Pedro Silva Pereira… Com profunda tristeza
Pedro Silva Pereira é o melhor retrato de um Portugal que, infelizmente, ainda não conta na União Europeia, de uma União Europeia desgovernada e de um PS que ainda é o de José Sócrates.
A 3 de Julho fez-se festa em Portugal. Mais um português a ‘singrar no estrangeiro’… Pedro Silva Pereira foi eleito 2º Vice-Presidente do Parlamento Europeu. Parabéns a António Costa, que não achou bastante impor, de novo, aos portugueses, os governantes co-responsáveis pelas irresponsabilidades políticas de José Sócrates. Entre eles, Ferro Rodrigues, Vieira da Silva, Augusto Santos Silva. Para além, naturalmente, do próprio. Não. António Costa quer mais. Não só vai mantendo os meninos de ouro em funções como lhes trata da evolução de carreira. E, assim, temos, a partir de agora, mais um grande ativo europeu em Pedro Silva Pereira. Nunca tínhamos ganho uma 2ª Vice-Presidência, note-se. O país inteiro está maravilhado, orgulhoso com um português em mais um cargo importante da Europa. E muito agradecido a Costa. O nosso soberano da negociação que acaba de impor a todos os Estados-membros da União Europeia a tralha socrática que desgraçou o País. Viva!
Pois bem, a nomeação de Silva Pereira para a Vice-presidência do PE traz-me, agora a mim, que também tenho o direito, um sentimento de profunda tristeza.
Porquê? São três as razões.
A primeira é a de que esta nomeação é a prova de que, infelizmente, Portugal é insignificante na definição da política europeia. Parece uma contradição, admito. Se um Português foi eleito 2º Vice-Presidente do Parlamento Europeu é porque nos encontramos no centro da decisão europeia, certo? E, se o nosso habilidoso primeiro ministro até um afiliado socrático consegue impingir aos europeus, é evidente que estamos no centro da Geopolítica Europeia. Ou não?
Na verdade, ter sido braço-direito do primeiro ministro que mergulhou Portugal na sua maior crise financeira é, em condições normais, razão mais que suficiente para que Silva Pereira deva ser afastado de funções na política nacional. Quanto mais da de vice-presidente do Parlamento Europeu…
Note-se que não é preciso que se venha a confirmar que:
- Carlos Santos Silva, o heterónimo de José Sócrates, pagou os 14,8 mil euros da estadia de dois meses ao filho de Silva Pereira, em Paris; i
- Os 98,4 mil euros que Ana Bessa – mulher de Silva Pereira – recebeu de uma empresa de Santos Silva foram remuneração de serviços que ela nunca prestou;
- As 45 vezes que o nome da mulher de Silva Pereira aparece na acusação do Processo Marquês tem alguma implicação penal;
- Silva Pereira e a mulher agiam como um só;
- Silva Pereira, na companhia de outros, jantou, durante dois anos, na Tertúlia do Paço à conta de Sócrates (ou de Carlos Santos Silva…).
Não é disto que estou a falar. Até porque não defendo que ter feito parte dos Governos de José Sócrates seja uma condição automática para que se tenha tomado conhecimento dos alegados sucessivos escândalos de corrupção, ou neles ter participado. A presunção de inocência, por não ser beliscada, não tem aqui nenhuma aplicação.
Falo só, insisto, do facto de Silva Pereira ter sido braço-direito de José Sócrates nos seus Governos. Porque, insisto, só esta razão, é mais que suficiente. Por que será, então, que Silva Pereira passou no crivo europeu (se é que ele existe)? Justamente, porque somos insignificantes.
Os decisores europeus não conhecem Silva Pereira. Não o conhecem porque Portugal não lhes suscita interesse. Em Bruxelas parece não haver ninguém com vontade de abrir um jornal português. Não somos importantes, ainda que António Costa venda a ideia oposta. Caso contrário, Silva Pereira nunca poderia ter sido eleito Vice-Presidente do Parlamento Europeu.
Esta primeira razão leva-nos à segunda. A ausência deste crivo na eleição de Silva Pereira evidencia, mais uma vez, que a União Europeia está totalmente desnorteada. Todos os Europeus que votaram nos eurodeputados que votaram em Silva Pereira, se tivessem consciência do seu infeliz currículo político, jamais voltariam a votar neles.
A mensagem é, lamento, substancialmente pior. Não temos apenas um conjunto de eurodeputados ignorantes que não sabe quem é Silva Pereira e, professando esta e outras ignorâncias, se limita a votar de acordo com os resultados das negociações levadas a cabo pelos seus agrupamentos partidários. Temos também um conjunto de eurodeputados que dá mostras aos cidadãos europeus de que a meritocracia, basilar em qualquer sistema Democrático, não é tida nem prosseguida pela União Europeia.
Não conheço o currículo dos outros talentosos eleitos para a vice-presidência. Só conheço, como todos os portugueses, o de Silva Pereira. Que está longe de ser politicamente recomendável. (Apesar de, note-se em seu favor, Silva Pereira ser Comandante da Grã-Cruz da Ordem Real da Estrela Polar… Uma comenda atribuída por Sua Majestade o Rei da Suécia, a 23 de abril de 2008. Não encontrei nas minhas pesquisas a concreta justificação para a atribuição desta comenda. Terá sido, provavelmente, por bons serviços que Silva Pereira, e o seu Governo, prestaram à Suécia nesses tempos. Não terá sido a Portugal.)
