Paulo Rangel e a papa Maizena
Rui Rio veio dizer que Paulo Rangel não está preparado para ser primeiro-ministro. Foi a reedição de uma frase que já tem mais de 10 anos: “Paulo Rangel ainda tem de comer muita papa Maizena”.
Enquanto António Costa prepara terreno para uma maioria absoluta ou uma maioria que dependa de partidos mais previsíveis e menos radicais como o PAN, no PSD os candidatos a líder continuam entretidos a dizer mal um do outro.
Numa entrevista à RTP3 esta quarta-feira, Rui Rio foi taxativo sobre o seu adversário: “Paulo Rangel não está preparado para ser primeiro-ministro. Como é evidente”.
Este episódio faz lembrar um outro, há mais de 10 anos, quando Paulo Rangel era líder parlamentar do PSD e candidato às eleições europeias de 2009. Na altura, Rangel entrou numa polémica com Basílio Horta porque o social-democrata propôs criar um programa que permitiria aos jovens à procura do primeiro emprego candidatarem-se noutros países da Europa, e até sugeriu o nome de “Vasco da Gama”.
O problema é que já existia na AICEP, então liderada por Basílio Horta, um programa parecido e com o mesmo nome. Foi no meio desta guerra entre Basílio e Rangel que apareceu o então ministro da Economia Manuel Pinho a proferir uma daquelas frases disparatadas, mas que entrou para o léxico da política nacional: “O Paulo Rangel tem de comer muita papa Maizena para chegar aos calcanhares do Dr. Basílio Horta”.
Foi mais ou menos isso que Rui Rio disse a Rangel na RTP3. Depois de quatro anos na oposição “a comer muita papa Maizena”, Rui Rio argumenta que um candidato a primeiro-ministro não se faz em 60 dias. E deu os exemplos das derrotas de Mota Pinto, Almeida Santos e Ferro Rodrigues que se propuseram ir a legislativas poucos meses depois de serem líderes dos respetivos partidos.
Não sei se Rangel está ou não preparado para ser primeiro-ministro; isso caberá aos militantes do PSD decidirem, a 27 de novembro e, se for eleito líder, aos portugueses, a 30 de janeiro. O que Paulo Rangel não parece estar certamente preparado é para ser líder da oposição.
Paulo Rangel fez bem em erguer um muro à direita do CDS e merece elogios porque, ao contrário de Rui Rio, não foi ambíguo em relação a um eventual acordo com o Chega para o pós-eleições. Um partido de matriz social-democrata, como o PSD, não pode fazer alianças e acordos com um partido antissistema, populista e xenófobo como o Chega. Não são farinha do mesmo saco.
Onde Rangel esteve francamente mal foi a erguer um muro à sua esquerda, ao descartar acordos com o PS se nenhum partido conseguir maioria absoluta. Ao erguer esse muro, Rangel está a entrincheirar-se com o CDS e o Iniciativa Liberal num buraco sem canais de comunicação, à direita e à esquerda.
A última sondagem da Católica dá a estes três partidos, juntos, 37% dos votos, abaixo dos 39% do PS sozinho. Se porventura o PSD conseguir dar a volta às sondagens e ganhar as eleições, mas não conseguir fazer maioria com o IL e o CDS, como irá governar o país? Vamos andar em eleições de seis em seis meses?
Aqui Rui Rio esteve bem. O líder do PSD, na mesma entrevista à RTP3, disse estar disponível para negociar com o PS, CDS e com o Iniciativa Liberal, e tem um argumento válido. Se os social-democratas criticaram António Costa por ter dito que o seu Governo cairia no dia em que precisasse do PSD para governar, fazer o mesmo seria incoerente e irresponsável. O próprio António Costa já arrepiou caminho e admitiu, numa outra entrevista esta semana à RTP, “estar disponível para negociar com o PSD”.
António Costa e Rui Rio são ambos políticos experimentados e que já comeram muita papa Maizena. Com um sistema político cada vez mais fragmentado, se PS e PSD adotassem a postura de Rangel, o país arriscar-se-ia a ficar ingovernável. É trigo limpo, farinha amparo.
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