O ódio racial no Facebook

As máquinas de fazer dinheiro de Zuckerberg continuam a lucrar com os assassínios e com o ódio que insistem em promover.

Um grupo do Facebook que incitava ao ódio contra manifestantes numa cidade dos Estados Unidos foi denunciado 455 vezes. O Facebook optou por nada fazer, até que um miúdo de 17 anos pegou numa arma e matou dois desses manifestantes. Na sexta-feira, três dias depois do assassínio, continuavam a proliferar mensagens de apoio ao assassino e até ações de recolha de fundos. No Instagram, as hashtags de apoio foram tendência diária e no Facebook vários grupos espalharam os memes que defendiam a libertação do assassino.

É uma história tristemente repetida centenas de vezes por ano. Ao amplificar as mensagens de ódio, o Facebook lucra com elas e aproveita a sua existência para reforçar ainda mais conteúdo anti-social. Nada disto é novo. Os problemas raciais dos Estados Unidos estão a ser amplificados pela dependência de redes sociais. O país está dividido, ambos os campos estão extremados e os atos democráticos estão ameaçados – Donald Trump é tanto uma consequência como uma causa deste estado de coisas, que não parecem ter fim à vista.

O crime de ódio não acontece num vácuo. O preconceito e a ignorância são construídos e promovidos de forma ativa, angariando mais apoiantes para causas que apelam às emoções mais básicas. O que o Facebook faz é alimentar com colheradas de demagogia as massas de ignorantes que não têm nada melhor para fazer, angariando os que têm tendências violentas para atuar de acordo com as indicações que vão sendo apresentadas. Assim é que grupos que promovem a defesa das cidades contra manifestantes acabam por ser doutrinários e responsáveis por um miúdo de 17 anos que pega numa arma para matar quem protesta na rua. O que é extraordinário é que aceitemos, sem questionar, que tudo isto seja promovido de forma transparente junto de todas as faixas etárias. Conteúdo que nunca seria aceite numa televisão ou num jornal é difundido e promovido especificamente junto dos utilizadores das redes sociais, que o recebem precisamente porque são suscetíveis de o consumir.

É aliás assim que funcionam os algoritmos de algumas redes sociais: dão às pessoas mais do que elas querem. E se elas querem posts racistas e odiosos, é isso que lhes é dado. Se as pessoas querem participar em grupos que fomentam o ódio e advogam teorias da conspiração variadas, é isso que lhes é dado. Adolf Hitler e Pol Pot teriam adorado usar o Facebook para espalhar as suas doses de loucura. Não precisaram dele para promover extermínios em massa, mas certamente que teriam sido muito melhor sucedidos na sua missão se o tivessem. Aliás, o próprio Zuckerberg já disse que não lhe passa pela cabeça silenciar os negacionistas do holocausto – afinal, esses também têm dados pessoais que alimentam a máquina de fazer dinheiro chamada Facebook. Hoje, até os pequenos demagogos que vamos tendo por Portugal beneficiam – e muito – com os algoritmos montados nas redes sociais. Estes megafones de discurso tornam a sua voz maior e fazem com que os populistas até pareçam pessoas crescidas.

E porque é o que o Facebook não para de alimentar estas pessoas? Porque não pode, porque isso seria negar os próprios princípios da sua existência. O Facebook alimenta-se do ódio, essa é uma das suas emoções favoritas para aumentar o engajamento dos utilizadores. Por isso é que o promove, desprezando as consequências – e por isso é que opta por externalizar a verificação de conteúdos e obedecer aos vários regimes ditatoriais, promovendo mais e mais ódio. A coisa já não é passível de mais dúvidas. Quem continua a alimentar o Facebook com a sua presença e o seu conteúdo é um cúmplice do ódio que a rede promove. Daqui a uns anos vamos todos olhar para trás e pensar, “mas que idiotice”. Até lá, continuamos alegremente a enriquecer o senhor Zuckerberg e a promover a cultura que vai corroendo o tecido social onde todos vivemos.

Ler mais: Dos muitos livros que se dedicam ao pós-verdade e ao tempo das mentiras, este destaca-se pela forma desapaixonada como trata o tema. Post-truth: How Bullshit Conquered the World é um relato seco do estado das coisas que tipifica as mentiras, aponta os responsáveis e sugere como evitar tomar parte neste estado de coisas.

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