Para as marcas o jogo é sério

Por cá sinto que estamos ainda fora de jogo, ou pelo menos, com muitos níveis para ultrapassar para chegar ao nível de sofisticação com que as marcas já atingem os "gamers" na China.

“This new video game lets you do nothing in particular in a suburban Russian tower block”. Entrei já tarde no artigo de onde retiro este título, mas ainda a tempo de explorar este projeto russo, a que chamam de “discreto” quando os gráficos e o universo do gaming se tornaram demasiado sofisticados. Aqui, há detalhes mundanos e não há espaço para aventura. Quando saiu, questionou-se se seria o futuro do gaming“It’s Winter” é melancólico, é indie e é um jogo imersivo criado por Alexander Ignatov e Ilia Mazo. É o que se chama de “sandbox” em que o jogador é livre de circular pelo mundo criado, neste caso “a post-Soviet and sad 3D”, e realizar tarefas mundanas como preparar uns ovos e uma torrada.

Uma visão poética (não fosse “It’s Winter” também um poema de Mazo) de uma indústria de muitos milhões e que não representa, ao que parece, o futuro. Quando alguns países reabrem e outros voltam ao lockdown, percebe-se que o gaming é um jogo sério para o futuro dos negócios. Depois da Gucci (que durante o primeiro confinamento se estreou num jogo de ténis), esta semana foi a Burberry e a Tesla a entrar em campo. A marca inglesa desenhou “a pele”, ou seja, a roupa usada por personagens nos jogos, da Yao, uma heroína do “Honor of Kings”, que é um verdadeiro caso de sucesso na China. As peças foram desenhadas pelo próprio diretor criativo da Casa inglesa Riccardo Tisci e poderão ser compradas naquele mercado. Tal como aconteceu com a Gucci, em que podíamos comprar as peças que usávamos no jogo de ténis, aqui também os consumidores/jogadores poderão comprar as peças vestidas por Yao – (resta esperar para ver como corre a parceria agora com a notícia do boicote a algumas marcas ocidentais.)

O luxo parece estar a encontrar no gaming um canal estratégico para comunicar e claro vender os seus produtos às novas gerações. E o que parecia apenas uma pequena jogada, na China é um negócio sério, sendo atualmente o maior mercado de jogadores online. Para muitos vestir no jogo uma peça com o monograma TB (Thomas Burberry) – ou seja, entrando no campeonato da moda digital, é um primeiro contacto com a marca que não se esquece. O que há também de curioso neste movimento é que, por um lado o luxo democratiza-se através do gaming e qualquer jogador pode vestir uma peça da marca virtualmente; mas por outro lado, dados da Bloomberg Intelligence revelam que os “gamers” chineses estão entre as classes mais altas, logo com maior capacidade financeira e perfil para o consumo de luxo.

Por cá sinto que estamos ainda fora de jogo, ou pelo menos, com muitos níveis para ultrapassar até chegarmos ao nível de sofisticação com que as marcas já atingem este segmento jovem e nativo digital no mercado chinês. E a tendência pelo que vou lendo, está aí para continuar…Não terá sido por acaso que a Balenciaga apresentou a sua coleção de Inverno 2021 em formato de vídeo game: “The Age of Tomorrow” já foi descrito como “um salto quântico para a moda”.

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