Editorial

Porque é que as empresas teimam em decidir por si próprias?

Há gestores e empresas que decidem sem pedir autorização aos governos. E isso continua a causar estranheza. Só isso explica a pergunta retórica de Rui Rio sobre a Google.

É a política que temos. Um primeiro-ministro ataca a EDP e a Altice em pleno Parlamento, um líder do PSD questiona o governo sobre a escolha de uma empresa multinacional por Lisboa (por sinal, escolheu Oeiras…). E quando é que percebemos que não cabe ao Estado substituir-se às empresas nas suas opções, sobretudo ou especialmente quando não há qualquer envolvimento de dinheiros públicos? E quando é que contribuímos para uma separação clara entre os governos e as empresas. E quando é que libertámos a sociedade civil – e empresarial – da necessidade de correr para os braços dos governos?

Esta semana, Ricardo Arroja escreveu no ECO sobre o ‘liberalismo de Estado” de Rui Rio. Não foi necessário esperar muito para se mostrar uma análise tão acertada. E desta vez, nem precisou da ajuda do governo… O ministro-adjunto Pedro Siza Vieira veio repetir o que já tinha sido dito, o governo não decidiu a localização da Google. Sim, por estranho que possa parecer, há empresas que decidem sem a intervenção dos governos, que fazem opções em função dos seus interesses, sem pedirem ao Estado que decida por elas.

Portugal é uma localização privilegiada para as operações chamadas de ‘nearshore’, isto é, uma localização privilegiada e competitiva para os investimentos em centros de serviços, de partilha e de outsourcing, que são mais, muito mais, do que call centers. É isso que explica a opção de empresas como a Mercedes, a Uber, o BNP Paribas, a Google ou a Amazon. Por duas ordens de razões: custos e qualificações. E somos dos melhores nas duas.

Vamos continuar a assistir a estes investimentos, como outros de empresas que decidiram investir em Portugal, casos da Altice ou do Lone Star. E poderia citar tantas outras. E estas empresas não investem em função dos governos em função, mas das oportunidades, sim, de lucros (e não é preciso ter medo ou vergonha das palavras). Desde que cumpram as regras. Vêm à procura de rentabilidade superior à que teriam noutros países, que também os querem, num quadro de estabilidade política e económica. Ou têm dúvidas que a Altice ou o Lone Star teriam outros países e outras oportunidades? Estes são, aliás, dois exemplos de operações que não têm merecido os elogios das elites, das políticas, mas também das empresariais, e uma das razões será precisamente porque são ‘business oriented’, e isso é o melhor que nos pode suceder. Não se mexem nestes circuitos, e isso é uma coisa a que os nossos políticos não estão habituados. Temos a experiência dos que se preocupam, dos que correm permanentemente para São Bento ou para a Praça do Comércio, e sabemos os resultados obtidos.

Esquerda ou direita? Não. Coletivismo ou liberdade individual? Sim. Os governos, os líderes políticos, não podem nem devem esperar uma capacidade de intervenção nas decisões destas empresas, devem sim criar as condições para que Portugal esteja no seu radar. Já não é pedir pouco. E se o fizerem, já cumprem o seu dever.

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