Pensar a comunicação para estarmos mais próximos

  • André Costa
  • 8 Abril 2020

A evolução das plataformas digitais no passado recente e a transformação dos comportamentos dos públicos reforçam esta tendência de centralização da comunicação no recetor como um agente único.

A comunicação é um desafio vivo, mutável e apaixonante. Muda o contexto, mudam as variáveis e há uma aprendizagem para percorrer. Quando comunicamos presencialmente não ignoramos a personalidade, a história ou o contexto do nosso recetor. A comunicação digital deve seguir a mesma lógica porque serão estes elementos que nos permitirão fazer sentir e estar mais ou menos próximos das pessoas que queremos impactar. Mas será que os líderes e gestores de equipas estão a pensar sobre a sua forma de comunicar no período de adaptação ao contexto da covid-19?

Assim que a pandemia remeteu as pessoas para o teletrabalho, os gestores e líderes de equipas começaram a esfregar as mãos para preparar a adaptação a uma nova forma de comunicar. Agora, mais do que nunca, este verbo e a sua concretização prática serão determinantes no sucesso da missão dos líderes nas empresas.

Os gestores de equipa já há muito perceberam que a comunicação interpessoal requer uma abordagem personalizada. O indivíduo/recetor, a sua envolvente, o seu histórico de interações e a sua personalidade são cruciais para a definição da postura que os responsáveis pelas equipas acabam por adotar. É a partir destes dados que escolhem a forma de “embalar” a mensagem, o canal preferencial para a sua transmissão e o momento ideal para a entrega da mesma.

A evolução das plataformas digitais no passado recente e a transformação dos comportamentos dos públicos (sejam internos ou externos) reforçam esta tendência de centralização da comunicação no recetor como um agente único. Quanto mais personalizada e única é a experiência, melhor é a reação, o envolvimento, a lealdade e a retenção das pessoas.

Ao cabo de algumas semanas a trabalhar neste regime de teletrabalho, é possível (e interessante) perceber como a comunicação está a ser interpretada pelas pessoas e executada pelos gestores de equipas nas empresas.

Numa primeira fase assistimos a uma intensificação das trocas de mensagens e ao redobramento de esforços para encontrar todos os canais, plataformas, softwares e dinâmicas que possam suprimir a sensação de perda de proximidade. O recurso às videochamadas e às chamadas de áudio intensificaram-se naturalmente. Vemos o LinkedIn preenchido por exemplos demonstrativos de adaptação aos novos tempos e sátiras ao contexto em que vivemos. Tudo serve o esforço de estar próximo, em contacto permanente e com ideias alinhadas e coerentes nas equipas.

"Os canais de comunicação digitais agora utilizados são os mesmos de há algumas semanas, mas sua utilização deixou de ser tão pensada. Porém, os recetores continuam a ser agentes únicos.”

É neste esforço também que começamos a perceber alguns pontos que ficam para trás. Os canais de comunicação digitais agora utilizados são os mesmos de há algumas semanas, mas sua utilização deixou de ser tão pensada. Porém, os recetores continuam a ser agentes únicos. Todos eles continuam a ter personalidade, um comportamento resultante, em parte, das experiências ao longo do seu histórico de interações, um contexto próprio e singular e expectativas de uma interação única e alinhada com as suas expectativas.

Tendo isto por base torna-se urgente manter presentes as necessidades de ponderar a frequência das comunicações, o canal escolhido e os símbolos utilizados para codificar a mensagem. O emoji ou a vírgula no sítio errado são tão nocivos como uma entoação mal dada numa interação presencial. A interrupção de tarefas por uma videochamada não programada é tão desadequada como a interrupção de uma conversa presencial que já estava a acontecer. A marcação de uma call sem um propósito claro é tão contraproducente quanto a marcação de uma reunião que podia facilmente ser um email.

Assim, chegamos facilmente à conclusão de que não faz sentido adotar a mesma abordagem para destinatários que são diferentes. Não é aconselhável perder a racionalidade, a preparação e a ponderação que tínhamos na comunicação interpessoal. Devemos, pelo contrário, estudar, adaptar e reforçar esses cuidados. Não deixemos que o imediatismo dos cliques e a voraz velocidade do digital nos iludam. Encaremos todos as interações digitais com a mesma ou até maior atenção com que nutrimos as relações até há bem pouco tempo no escritório.

Este é o caminho de aprendizagem que estamos todos agora a percorrer e ele vale a pena, porque ali na meta está a proximidade que todos queremos alcançar na comunicação com as nossas pessoas.

*André Costa é brand developer da Fabamaq.

  • André Costa

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