E chego, por fim, à terceira razão para esta nomeação me trazer tão profunda tristeza – a total desresponsabilização com que se faz política em Portugal que ela evidencia.
Quem esteve com José Sócrates no Governo foi, direta ou indiretamente, responsável pela quase bancarrota em que Portugal se viu mergulhado. É responsável pelas consequências financeiras e sociais que tivemos, todos, de viver à força.
Esta responsabilidade, ativa ou passiva, deveria significar consequências nas carreiras políticas dos figurantes dos Governos da falência. Mas não. Pelo contrário. A direita foi chamada a aplicar o pacote de assistência financeira, cuja necessidade foi criada pelo PS. Para depois, os mesmíssimos quadros do PS – sem nunca terem sequer esboçado um pedido desculpa aos portugueses – virem dizer, orgulhosamente, que Portugal está hoje muito melhor. O que, obviamente é discutível. Quem não reconhece os erros, está, à partida, predisposto a repeti-los.
No concreto caso de Silva Pereira não há dúvidas de que a responsabilidade foi direta. Era o homem forte de Sócrates. Pior, Silva Pereira queria mais Sócrates. Provam-no as suas declarações de maio de 2018 em que diz que o seu abandono como militante “não era inevitável”. Ficámos, com isto, a saber que, para Silva Pereira, viver à custa de um amigo, na ordem de grandeza com que José Sócrates vive(u), e admiti-lo despudoradamente, desde que não esteja provado que o dinheiro tem origem criminosa, está dentro do quadro ético aceitável. É isto o nosso ilustre 2º vice-presidente do Parlamento europeu.
No Circulatura do Quadrado [TVI24] desta semana, Pacheco Pereira perguntou a António Costa se o Partido Socialista não tinha nenhuma explicação a dar aos portugueses sobre o porquê de ter permitido carreiras da importância das de José Sócrates no seu interior. Em resposta, Costa garantiu que as pessoas dentro do PS não conheciam os factos e que a postura do PS se baseia na presunção de inocência.
Para o futuro de Portugal, a resposta que António Costa deu a Pacheco Pereira é poucochinha. Em relação à presunção de inocência deve-se considerar, por exemplo, que Armando Vara, por já estar a cumprir pena de prisão, não deveria gozar dela. Mas goza. António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, ainda não iniciou o processo de expulsão de Armando Vara do PS. Fá-lo, decerto, pela mesma razão por que continua a tratar José Sócrates por engenheiro, quando é já oficial que o não é. O cenário de manutenção de Vara como militante do PS, sem que nenhum socialista (quiçá à exceção de Ana Gomes) se apoquente, justifica a necessidade da pergunta de Pacheco Pereira.
Carreiras da Importância das de Sócrates são permitidas neste Partido Socialista porque, para eles, a responsabilidade e responsabilização políticas têm sido uma inexistência. A meritocracia idem. O desconhecimento, que, para os alegados crimes de Sócrates, pode servir de desculpa aos seus homens de Governos, não lhes pode valer relativamente aos atos políticos que desgraçaram o País. Porque estavam lá. Eram governantes, foram responsáveis pelo Estado em que deixaram Portugal em 2011. A vergonha deveria ser suficiente para que Silva Pereira se afastasse da política. Lamentavelmente, não a teve. Nem Silva Pereira nem ninguém. As pessoas são as mesmas e Pedro Silva Pereira, o menino de ouro do menino de ouro, já é vice-presidente do Parlamento Europeu. Viva Portugal!
Caríssimo Pacheco Pereira, a ausência de responsabilização política é o quadro confortável que este PS defende. Contra tudo e contra todos. E é este quadro que sustenta o facto da responsabilidade política não dizer nada a este Partido Socialista. Porque só neste quadro é possível que carreiras da importância das de José Sócrates germinem e floresçam no Partido Socialista. É esta a resposta à sua pergunta.
Pedro Silva Pereira é o melhor retrato de um Portugal que, infelizmente, ainda não conta na União Europeia, de uma União Europeia desgovernada e de um Partido Socialista que ainda é o de José Sócrates. São estas as três razões que me trazem tão profunda tristeza.
PS: Depois de ler o artigo de João Miguel Tavares no Público sobre o novo vice-presidente fiquei a saber que Silva Pereira, que acompanha José Sócrates desde a sua primeira nomeação para Ministro do Ambiente, foi referido na biografia oficial de José Sócrates (O Menino de Ouro do PS) como o homem em quem José Sócrates “mais confia” e o seu “mais próximo conselheiro”. Para Campos e Cunha, três meses foram suficientes para traçar o perfil de José Sócrates. Não deixa de ser estranho que, para Silva Pereira, tantos anos não tenham chegado. Ou terão chegado? Em 2014, na altura da detenção de José Sócrates, o sentimento de Silva Pereira era o de “profunda tristeza”. Descreveu, na altura, a sua detenção como “um momento difícil, para o engenheiro Sócrates certamente, mas igualmente para todos os seus amigos que são muitos em Portugal e no estrangeiro.” Igualmente, talvez para uns. Para outros, nem tanto.
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