 fogos prometidos, entregou 1.400… Os fundos, da sua tutela, para a habitação acessível já pagaram mais de 3 milhões em salários… e ainda não começaram qualquer obra. E, termino, sem ser exaustivo, com o exemplo, que foi o derradeiro da sua experiência governativa, do processo da administradora da TAP Alexandra Reis em que Pedro Nuno Santos se “esqueceu” de que tinha aprovado uma indemnização no valor de… 500.000 euros! Este teve, apesar de tudo, a grande vantagem de, por fim, nos ter dado o descanso de ter sido “despedido”. Pelo Primeiro-Ministro que não despedia ninguém.

Também tem a maior virtude. Todos temos uma virtude mais marcante. No caso de Pedro Nuno Santos, foi ele que a atribuiu a si próprio – é o “Fazedor Intrépido”. “Mais acção! Menos conversa!” diz ele a apontar para a AD, garantindo que agora é que vai ser, agora é que ele vai fazer tudo o que ainda não foi feito… em 8 anos. “Esta é a minha forma de estar na vida!” continua. E é mesmo. Para nossa desgraça.

E tem, por fim, o defeito mais notório. Todos temos um. Este, naturalmente, ele não assume, mas é visível à vista de um cego – é a incongruência, a multiplicidade de decisões contrárias em si mesmas. Um dia viabiliza um governo minoritário da AD, no dia seguinte “mas”, “afinal”, “só se” e por aí fora, numa explicação sem fim, que não consegue, nem quer, explicar rigorosamente nada. Um dia, no debate com André Ventura, defende que o facto de três pessoas estarem detidas durante 21 dias sem conhecer as medidas de coacção “é a Justiça a funcionar”. Horas depois, pede “explicações” a Lucília Gago e exige uma reforma da justiça que, afinal, pasme-se, diz que não funciona.

No seu programa, está escrito que os médicos têm de cumprir um tempo mínimo obrigatório no SNS após concluírem especialização, e devem pagar uma compensação ao Estado se decidirem emigrar ou sair para o privado. No primeiro discurso, afinal, “são só possibilidades” e não serão aplicadas sem “negociação e aceitação prévias”. Quanto à Polícia, em 2024, logo a começar o grande debate, é o estadista herói, peito às balas, “não se negoceia sob coação”. Em 2013, a reação do PS à manifestação dos polícias, bem mais radical, foi justamente a contrária.

Não é possível, nunca, sabermos com o que podemos contar. É o que acontece sempre, quando as convicções se moldam aos ventos e às marés da opinião publicada.

Felizmente temos a Comunicação Social que cumpre com rigor a sua missão primeira de servir os portugueses com a isenção e com a verdade dos factos. Ou não?

Sinceramente, a análise política seria muito mais transparente, e muito mais esclarecedora, se os analistas se apresentassem com um crachá na lapela a indicar qual a força política da sua simpatia. Era tão mais simples. E tão mais verdadeiro. Talvez assim pudéssemos não ter de ouvir os elaborados estilos de argumentação que nos oferecem, uns mais inteligentes que outros, muita diversidade, alguns muito criativos, todos diferentes. Todos iguais. Nenhum a servir a isenção. Nenhum a servir a verdade dos factos.

Sobretudo, talvez assim pudéssemos todos perceber, finalmente, por que é que os analistas, apresentam sempre a Esquerda e os seus atores, como alguém que, à partida, está em vantagem. Porquê? Porque a Esquerda é mais virtuosa, mais bem-intencionada. É assim. Toda a gente sabe.

Já a Direita está sempre, naturalmente, atrás. À Direita falta sempre qualquer coisa. Desde logo por ser Direita. Evidentemente, é mais injusta, menos solidária, protege os ricos e carrega nos vulneráveis. Porquê? Porque é assim. Toda a gente sabe.

Não justificam de onde vieram até chegarem a este ponto prévio a tudo. Para quê, se é um dado adquirido? É preciso é que esteja subjacente a tudo o que é dito e escrito. Quando alguém pede a tal justificação – acontece muito de vez em quando, é raro aparecer alguém com dúvidas relativamente a este dado adquirido – os fundamentos são sempre de natureza vaga, subjetiva.

