Os três vértices da transição energética: como endereçar o trilema energético?
Como endereçar os desafios do trilema energético da segurança energética, descarbonização e preço?
Ao longo desta semana, Lisboa foi palco da conferência Lisbon Energy Summit, que reúne, em redor de temas cruciais, profissionais de referência na área energética. Muitos serão os temas, mas se pudéssemos agrupá-los num único macro assunto, capaz de estrategicamente contribuir para a solução de todos os demais, certamente este seria o “desafio do trilema na transição energética”, especialmente no cenário europeu.
Acerca deste macro tema, logo no primeiro dia de conferência, foi lançada a questão: como endereçar os desafios do trilema energético da segurança energética, descarbonização e preço?
Por transição energética entende-se a jornada — cuja urgência é imposta pelo grave cenário de alterações climáticas – para um modelo energético centrado nas renováveis e não de dependência dos combustíveis fosseis, como foi e ainda é. Importante ter em mente que outras transições, inclusivé energéticas, já foram feitas ao longo dos anos, mas o que marca esta que tanto falamos e estamos a viver é o paradigma da sustentabilidade.
Inerente à sustentabilidade ambiental, por sua vez, está a descarbonização da economia, na ordem do dia em todos os setores, mas que enfrenta especial dificuldade de implementação no caso do setor energético (protagonista na emissão de gases de efeito estufa). A dificuldade, ou o grande desafio, nesse sentido, é a conjugação ou equilíbrio da descarbonização do setor energético com outros dois aspetos essenciais: segurança energética e preço.
Não que sejam antagónicos mas, por serem aspetos de natureza distinta, os vértices do trilema requerem esforços distintos e estratégias distintas por parte das empresas. A combinação de todas elas, contudo, compõe o cenário ideal.
Para debater os desafios de acelerar a transição energética e atingir as metas de descarbonização sem pecar na segurança energética ou tornar o preço da energia alto (e até mesmo inacessível) grandes C-levels estiveram reunidos: Filipe Silva (CEO Galp), Miguel Stilwell d’Andrade (CEO EDP), Cornelius Matthes (CEO Dii Desert Energy), Sébastien Clerc (CEO Voltalia), João Manso Neto (CEO Greenvolt) e Christian Pho Duc (CTO Smartenergy).
Todos os executivos reconheceram o desafio constante de incorporar o trilema em suas decisões estratégicas e a urgência da descarbonização do setor, mas de formas distintas foram abordadas questões importantes, tais como:
- A segurança energética sempre foi relevante e estratégica, sobretudo para autonomia e soberania dos países, mas ganhou ainda mais relevo no contexto pós-invasão da Ucrânia. O nível de dependência energética da Rússia passou a ser avaliado com cautela pelas nações, e uma questão importante levantada no debate foi a de que o não ter gás proveniente da Rússia pode significar que a sustentabilidade pode ficar de alguma forma comprometida, pois este terá, supostamente e na visão de alguns, que ser produzido de outra forma para garantir a segurança energética, (o que implicaria em novas emissões de GEE e a contramão da descarbonização). De acordo com a International Energy Agency (IEA) a dependência do gás russo na União Europeia aumentou consideravelmente na última década e atingiu os 32% em 2021.
- Por outro lado, e ainda no tema da segurança energética, o aumento e aceleração de fontes renováveis de energia contribuem para a autonomia e independência dos países. Se no passado as energias renováveis estavam somente atreladas ao aspeto da descarbonização e sustentabilidade, hoje já são também grande parte da solução que pode contribuir para a segurança energética. Também de acordo com a IEA no seu relatório de investimentos do setor lançado neste mês, o investimento em renováveis teve um crescimento exponencial pós-covid e atingiu os 1700 biliões de dólares em 2022, com aumento previsto para 2023.
- Em relação ao preço ou acessibilidade da energia foi mencionada a notória evolução da competitividade das fontes renováveis, que mediante desenvolvimento da tecnologia se tornou possível. Há fontes mais maduras do ponto de vista tecnológico e de infraestrutura (nomeadamente solar e eólica) do que outras, mas é necessário continuar a investir a fim de garantir que a energia a partir dessas fontes renováveis continua a atender o critério preço, tanto para o consumidor final (a fim de atender também a justiça energética) quanto para o investidor (na lógica de manter a atratividade destes projetos)
A descarbonização foi destacada como incontornável e uma exigência de toda cadeia produtiva que envolve o setor energético, que compreende não só a geração ou produção de energias a partir de fontes renováveis (aspeto mais famoso) como também investimento em redes que sejam mais resilientes e resistentes. Neste sentido, a descentralização do setor energético e o aumento da geração distribuída de energia foi realçada como tendência irreversível e que contribui para os três vértices aqui mencionados, mas que precisa ser acomodada e gerar adaptações na rede.
A mensagem final, em resposta à questão inicial foi: mix. Somente por via do mix de fontes de energia e da diversificação dos investimentos em tecnologias e infraestrutura, é que se torna possível equilibrar o trilema energético, e não deixar de endereçar a urgência pela descarbonização, sem comprometer a segurança energética ou o acesso à energia devido ao preço.
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