Mesmo os poucos analistas de direita da nossa praça, observam com escrupulosos zelo e rigor este princípio básico da análise política. Dir-se-á, ao que parece, que têm receio, quase pânico, de pisar os limites proibidos do politicamente correto. Isso é que nunca.

“Carisma” é, dos fundamentos vagos e subjetivos, o preferido. Está sempre ali à mão para justificar o injustificável. Carisma não se explica. Não se aprende. “Não se compra nas consultoras”, como diz o especialista. Pedro Nuno Santos tem muito carisma. Luís Montenegro não tem nenhum. É assim. Toda a gente sabe. Seja lá isso o que for no concreto, e admitindo que Pedro Nuno Santos o tem (deixo claro que não concordo – que isto é de achar e eu também tenho o direito), o carisma não pode apagar, nem sequer sobrepor-se às evidências.

“Carisma” é, dos fundamentos vagos e subjetivos, o preferido. Está sempre ali à mão para justificar o injustificável. Carisma não se explica. Não se aprende. “Não se compra nas consultoras”, como diz o especialista. Pedro Nuno Santos tem muito carisma. Luís Montenegro não tem nenhum. É assim. Toda a gente sabe. Seja lá isso o que for no concreto, e admitindo que Pedro Nuno Santos o tem (deixo claro que não concordo – que isto é de achar e eu também tenho o direito), o carisma não pode apagar, nem sequer sobrepor-se às evidências.

Pedro Nuno Santos foi parte activa da governação socialista que nos trouxe à situação em que estamos.

Pedro Nuno Santos tem experiência governativa, sim. Mas, desastrosa. Gosta de fazer coisas, sim. Mas não sabe fazê-las.

Pedro Nuno Santos diz e desdiz permanentemente. Ninguém assim pode oferecer credibilidade e confiança.

E, como não tem nada de seu para dizer, Pedro Nuno Santos fala fundamentalmente do seu inimigo mais importante.

O primeiro ponto básico do seu discurso é o de que a culpa de tudo o que foi mal feito, e de tudo o que ficou por fazer, nestes últimos oito anos de governos PS – um período em que recebemos mais fundos europeus do que nunca – é, evidentemente, dos governos anteriores da AD. É óbvio. Tem toda a lógica.

O segundo ponto básico – o seu foco mais fulcral – é alertar os portugueses para o perigo iminente do papão que é a AD. E desfia o rol das grandes “malfeitorias” que Pedro Passos Coelho fez aos portugueses no Governo da Troika entre 2011 e 2015 e que, “cuidado!”, a AD se prepara para reeditar: o corte de salários aos funcionários públicos, o congelamento de pensões e o aumento do IVA de 21% para 23% (esta última, curiosamente, ainda não foi revertida ao fim de 8 anos de Governação PS… Mesmo com o estrondoso “Crescimento Económico” que alcançámos). Sempre que fala, Pedro Nuno Santos repete, à exaustão, e sem consciência, esta que sabe que é a Mentira Política do Século. E esconde, sem escrúpulos, a verdade que conhece muito bem: estas mesmas 3 “malfeitorias” foram anunciadas ao país em 29 de Setembro de 2010, por Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças à data, e por José Sócrates, Primeiro-Ministro, quando perceberam que tinham conduzido o país à bancarrota e tiveram de o entregar à Troika.

Em suma, Pedro Nuno Santos faz um discurso que aposta exclusivamente na exploração cobarde de uma informação que, sistematicamente, ou é falsa, ou está em falta, ou não é plena. É sempre este o mecanismo que baseia todos os discursos do medo, da ameaça e da chantagem.

Obviamente, Portugal não precisa de carisma. Precisa de médicos e de professores. Precisa de casas. Precisa de investimento e de um crescimento económico que melhore efetivamente a vida das Pessoas. Precisa da justiça e da saúde a funcionar. Precisa de jovens a viver, a trabalhar, a amar e a serem amados de perto pelos seus.

Nota: Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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